Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Antonio Candido e Mário de Andrade: dois encontros

Em 2018, ano de seu centenário, Antonio Candido foi o mais recente homenageado pelo programa Ocup...

Publicado em 28/08/2018

Atualizado às 18:02 de 16/08/2022

Em 2018, ano de seu centenário, Antonio Candido foi o mais recente homenageado pelo programa Ocupação, do instituto Itaú Cultural, que também já teve como tema Mário de Andrade, em 2013. O primeiro encontro entre o intelectual e o poeta e escritor, no entanto, se deu na intermediação da aquisição do acervo de Andrade pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).

Veja também:

>> Conteúdo sobre a Ocupação Antonio Candido

Criado em 1962, pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, o IEB, equipamento da Universidade de São Paulo (USP), tem como desafio fundador a reflexão sobre a sociedade brasileira, envolvendo a articulação de diferentes áreas das humanidades. Para tanto, estão sob sua responsabilidade a guarda e a manutenção de um acervo formado por um expressivo conjunto de fundos pessoais – constituídos em vida por artistas e intelectuais brasileiros –, que estão distribuídos entre o arquivo, a biblioteca e a Coleção de Artes Visuais[1]. Mas essa aptidão de preservação de um acervo tão múltiplo e rico atingiu o atual status com a intervenção e a indicação de Candido para a guarda da coleção pessoal de Mário de Andrade pelo IEB.

Andrade foi um dos mais importantes intelectuais da história do Brasil e grande responsável por pensar a identidade brasileira a partir da cultura popular em suas pesquisas. Artista, escritor e gestor cultural, o paulistano reuniu, a partir de seus estudos, uma incrível quantidade de documentos e objetos referentes à arte e à cultura popular nacional[2]. Tal acervo, como nos conta Elisabete Marin Ribas, supervisora técnica do Serviço de Arquivo do IEB, serviu de base para a constituição do escopo de trabalho do instituto. “O chamado ABC do IEB – arquivo, biblioteca e coleção de artes – toma corpo graças à incorporação do acervo de Mário de Andrade, composto de sua biblioteca, com seus livros, revistas e partituras; sua documentação, que até hoje compõe seu arquivo pessoal com originais de obras; sua preciosa coleção de cartas e fotografias, entre outras tipologias; além de sua coleção de objetos de artes, com esculturas, gravuras, desenhos, pinturas”, explica.

Em 1966, apenas quatro anos depois da fundação do IEB, Candido dirigiu ao então diretor do instituto, o professor José Aderaldo Castello, uma carta na qual lhe apresentava sua ideia de que o local teria potencial e perfil para receber um Centro de Estudos sobre o Modernismo. Em suas próprias palavras:

[...] o Centro deveria reunir documentação que possibilite aos estudiosos, nacionais e estrangeiros, investigar um movimento decisivo em nossa vida contemporânea, aproveitando as oportunidades que ainda existem, por estarem vivos, ou recentemente mortos, alguns dos principais protagonistas do mesmo. Ao mesmo tempo, poderia centralizar a atividade dos que já estudam a matéria, seja do ângulo estritamente local, seja da literatura comparada, como é o caso das bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa que, como é do seu conhecimento, venho orientando neste setor, e que estão procedendo ao levantamento e análise da biblioteca ricamente anotada de Mário de Andrade.

E, aproveitando o ensejo, Candido continua:

A este propósito, tomo a liberdade de fazer uma segunda sugestão, para a qual desejaria chamar a atenção [...]: que o mesmo estude a possibilidade de incorporar ao seu patrimônio o magnífico acervo constituído em vida por esse eminente escritor e homem público, composto de biblioteca com cerca de 15.000 ou 16.000 volumes, arquivo e fichários, preciosas coleções de desenhos, gravuras, imagens, ex-votos, quadros e esculturas. O conjunto se encontra ainda intacto e zelosamente custodiado por sua Família na própria casa em que residiu [...].

De acordo com Elisabete, essa carta serviu de base para que Castello apresentasse a proposta ao conselho do instituto e, em seguida, à Reitoria da Universidade, que realizaria a aquisição do conjunto. O acervo foi transferido da casa de Mário de Andrade para o IEB em 1968.

Detalhe da Ocupação Antonio Candido, que ocorreu no Instituto Itaú Cultural entre maio e agosto de 2018
Detalhe da Ocupação Antonio Candido, que ocorreu no Instituto Itaú Cultural entre maio e agosto de 2018

Antonio Candido foi "um leitor preciso, que admirava escritores como Guimarães Rosa e Marcel Proust”. Crítico literário e sociólogo, o intelectual

é uma das maiores referências no estudo da literatura no Brasil e, pelas suas percepções das dinâmicas nacionais, é considerado um dos conhecedores do país, ao lado de nomes como Sérgio Buarque de Holanda – que foi seu amigo – e Gilberto Freyre[3].

Entusiasta de uma literatura como necessidade fundamental aos seres humanos e, portanto, um direito universal, Candido atuou de forma decisiva na aquisição do fundo Mário de Andrade pelo IEB, local de acesso público. Desta forma, demonstrou uma atuação em consonância com sua história. O acervo é consultado por pesquisadores de diversas áreas, acadêmicos, professores de educação infantil e ensino fundamental. De acordo com Elisabete, o público não especializado em literatura e educação também o procura.

Para realizar uma consulta ao acervo, que funciona apenas com agendamento prévio, pesquisadores, professores ou o público em geral devem entrar em contato pelo e-mail arquivoieb@usp.br.

 


[1] http://200.144.255.123/Imagens/Revista/REV001/Media/REV01-13.pdf

[2] http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/mario-de-andrade/

[3] http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/antonio-candido/antonio/

Compartilhe