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Casa do Mancha | Série ‘Casas de show’

O idealizador e proprietário Leonel Mancha nos recebeu e contou que o espaço é um pouco mais que uma casa de shows e falou de curadoria e...

Publicado em 07/08/2015

Atualizado às 10:13 de 03/08/2018

Percorrendo a cena musical paulista para a série de entrevistas que investiga casas de shows em São Paulo, o Observatório Itaú Cultural foi até a Vila Madalena conversar com Leonel Mancha, idealizador e proprietário da Casa do Mancha. Ele nos recebeu, contou que o espaço é um pouco mais que uma casa de shows e falou de curadoria e música independente. Confira a seguir!

OBS: Como é a gestão dos recursos para o funcionamento da casa?

Mancha: Nossa postura sempre foi de um laboratório musical que trabalha em várias plataformas, tendo a música independente como linha-guia. Existem períodos em que nosso trabalho está voltado para a gravação de artistas; em outros, para a produção de shows, a composição de trilhas sonoras etc. Não limitar a atuação da casa é imprescindível para viabilizar recursos que sustentam nossa estrutura.

Hoje, ser independente na música é um fato comum. A todo momento surgem novos artistas e novas bandas. Fale um pouco sobre o recorte para que o artista ou a banda se apresentem na Casa do Mancha.

Como minha formação musical é calcada no rock e em suas derivações, meu conhecimento me permite avaliar melhor uma banda que transite nesse universo. Porém isso não limita o recorte da casa, que já abrigou shows de samba e rap, entre outros estilos. Nossa busca é por artistas que tenham referências musicais fora do lugar-comum e que procuram evoluir a linha estética que decidiram seguir.

Mais que um espaço para shows, a Casa do Mancha é uma casa de música. Vocês atuam em outras frentes além dos shows, como a gravação de videoclipes e a gravação e produção de discos. Quais são as dificuldades e as facilidades de um selo independente hoje em dia? E conte um pouco sobre esse outro lado da casa.

A casa nasceu de um home studio e nunca deixou de gravar. As apresentações vieram depois para suprir uma demanda, dado que existiam poucos lugares para que bandas de pequeno porte realizassem shows na cidade. Os trabalhos em vídeo surgiram como forma de registro desse cenário que começa a se consolidar como uma nova pequena economia alternativa – e, por causa da qualidade do material apresentado, acabaram virando uma nova frente de atuação.

Não somos um selo, porque não lançamos ninguém no mercado. Trabalhamos no processo anterior, de criação e produção. Por termos um funcionamento heterogêneo, atuando em diversas frentes, não trabalhamos de maneira segmentada com especialistas para cada área. Todo mundo que trabalha na casa necessariamente sabe fazer de tudo um pouco. Hoje, quem está operando a mesa de som durante uma gravação amanhã estará preparando drinques no bar.

Isso faz com que nossas dificuldades sejam facilmente contornadas com uma mudança mínima de percurso. Nesse modelo, é mais importante a oxigenação de ideias de quem está trabalhando do que um conhecimento específico sobre determinado aspecto do trabalho.

Em São Paulo, hoje, a cena musical tem se concentrado em pequenas e médias casas de show. Esse fato, de algum modo, tem reverberado há algum tempo. O próprio Caetano Veloso, alguns anos atrás, quis lançar seu disco Zi e Zie no extinto Studio-SP. Como enxerga esse fenômeno do ponto de vista de uma cadeia de música?

Acredito que seja reflexo de um alicerce que sempre foi necessário na música brasileira, mas nunca tinha sido levado em consideração. A era da informação trouxe à tona uma lacuna que sempre existiu entre público e mídia. Isso abriu espaço para outra forma de o artista pensar seu trabalho – como ele chega às pessoas. O objetivo começa a deixar de ser um show para 50 mil pessoas e passa a ser cem shows para 500 pessoas ao longo de um ano. Solidificar isso é mais importante, pois consolida o artista, que não fica mais refém da mídia ou da gravadora.

Sabemos que 30% da produção musical do Brasil está em São Paulo. Como você enxerga esse cenário? Acha que é possível a criação de políticas públicas para essa descentralização ou isso poderá ficar a cargo do mercado musical?

Se levarmos em consideração que 20% da população do país está no estado de São Paulo, esses estudos não assustam tanto. Além disso, todo estudo é um recorte de um cenário e, como todo recorte, tem falhas. Porém, a descentralização é uma alternativa a ser levada para todas as esferas da economia. É muito mais importante descentralizar, por exemplo, os conglomerados de comunicação.

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