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Boutique Vintage Brechó e Bar | Série ‘Casas de show’

Conversamos com Cristiane Seixas, idealizadora e proprietária do Boutique Vintage Brechó e Bar, localizado no bairro do Belém, na Zona...

Publicado em 02/09/2015

Atualizado às 17:37 de 21/08/2017

Conversamos com Cristiane Seixas, idealizadora e proprietária do Boutique Vintage Brechó e Bar, localizado no bairro do Belém, na Zona Leste da capital paulista. No bate-papo, ela nos contou sobre a história do brechó e sobre a ideia de uni-lo a uma casa de shows, sobre como ocorre a escolha dos artistas que se apresentam no espaço e sobre as vantagens de estar emfrente a um dos maiores equipamentos culturais da Zona Leste, o Sesc Belenzinho.

(Foto: Natália Marcigaglia)

 

O Boutique Vintage Brechó e Bar, além de ser uma casa de show, funciona, como o próprio nome indica, como um brechó. Poderia contar de que forma se deu a criação do espaço e sua história?

Quando comecei a pensar nesse projeto, mais ou menos uns quatro anos atrás, eu sonhava com algo que unisse partes da história de minha vida e que fosse um espaço em que eu tivesse prazer de estar e ao qual gostasse de me dedicar. Inaugurei meu primeiro brechó há cerca de dez anos. Gosto muito desse universo, mas às vezes me dava certo medo. No comércio, você corre muito o risco de estagnar atrás de um balcão, de abandonar seu instinto criativo, as rotinas do negócio nos ocupam demais. Por isso, sempre procurei reinventar o negócio e agregar diferenciais ao dia a dia dele.

Já trabalhei em diversas festas, casas noturnas, feiras e eventos como funcionária e também expondo e vendendo produtos do brechó. Gosto muito dessa energia e da ideia de poder trabalhar com isso, oferecer coisas boas às pessoas. Comecei então a pensar nesse projeto, que me permitiria trabalhar com o comércio de produtos vintage e também com cultura, um local que oferecesse um encontro entre diferentes temáticas, como arte, música, amigos, boa comida e bebida, enfim, um pouco de tudo de que você precisa para estar de bem com esta São Paulo tão linda e maluca.

Pesquisei muito a ideia, que não é propriamente uma novidade ‒ já existem vários projetos desse tipo mundo afora. Fiz também uma viagem para alguns países da Europa e tive certeza de que essa união era totalmente possível, tanto do ponto de vista da aceitação social quanto do econômico. Os espaços fluidos e multifuncionais são uma ótima opção para integrar pessoas de diferentes grupos; você tem mais motivos para gostar de estar neles. A proposta aqui é que as pessoas se sintam em casa e também se sintam parte da casa, que tragam sua arte, suas ideias, suas alegrias e tudo o mais que tiverem de bom para compartilhar.

(Foto: Natália Marcigaglia)

 

Como se dá a gestão do espaço?

Acredito que uma boa gestão é o segredo de sucesso de qualquer projeto, talvez até mais importante do que ter uma boa ideia. Para mim é também a parte mais difícil, pois, até conseguir alinhar tudo, você é constantemente desafiado a repensar, a mudar, a inovar e, principalmente, a aprender mais. Apesar de ter alguma experiência, estou passando por um bom teste aqui no Boutique. No ano passado, quando me dei conta da complexidade e da diversidade de questões com as quais eu teria de lidar, quase pirei. Procurei ajuda e fiz alguns cursos que contribuíram para que eu conseguisse organizar melhor o negócio.

Talvez tudo fique mais fácil quando você tem bons recursos financeiros, mas este não foi o caso. Quando abrimos a casa, havia muitas pendências. É bem difícil saber ao certo o que é prioridade ou o que vai dar retorno mais rápido para investir em outras coisas. Inauguramos em uma época economicamente fragilizada, por isso sou muito ponderada com os gastos e só implanto melhorias conforme nosso movimento melhora.

Organizar a questão humana é muito importante também. Nos primeiros meses, tínhamos poucos colaboradores e era difícil dar conta de tudo; eu fazia a parte burocrática durante o dia e, à noite, ia atender no salão. Um ano e meio depois, as coisas estão mais fáceis – temos uma boa equipe, e eles resolvem muitas coisas sozinhos, o que me dá mais tempo para pensar em melhorias, novos projetos e parcerias para a casa.

Tenho uma preocupação muito grande em receber um feedback dos envolvidos na história toda. Converso bastante com artistas, parceiros, minha equipe e principalmente o público, para que a gente consiga fazer cada vez melhor, fortalecendo o projeto. Sinto que estamos caminhando bem, em alguns meses muita coisa boa vai acontecer. O plano agora é investir em uma estrutura melhor para os shows, valorizando ainda mais o trabalho dos artistas.

Os artistas e as bandas que se apresentam no Boutique Vintage Brechó e Bar têm um repertório majoritariamente autoral. Como funciona a seleção para se apresentar na casa?

Priorizamos os shows autorais com o intuito de aumentar o espaço e a oportunidade para os músicos que estão criando as próprias histórias e, também, de oferecer mais um diferencial ao público. De maneira geral, todos nós já somos constantemente bombardeados por mesmices e cópias de tudo. Então, estamos tentando buscar um caminho mais original.

Essa decisão, por ser menos comercial, implica algumas dificuldades. Nossa casa é grande e precisa de um bom movimento para que se sustente e se mantenha viva, o que faz com que o processo de agendamento das bandas tenha de ser bastante ponderado. Recebemos muitas mensagens por e-mail ou redes sociais com material de bandas. Também chega muita gente por indicação dos próprios músicos ‒ em geral, os artistas que gostam da casa acabam trazendo mais uma turma de gente boa.

Fazemos a seleção em conjunto, nos juntamos para ouvir e pesquisar, levamos em conta a qualidade artística, gostamos de misturas criativas de gêneros e diversidade e apostamos na ideia de não criar um estereótipo. Aqui você vai encontrar um pouco de tudo. Também levamos em conta se o conceito da apresentação se encaixa no esquema da casa ‒ tem muita coisa boa que não dá para fazer aqui dentro. Aos poucos estamos formando um público da casa bastante aberto a novidades. Tem muita gente que vem aqui sem saber qual é a programação, apenas confiando em nosso trabalho.

O espaço está localizado no bairro do Belenzinho, teoricamente longe do circuito da noite paulistana. Como ocorreu a escolha? O fato de estar em frente a uma unidade do Sesc facilita o movimento da casa?

Esse, sem dúvida, é o questionamento a que mais tenho respondido desde que a casa foi inaugurada! Durante um bom tempo, eu rodei por toda a cidade de São Paulo pesquisando um bom local para abrigar este projeto. Na época, o Boutique Vintage Brechó e Bar estava localizado na Rua Augusta, e sair dali não era minha maior vontade, mas tive de pensar em vários aspectos, entre eles os altos custos de locação e a saturação dos bairros mais populares com relação à vida noturna. Porém, o que mais pesou na hora da decisão final foi o fato de eu sempre ter vivido na Zona Leste e, assim como a maioria dos moradores da região, tínhamos de migrar por aí quase toda vez que queríamos curtir a vida “alternativa” ou cultural da cidade.

Após decidir que só abriria a casa se fosse por aqui, procurei um lugar de fácil acesso a todos da cidade e que me desse alguma referência, não só de localização, mas de arte e cultura. Estar ao lado do Sesc foi pensado. Esperei um bom tempo até achar algum imóvel disponível para locação e o encontrei justamente saindo de uma exposição na unidade. O movimento do Sesc nos ajudou muito. Ainda hoje nos traz um público interessante e bastante diverso, que combina muito com a proposta da casa.

Estar fora do circuito mais óbvio da noite pode até parecer arriscado, mas proporciona certa exclusividade na região e um ar mais familiar, menos frenético, o que é muito positivo. Já ouvi diversas vezes clientes dizendo: “Obrigado por ter aberto esta casa aqui, a gente precisava disso”. E esse apoio da galera nos fortalece a cada dia.

(Foto: Natália Marcigaglia)

 

A respeito do poder e da gestão pública, como o Boutique Vintage Brechó e Bar se relaciona nesse sentido? Já recorreram a algum edital de financiamento?

Não tenho muita confiança em ações provenientes do poder público. Quanto aos editais, a primeira imagem que vem à minha cabeça é a de dezenas de pessoas pensando e planejando coisas incríveis e alguns levando a grana porque são isso ou aquilo de alguma pessoa importante. De verdade, eu prefiro mesmo é acreditar e apostar na força de nosso trabalho, no planejamento e na busca constante de uma boa gestão. Acredito que, no tempo certo, as coisas vão acontecendo.

Mas ultimamente tenho visto algumas experiências positivas com relação aos editais e começo a pensar neles de maneira diferente. Talvez alguma hora eu tente enviar um projeto. Temos muitas ideias bacanas a respeito de exposições de arte e festivais de música que poderiam ser colocadas em prática imediatamente se tivéssemos recursos extras.

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