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Eu conheci o amor no intervalo das páginas ímpares

Confira a coluna desse mês escrita por Alexandre Ribeiro e Nayra Lays, que encerra o ano do Sankofas

Publicado em 04/12/2017

Atualizado às 18:57 de 09/02/2023

Por Alexandre Ribeiro e Nayra Lays

A gente se encontrou nas dores do mundo que carregamos nos olhos.
Uma força à frente do tempo. Conexão em poucas palavras.

nem todas as voltas
que daremos
no mundo
são

capazes de explicar


não
é

bre

tamanho

é sobre

q
  u
e
     d
a
livre

 

Akoma, símbolo do amor e da paciência

Tua alma que não assume nada me fez correr com esta vontade de sumir com tudo. Essa sinceridade que explode de teus olhos é toda o contrário do silêncio que você não escuta. Parece que tudo o que nem foi seu já teve um pouco de ti.

Se tudo estivesse certo, não teria graça. Meu caminho errado me levou até aqui. O melhor “desacontecimento” em todos os acasos. Eu conheci o amor enquanto estive apaixonado pela insegurança.

me desculpa por não conseguir chorar

me desculpa por ainda não
ter absorvido tudo aquilo que
a gente viveu

toda vez que paro pra pensar
eu me paro por inteiro
não é só o coração que funciona nessas horas
é algo mais profundo
vem antes do cérebro e é uma porta aberta pro mundo
tudo o que você me remete
certamente deve coagular no espaço que tenho entre o tórax
e a minha alma

é tão singular
que me faz tremer por dentro

como se minhas células soubessem quanto 
isso de lembrar de você me faz bem
mas meu cérebro pensasse que estou sendo atacado
por algo que ele não consegue entender

eu começo a me remoer por dentro
como se tudo que tenho pra dizer
não pudesse ser dito nunca

como se toda pressão que essa profundidade me traz
me deixasse pesado a ponto de afundar em seu oceano
e não morrer afogado.

sua presença me acostumou a ficar sem ar.
deve ser esse o motivo de
eu não conseguir chorar.

de toda minha confusão
da minha fuga da realidade, por ainda ser muito menino
você me faz me pegar sorrindo
por poder ser quem eu sou

 

Enquanto preparava meu café, senti a tua presença pulsando.
Foi possível peneirar um pouco de mim junto daquela massa branca que caía.
Eu quero me filtrar para viver a saúde do teu lado.
A atitude não morava na peneira nem no passado da tapioca. Era uma camada anterior à extração da goma e um pouco mais profunda que a história do meu povo nordestino.

Eu conheci o amor no orgânico das coisas.

amor não tem hora marcada

pra acontecer

é um lapso, 
de gente relapsa

e quando menos se espera
 — se pega —

olhando profundo pro nada 
do corredor
adentrando na cor cintilante 
daquele extintor
por em contrapartida 
sentir um calor 
que não se apaga

é a fila do pão com dois à frente
que comporta sonhos
de uma multidão de gente

mas não,
desta vez não.

pode ser nós dois na Sé às 18
ou numa ilha onde só moram oito

seremos a mesma intensidade
a mesma troca
a mesma vontade que nos atrai
e nos desloca

pra bem perto um do outro

como se os olhos fossem matéria escura
os nossos mistérios sentem as respostas

e sorrindo na mesa do escritório
meu colega vai me questionar
se sou bobo

vou sorrir desajeitado
mas não nego

pensar em você
me faz firme
feito prego

na areia

só esperando que seus olhos me batam.

Eu odeio escrever nas páginas pares. Enquanto tropeçava eu adiei muito para cair em mim – minha teimosia mudou todo o sentido – precisei sofrer para compreender esse alicerce que me faz ímpar. Eu só quero escrever no espaço entre 1, 3 e 9...
E conhecer o amor nas minhas loucuras.
O sentido dos passos são as voltas.


acredito que o respiro torna tudo tão bonito
feito o respeito pela insanidade
a tranquilidade em
ser vivo

ser erro que pulsa
que transborda
é fera
mas aprecia

do filtro da fotografia
até a interação singela
se diminuem intensidades
pra ganhar forças
e suas misturas resultam nela

como se cada pulsação
vibrasse dos poros:
– eu sou história
trago comigo em essência;
milhões de anos
profecias
poesias
derrotas e glórias

se os olhos do sol
se voltarem a mim,
apareço e coloro
peito adentro, Jasmim

se a falta de sono
me deixa só roncos na barriga
reivindico os erros da história
Sou Aqualtune, sou Frida

mesmo em todas as voltas
que o mundo já deu
estarei e estive
ao seu lado
sem questão de pedido,
ou circunstância

minha loucura que te fez assim
essa é a única
face do amor
que lhe foi apresentado.

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