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Exibição do filme Elena

Sessão será seguida de debate com Petra Costa e João Moreira Salles

Publicado em 08/05/2013

Atualizado às 20:40 de 02/08/2018

Depois da estreia em circuito comercial, no dia 10 de maio, nos cinemas nas cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Salvador, Elena chega ao Itaú Cultural na terça-feira, 21 de maio. Após a exibição do filme, o público poderá participar de um debate com a diretora Petra Costa e com João Moreira Salles, mediado por Daniela Capelato.

De uma delicadeza que já pode ser vista no trailer, Elena é um documentário que narra a história da personagem-título que viaja para Nova York em busca do seu sonho e do que fora, um dia, o sonho da sua mãe: ser atriz de cinema. Elena é a irmã mais velha de Petra Costa, a diretora, que, quando viu a irmã partir, era uma menina de 7 anos.

Duas décadas depois, é a vez de Petra percorrer o caminho de Elena, também tendo como objetivo a carreira de atriz. E buscar, em uma cidade imensa, a irmã que havia perdido. Como pistas, apenas filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A Mãe, assim chamada no documentário, foi salva da luta armada na ditadura militar pela gravidez de seis meses de Elena. Petra, por sua vez, salvou a mãe da morte, em decorrência da perda da filha mais velha. O documentário é, na verdade, a história de três mulheres, duas delas impactadas pela saudade que sentem da irmã/filha.

Uma irmã, uma ideia

No fim de abril, no Hot Docs, festival internacional de documentários canadense, onde Elena foi exibido três vezes, Petra Costa e a coprodutora do filme, a americana Sara Dosa, foram entrevistadas por um jornalista local. Lá ela contou como a ideia do documentário nasceu.

“O começo foi aquele momento quando eu encontrei seus diários e eu sentia que neles tinha algo de muito interessante que eu queria pesquisar a respeito dessa confusão de identidades. Porque para mim, ter 17 anos e encontrar os diários da minha irmã naquele momento quando ela tinha 17, e não ter tido nenhum contato com ela havia 10 anos, era uma experiência extremamente hipnotizadora.”

Além da necessidade pessoal de se debruçar sobre a história da irmã com a qual convivera tão pouco, Petra também sentiu que existiam poucos filmes que falavam de um tema universal, como a transição da adolescência para a vida adulta, de uma perspectiva feminina. “Existem muitos filmes que falam da chegada à vida adulta, mas, na maioria das vezes, de uma perspectiva masculina. E eu queria pesquisar isso”, explica.

Em Elena, o espectador entra no universo dessa família, a família de Petra, também por meio de cenas de filmes caseiros em VHS. “Eu nunca tinha visto nada desse material até decidir fazer o filme. Aí, fui à garagem, vi todos os VHSs e encontrei esse material maravilhoso que, para mim, era como uma viagem no tempo, como voltar ao passado, aos anos 1980; de volta ao tempo do qual eu não tinha lembranças”, conta Petra.

Interação

O público que vier ao Itaú Cultural no dia 21 de maio poderá interagir com Petra Costa e com João Moreira Salles. Diretor de Santiago, documentário sobre um personagem com o qual tinha forte ligação afetiva, João Moreira Salles definiu Elena assim, no site oficial do filme: “É um dos mais bonitos filmes a que assisti em muito tempo”.

Como em Elena (filme-personagem) há uma coexistência entre o real e a imagem, entre o fato e o espetáculo, o filme vai ser analisado sob a perspectiva "Elena: O Teatro da Vida", logo após a sua exibição.

Quem não puder estar presente na exibição especial em São Paulo está sendo chamado a interagir via internet. No site do filme, um concurso cultural convida o público a “transformar em arte suas memórias inconsoláveis”. Até o dia 30 de maio as pessoas podem mandar trabalhos em música, vídeo, poema ou fotografia, sempre tendo como tema as memórias inconsoláveis. O vencedor em cada categoria vai ser premiado com uma câmera de vídeo HD. No site há todas as demais informações sobre o concurso cultural.

Biografia

Petra Costa é diretora e atriz. Formou-se em antropologia na Barnard College, faculdade livre de artes da Columbia University, em Nova York. Fez mestrado em comunidade e desenvolvimento na London School of Economics, em Londres. Estreou como diretora e produtora do curta Olhos de Ressaca, no qual abordou o tema envelhecimento, na perspectiva dos seus avós. Em 2009, o filme foi exibido e premiado em vários festivais no Brasil e no exterior, como o Festival do Rio, o Festival de Gramado e o Festival Internacional de Documentário de Londres (LIDF).

Elena é o seu primeiro longa-metragem e já foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na Semana dos Realizadores (Rio de Janeiro), no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) e no Festival de Brasília do Cinema Nacional, no qual conquistou os prêmios de Direção, Montagem, Direção de Arte e Melhor Filme pelo Júri Popular, sempre na categoria Documentário.

Elena
terça 21 de maio de 2013
às 19h30
Sala Vermelha – 70 lugares

Entrada franca – ingressos distribuídos com meia hora de antecedência

[indicado para maiores de 10 anos] 10

 

Leia, abaixo, entrevista com Petra Costa, diretora de Elena.

Itaú Cultural: Como surgiu a ideia do tema (teatro da vida) que vai permear o debate aqui no instituto?

Petra Costa: Teatro da vida é um tema muito pertinente porque a ideia do filme nasceu no teatro. Decidi fazer o filme enquanto montava uma cena para o Teatro da Vertigem, onde eu misturava os trechos dos diários da Elena com os meus. E o filme fala de três mulheres que sonhavam em ser atrizes e que encenam também a própria vida como forma de escapar do sofrimento ou de elaborá-los.

Itaú Cultural: E como se deu a escolha de João Moreira Salles para participar do debate?

Petra Costa: O João para mim é um dos maiores cineastas brasileiros, uma grande inspiração. Santiago é talvez o filme brasileiro que mais dialoga com Elena. Ele se expõe no filme e faz isso de uma forma construída. Santiago foi mesmo uma grande inspiração. Além de ser um grande cineasta, João Moreira Salles é um grande pensador.

Itaú Cultural: Como foi o processo de construção da personagem, considerando-se todo seu envolvimento emocional com ela?

Petra Costa: Não interpreto a Elena diretamente, de uma forma convencional. Interpreto a mim mesma quando me confundi com ela. Fui a Nova York em busca do que aconteceu com ela.

Itaú Cultural: A decisão de se tornar atriz foi uma influência de Elena e/ou da sua mãe? Como e quando você decidiu seguir essa carreira?

Petra Costa: Desde nova eu fazia encenações, desde os 3, 4 anos. Essa vontade vem desde muito cedo.

Itaú Cultural: Hoje você faz mais planos como diretora ou como atriz? Ou as duas atividades podem caminhar juntas, sem problemas?

Petra Costa: Acho que elas caminham juntas e podem acontecer de formas separadas também. Mas sempre podem se conectar e se intercalar.

Itaú Cultural: Elena já foi premiado no Festival de Brasília, sendo um dos prêmios o do júri popular. Aqui no Itaú Cultural haverá um debate no final da exibição. No site do filme, há um concurso cultural. Como você lida com a reação do público, com essa resposta imediata?

Petra Costa: Era com isso que eu mais sonhava. Mais do que fazer um filme, eu sonhava com essa troca, é a melhor coisa que podia acontecer. Meu sonho era criar um diálogo sobre um dos temas principais do filme, que é a transição da adolescência para a vida adulta. Muitas jovens mulheres passaram por momentos difíceis e eu queria ajudar essas pessoas a elaborar esses momentos difíceis, criando um debate sobre isso. Gerar consciência e criações artísticas sobre isso. A arte funcionou assim para mim.

Itaú Cultural: Olhos de Ressaca também tem uma ligação forte com as lembranças: passado, família, afetividade. Esse universo é o que mais interessa a você realmente?

Petra Costa: O que me interessa é a investigação da intimidade, não necessariamente a minha. O meu próximo filme é com dois atores franceses, mas continua investigando a intimidade. Está em etapa de filmagem.

 

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