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Gestores culturais em foco | Sérgio Pinto, Sesc (SP)

Gerente adjunto do Sesc Pompeia, Sérgio Pinto falou com o Observatório Itaú Cultural sobre o panorama atual da gestão cultural no Brasil.

Publicado em 30/01/2017

Atualizado às 10:38 de 03/08/2018

Sérgio Pinto, gerente adjunto do Sesc Pompeia, falou com o Observatório Itaú Cultural sobre o panorama atual da gestão cultural no Brasil.

Vencedor, em parceria com Wilson Sukorski, do Prêmio Sergio Motta de Arte e Tecnologia de 2004, Sérgio integrou a turma de 2011-2012 do curso de especialização em gestão e políticas culturais, realizado pelo Itaú Cultural em parceria com a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Cooperação, da Universidade de Girona, na Espanha.

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Qual a importância de compartilhar com outros gestores as suas experiências na área cultural? Como você vê essa troca?

Comparada com outros segmentos ligados ao entretenimento e à indústria editorial, a área cultural, formada pelas diversas instituições dedicadas à promoção e à fruição da produção artística, é relativamente recente. Dessa forma, acredito que o compartilhamento de experiências e práticas entre pares é saudável para o amadurecimento dos profissionais do setor. Entre as instituições atuantes na área, nota-se um esforço considerável para que suas ações se justifiquem perante a sociedade. Criar laços entre elas, e entre seus gestores, pode colaborar para que os pares se reconheçam e fortifiquem suas relações e sua própria presença em seus respectivos campos.

Quais os desafios – ou qual é o maior desafio – que um gestor/produtor cultural enfrenta hoje no Brasil?

Como um segmento singular, sem preocupações de ordem comercial ou com a produção de commodities, a área cultural possui tênues linhas de sustentação públicas ou privadas e, por isso, sofre mais ingerências da economia e da política. O maior desafio, dentro desse contexto, é superar quadros de instabilidade conjunturais – sejam de ordem política, sejam de ordem econômica ou institucional. Um desafio em especial, que enfrentamos no momento, é fruto justamente da atual crise política: o questionamento das formas de financiamento da produção artística (Lei Rouanet e editais públicos), que põe em xeque não apenas as relações entre esses dois polos, mas, no limite, a própria razão de ser das instituições culturais. Ainda que tal questionamento tenha origem muito mais no campo de luta política, e não no mérito em si do financiamento, o desgaste de nossa atuação acaba sendo inevitável e de árdua recuperação perante a sociedade.

Em que consiste o trabalho do gestor/produtor cultural? Quais as habilidades e as competências necessárias para que esse profissional tenha êxito em sua atuação?

Pode ser um clichê, mas o trabalho da gestão se resume a propiciar meios e estrutura para que a cultura se dê. A isso acrescentaria a mediação entre a produção artística cultural e as práticas e os hábitos de fruição do público. Um modelo que vem logo à mente quando se pensa em propiciar meios à cultura é o de fomento à produção, o comissionamento de obras, mas pouco se faz para a fruição dessa produção. Fazer com que essa obra chegue ao público ao qual se destina não é apenas uma tarefa de divulgação ou comunicação, não se resume a assessorias de imprensa ou a anúncios comerciais. O êxito, não apenas dos gestores, mas das instituições de maneira geral, está em trabalhar para que a cultura e as artes sejam consideradas fundamentais para o desenvolvimento humano, como é o acesso à saúde, à educação e à moradia. A presença de instituições e centros culturais precisa ser encarada para além das dimensões econômicas, dos retornos que ela propicia a uma comunidade, em termos da cadeia produtiva que ela acaba gerando, apesar de toda sua importância como atividade comercial. A dimensão simbólica das práticas culturais é mais favorável ao desenvolvimento humano ao propiciar o autoconhecimento e o reconhecimento da alteridade. Operar essa equação, ou seja, mediar essa relação entre produção e fruição, é uma das maiores habilidades e competências a serem conquistadas por um gestor.

Como você avalia as políticas culturais existentes na sua cidade?

Há uma pluralidade de práticas e ações, tendo em vista as várias instituições e a potência da produção cultural, que torna difícil uma avaliação mais rápida e curta. Isso faz com que São Paulo, ao lado do Rio de Janeiro, possua a maior concentração de instituições culturais atuantes do país. Dentro das esferas públicas estaduais e municipais, houve nos últimos anos um fortalecimento dos corpos artísticos estáveis e um consequente crescimento da programação dos equipamentos culturais utilizados por esses mesmos corpos. Além disso, em que pese esforços perceptíveis em um ou outro centro cultural, em função da gestão que se encontra à frente desses equipamentos, as políticas públicas pouco superam esse modelo de fomento, baseado em corpos estáveis. Não surgem no horizonte outras ações significativas. O sistema de ensino musical implantado pelo estado, por exemplo, que poderia se configurar como outro modelo, trazer alguma novidade em termos de políticas públicas de cultura, não consegue superar suas crises de recursos e mudanças de gestão das Organizações Sociais (OS) responsáveis. Mas cabe lembrar que são justamente as instituições públicas que mais sofrem com as instabilidades políticas. Dentro desse quadro, chama atenção de forma muito positiva o Programa para a Valorização de Atividades Culturais (VAI), da Secretaria Municipal de Cultura. Apesar de ter como objetivo principal o fomento, o programa direciona seus recursos para jovens sem experiência profissional nas áreas da cultura, para moradores das regiões periféricas da cidade, para o desenvolvimento de projetos ligados a suas comunidades ou regiões. Tendo em vista a dimensão da cidade, seus inúmeros problemas sociais e urbanísticos e a falta de equipamentos de lazer e cultura, programas como o VAI precisariam ser mantidos e ampliados ou até mesmo copiados.

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