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Museu da Mantiqueira (MuMan) e a riqueza do patrimônio imaterial

O artigo discute as atividades do MuMan, que trabalha sob os pressupostos do conceito de patrimônio imaterial, com depoimentos da sua idealizadora e gestora Diana Poepcke

Publicado em 26/12/2017

Atualizado às 12:00 de 03/08/2018

O Museu da Mantiqueira (MuMan), localizado em São Bento do Sapucaí, no interior de São Paulo, explora a memória oral como ferramenta de trabalho, tendo como objetivo preservar e difundir os saberes e os “causos” do povo mantiqueirense. O foco é salvaguardar o patrimônio imaterial e material por meio das memórias e do conhecimento popular dos nativos e viventes da região. O projeto nasceu como um espaço virtual, disponibilizando sua experiência museal pela internet.

O que comumente é chamado de patrimônio imaterial diz respeito a práticas, fazeres e domínios da vida em sociedade que se manifestam de diferentes formas. Entre essas, está o conhecimento popular dos ofícios do campo, os saberes, os modos de realizar tarefas cotidianas, as celebrações e os rituais, o teatro e a dança, além de diversas outras maneiras de se expressar no trabalho ou na vida.

Mercados, feiras e outras organizações coletivas guardam saberes e fazeres que podem ser considerados patrimônio imaterial. Em 1988, a Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural, reconhecendo a existência de bens culturais de natureza material e imaterial.

Segundo o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), “nesses artigos da Constituição, reconhece-se a inclusão, no patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade, dos bens culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. O patrimônio imaterial é transmitido de geração a geração, constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana”.

É partindo desses pressupostos que atua o MuMan. Com o trabalho engajado de sua idealizadora e gestora, Diana Poepcke – historiadora especializada em gestão cultural, com ênfase em acervos arquivísticos e museográficos –, a instituição colocou em prática o evento Mantiqueira Cultural, um diagnóstico das localidades para atuar com a memória oral, projetos de recolhimento de acervo físico e o programa “Todo Mundo Tem a Sua História”, entre outras ações que levaram o museu a conquistar público e reconhecimento como iniciativa inovadora.

No entanto, em razão da crise do país, o museu se viu numa encruzilhada. Foi a partir daí que surgiu o Espaço MuMan Coworking como solução para arrecadar fundos e manter seus projetos. O coworking – local destinado ao trabalho compartilhado – possui planos semestrais e anuais, contendo estações de trabalho, acesso à internet, biblioteca temática, mesa de reunião e uma pequena área expositiva. Segundo Diana, “criou-se, assim, um espaço de convivência coletiva que também pode ser utilizado para leitura, oficinas e pequenas exposições, com ações pontuais que estimulam e valorizam o patrimônio cultural por meio do contato com elementos artísticos, digitais e contemporâneos”.

Apesar de toda a dificuldade financeira, o MuMan continua sua saga e, além da conquista do espaço físico para o coworking, outros projetos foram realizados pela equipe. Um dos mais interessantes está em consonância com as discussões contemporâneas sobre acessibilidade e foi viabilizado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) de Economia Criativa 2015: o Audioguia Caminhos da Memória. Realizado em São Bento do Sapucaí, foi criado, segundo Diana, “a partir do pilar conceitual do MuMan: um museu virtual que entende a cidade como um museu a céu aberto e utiliza dispositivos digitais para criar percursos expográficos por ela. Em um segundo, temos uma política de tornar o nosso conteúdo mais inclusivo possível, claro que operamos dentro de uma limitação de recursos financeiros”.

O audioguia proporciona aos deficientes visuais, em alguma medida, uma cartografia afetiva e sonora em forma de experiência museológica. É possível ter a interação com o patrimônio imaterial, mesmo que seja em formato de audioguia e não uma audiodescrição. Segundo Diana, “o audioguia também acompanha um mapa ilustrativo, possibilitando que deficientes auditivos tenham acesso ao percurso do audioguia, aos pontos de parada com os lugares de memória e aos entrevistados, tudo desenvolvido em Flat Design [estilo de design marcado pela simplicidade], de maneira leve e divertida”.

O projeto Oficina Postais da Memória, realizado em 2016, e a exposição Caminhos da Memória, realizada em 2017, complementam as atividades do MuMan, que expandiu a ideia inicial de ser apenas um projeto virtual para se tornar um museu a céu aberto na cidade, promovendo atividades culturais diversas para a região.

O sucesso do projeto rendeu ao MuMan uma ótima colocação no Prêmio Brasil Criativo, chegando a semifinal após votação realizada via internet. O MuMan também recebeu uma bolsa de residência em Empreendedorismo Social e Criativo da Universidade Livre de Amsterdã. Mas, diz Diana, “o prêmio mais importante que recebemos foi o do edital de Economia Criativa do ProAC SP em 2015, em que conseguimos viabilizar a pesquisa, o desenvolvimento e a execução do Audioguia Caminhos da Memória”.

O MuMan conta com uma equipe diversa e multidisciplinar, formada pelo consultor em projetos de acessibilidade Thomas Pontes, pelo museólogo Rafael Chaves e pelo curador de arte contemporânea Felipe Brait, além da equipe que se formou no processo do audioguia: o engenheiro de áudio Taian Cavalca, a narradora e atriz Cristiane Credidio, a assessora de imprensa Rafaela Teixeira e o designer gráfico Luis Simonetti. Segundo Diana, os objetivos são estruturar e expandir as ações do museu, sobretudo com a elaboração do plano museológico. Para a gestora, a formação de público é o maior desafio atual da instituição.

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