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O acervo implacável de Elomar Figueira Mello

No sertão da Bahia existe um artista que construiu uma obra composta de música, ópera, teatro, literatura e arquitetura, além de outros...

Publicado em 27/07/2015

Atualizado às 15:53 de 13/09/2018

No sertão da Bahia existe um artista que construiu uma obra composta de música, ópera, teatro, literatura e arquitetura, além de outros projetos que conjugam a essas expressões artísticas o ensino e a preservação de conhecimentos populares da região, a gestão e a disseminação da produção local e também de outras paragens, que coincidem na mesma busca estética.

 

Esse artista se chama Elomar Figueira Mello e é o homenageado da 25a Ocupação do Itaú Cultural. Essa obra, que tem cerca de 80% do seu conjunto inédito e inacessível ao público, agora tem a segurança de ser perene, e a sua disponibilização aos interessados está cada vez mais próxima.

O local que abrigará esse material ficará na Fazenda Casa dos Carneiros, no povoado da Gameleira, zona rural de Vitória da Conquista (BA), e se chamará Arquivos Implacáveis da Casa dos Carneiros – Elomar Figueira Mello. O edifício está em construção e simula um curral de bodes, aproveitando paredes e coberturas de vidro para aproveitamento da luz. O projeto é do arquiteto Elomar.

A Casa dos Carneiros é o local onde mora o artista, e o apoio para o processo de organização, higienização e catalogação desse acervo veio do Itaú Cultural. No mesmo caminho, o Itaú Unibanco patrocina a construção do imóvel que abrigará os documentos.

O processo de criação de Elomar é fragmentado. Ele escreve, música ou literatura, em pedaços separados pelo tempo e pelo espaço. Papéis que vai guardando em lugares diferentes, cadernos diversos, blocos, notas, fitas cassete. Enumera tudo e faz correlações com cores, observações – das músicas aos textos. Um verdadeiro quebra-cabeças. Ao saber da aprovação do projeto do acervo, o artista confessou o alívio de não ter mais de guardar tudo isso na sua cabeça.

Os documentos estão sendo identificados, revistos, catalogados e higienizados, com base nos seus originais manuscritos e datilografados. Trata-se de um trabalho de garimpo, realizado por uma equipe de especialistas, com o apoio do Itaú Cultural e sob o olhar atento do próprio autor. Em paralelo a esse trabalho, está em construção o imóvel.

O material em tratamento é farto. A equipe que faz a catalogação do acervo está imersa em toda a produção de Elomar, as suas poesias, peças para teatro, romances, ensaios, roteiros para cinema, letras de música, partituras de antífonas e libretos de óperas. No total, nesta fase, estão sendo manuseados 1.375 documentos, 6.585 folhas, 1.439 envelopes em 29 caixas. Entre as fitas cassete guardadas pelo compositor, nove foram danificadas pela ação do tempo e estão em restauro, 136 já foram ouvidas e classificadas, 42 foram digitalizadas e outras dez fitas de shows aguardam digitalização, junto com outras 30 gravadas e 49 de músicas de outros autores.

Os documentos vêm sendo encontrados nos mais variados locais: na Casa dos Carneiros, nas demais fazendas do compositor, na casa na cidade, no escritório da produção. Some-se a isso a complexidade do trabalho, devido à dificuldade de leitura da escrita e ao fato de que trechos de algumas obras estão espalhados, exigindo um cuidado ainda maior para acertar no arranjo e no melhor caminho para uma classificação definitiva. Com base nos originais, os especialistas leem e complementam os trechos não identificados, outros soltos ou dispersos em cadernos diversos, agendas, papéis soltos.

Achados

Entre os achados desta documentação, encontram-se, por exemplo, três óperas: O Retirante, Peão Mansador e A Carta. A primeira é em prólogo e dois atos e foi montada com base em trechos que haviam se perdido e foram encontrados e digitados na escrita dialetal, a partir dos originais manuscritos do autor. Tudo já foi impresso e revisado por Elomar para passar para a inserção dos textos na partitura. A segunda ópera tem três atos e a terceira é formada por quatro cenas.

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