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Ocupação Aloisio Magalhães

A exposição celebra a vida e a obra de um dos mais importantes designers do país

Publicado em 17/07/2014

Atualizado às 20:33 de 08/01/2021

O design dificilmente é visto como uma prática associada a todos os campos da atividade humana. Aloisio Magalhães em suas realizações defendeu ativamente a necessidade vital do design a serviço da comunidade. Além de seu pioneirismo nesse campo, dirigiu seu pensamento e suas ações ao desenvolvimento do Brasil, assim como – por meio de sua visão política – propôs uma nova maneira de mapear e entender a cultura do país. Tendo em vista sua atuação marcante, fazendo conviver a autoridade e o artista, Aloisio Magalhães é o homenageado da 19ª edição do programa Ocupação, que acontece entre 26 de julho e 24 de agosto, no Itaú Cultural.

A exposição, que conta com a curadoria de João de Souza Leite, se desenvolve em três tempos que contemplam os diversos momentos pelos quais passou Aloisio Magalhães, o trabalho como artista plástico, como designer e como formulador de políticas públicas na área da cultura. Aos 18 anos era apontado na Faculdade de Direito como uma das melhores promessas da nova geração de artistas plásticos de Pernambuco. Ainda na universidade, produziu cenários e figurinos para as peças do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), como Otelo (1951), de Shakespeare, e Bodas de Sangue (1955), de García Lorca.

O artista plástico. Lápis e nanquim também faziam parte do universo do artista. Em 1949, Aloisio abriu seu ateliê, onde como pintor produzia obras abstratas animadas com motivos de sua terra, Pernambuco. “O colorido e a vibração da paisagem de sua terra era o que mais o interessava”, conta o curador. A Ocupação traz algumas produções da década de 1950, assim como revela fotos e informações das inúmeras exposições realizadas no Brasil e no exterior.

No mesmo local de seu ateliê, funcionava O Gráfico Amador, oficina criada por um grupo de intelectuais nordestinos interessados na arte do livro. O espaço era voltado ao desenho, à edição e à produção de pequenas tiragens de publicações, como Ode, de Ariano Suassuna. Em Aniki Bobo, os desenhos foram feitos antes do texto e por isso se diz que João Cabral de Melo Neto o ilustrou com seu poema. Ambas as edições fazem parte das obras presentes na mostra.

Foi em uma viagem à Filadélfia, em 1957, que Aloisio conheceu Eugene Feldman, artista gráfico experimental, e pôde se aprofundar um pouco mais nas técnicas de reprodução das grandes tiragens. Percebeu, então, a possibilidade de ampliação de sua criação a partir do design. Já de volta ao Brasil em 1960 fundou, com Artur Lício Pontual e Luiz Fernando Noronha, no Rio de Janeiro, o Magalhães + Noronha + Pontual (MNP), escritório destinado a trabalhar com arquitetura, construção civil e programação visual.

O designer. No espaço do MNP foram desenvolvidos os primeiros trabalhos de projeção do escritório na área da comunicação visual: os símbolos do 4ª Centenário do Rio de Janeiro, da Fundação Bienal de São Paulo e do Banco Moreira Salles, entre tantos outros. Em 1966, aconteceram concursos para a criação do símbolo da Light e para o desenho de novas cédulas do papel-moeda brasileiro. Ao conquistar o primeiro lugar na disputa, Aloisio consolidou sua posição no cenário da produção de design no campo da comunicação visual.

Com uma área dedicada especialmente ao design, a exposição apresenta uma diversidade de símbolos e sinais, desenhos a lápis e layouts. Entre eles estudos para a cédula de 500 cruzeiros e cartazes para o governo de Pernambuco. “Entre 1960 e 1975, [Aloisio] desenhou cerca de 70 sinais de grande visibilidade, e neles é possível notar a presença de certa característica de desenho que não reproduz de maneira muita exata o repertório do design modernista, em grande parte pautado pela geometria regular. Suas curvas são quase sempre compostas de segmentos de arcos, seus sinais juntam entrelaçados de letras e buscam, muitas vezes, uma re­presentação figurativa. Seu registro é outro”, explica João de Souza Leite.

O político cultural. Na década de 1970, Aloisio Magalhães iniciou uma nova etapa em sua vida, seu envolvimento definitivo e formal no campo da cultura. Em 1975, criou o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), que visava mapear, documentar e entender a diversidade da cultura brasileira. A investigação de formas originais de criação e produção na sociedade levou pesquisadores a se debruçar, por exemplo, sobre o artesanato popular.

Cecília Londres, socióloga e conselheira do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, no texto "O Centro Nacional de Referência Cultural: a Contemporaneidade do Pensamento de Aloisio" destaca: “Atuar nesse processo de apropriação da cultura, tanto no sentido de produzir conhecimento quanto no que veio a ser denominado de ‘devolução’, ou seja, de devolver às comunidades, elaborado e enriquecido, o seu patrimônio cultural, definia o CNRC não como uma instituição de pesquisa, como a princípio poderia parecer, mas como um espaço de experimentação”.

Dando continuidade a suas iniciativas, em 1979 Aloisio Magalhães assumiu a direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Buscando retratar essa trajetória do político cultural, a Ocupação revela alguns documentos e fotos que mostram sua atuação em diversas regiões do país. Segundo João de Souza Leite, a ideia central da mostra é “não somente proporcionar o entendimento desse brasileiro, como também fomentar o debate das importantes questões sobre as quais ele se debruçou”.

Rodas de Conversa

O conteúdo da Ocupação Aloisio Magalhães serve de base para dois bate-papos – um deles ligado aos chamados “cartemas”, termo que o filólogo Antonio Houaiss cunhou para se referir a uma série de imagens geométricas que o designer fez por meio da colagem de cartões-postais. As conversas são conduzidas em português e em Libras (Língua Brasileira de Sinais).

Acesse a aba programação para conferir as datas e horários dos bate-papos.

Ocupação Aloisio Magalhães
sábado 26 de julho a domingo 24 de agosto de 2014
terça a sexta das 9h às 20h (permanência até as 20h30); sábado, domingo e feriado das 11h às 20h
Piso Térreo

Entrada franca
[livre para todos os públicos] L

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