VI. Repertoriando

O vocabulário e a reinvenção

ilustração: Fernando Vilela

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Uma situação que me traz certo embaraço é quando as pessoas me perguntam qual estilo de dança eu faço. Respondo-lhes que é a Dança Brasileira, mas ninguém entende ou sabe o que é isso.

Antonio Nóbrega

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Expressão

imagem: Walter Carvalho

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Lunário Perpétuo

Trecho do DVD “Lunário Perpétuo”, direção de Walter Carvalho

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O Temperamento

Quando comecei a estudar e aprender sobre as danças populares, senti que elas tinham algo de muito peculiar e significativo em comum. Notava que havia na maneira de se movimentar dos dançarinos, para além do vocabulário, um determinado jeitão que se refletia em molejos, gingados, balanços, meneios, negaças, espasmos, requebros etc. De onde vinha isso? O que gerava esses procedimentos? Ao que correspondia tudo isso, tecnicamente falando?

Observando e estudando mais atentamente as danças, fui compreendendo que esse jeitão particular de ser, isso que chamo de “temperamento”, era um reflexo direto do espírito da música que as animava. Uma música cujo caráter era significativamente marcado pela presença e pela valorização de contratempos e tempos sincopados, só podia dar origem àqueles peculiares procedimentos corporais. Para quem não sabe, a síncope é uma espécie de alteração rítmica que consiste no prolongamento do som de um tempo fraco num tempo forte.

Antonio Nóbrega

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Construção

Neste vídeo Antonio Nóbrega conta sobre como iniciou sua pesquisa em dança popular, seus gingados e meneios e como esses elementos formaram o repertório para a criação de uma linguagem própria.

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Descaídas

imagem: Walter Carvalho

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A capoeira e o frevo

Trecho do DVD “Nove de Frevereiro”, direção de Walter Carvalho

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Passo a passo

As danças brasileiras se agrupam em três famílias principais. Os batuques, coreograficamente, têm em comum a roda, o sapateado, as palmas e, sobretudo, a umbigada ou sua insinuação. Musicalmente, o canto e os tambores tocados com as mãos. Alguns grupos usam o ganzá, o reco-reco, o pandeiro, a alfaia e, por vezes, uma lata percutida com varetas. Essa família remonta às reuniões festivas, às práticas e às celebrações religiosas – os ditos calundus – realizadas pelos negros em seus ajuntamentos, senzalas e quilombos durante o nosso largo processo de colonização. Com peculiaridades, esse gênero está presente em todo o país. Coco de roda, praiano ou simplesmente coco em Pernambuco, em Alagoas e na Paraíba; coco de zambê no Rio Grande do Norte; samba rural no interior baiano; tambor de crioula no Maranhão; jongo no Rio de Janeiro; batuque em São Paulo; carimbó no Pará etc. É dessa família, ainda, o samba, derivado de “semba”, que quer dizer umbigada em banto.

Os cortejos são diretamente descendentes do procedimento colonial de coroação dos reis de congo. A um rei negro, na maioria das vezes escravo, era dado o poder de governar determinada comunidade denominada “nação”. Essas coroações eram celebradas através de cortejos dramáticos marcados por cantos animados por robustos tambores e caixas de guerra (taróis). Coreograficamente, além dos movimentos no deslocamento do cortejo e do jogo dos bastões, havia simulações de combates (reminiscências africanas). Nessa família estão, entre outras manifestações, moçambiques, maracatus, congadas, congos, cucumbis e taieiras.

A mais vistosa das três famílias é a dos folguedos. Sua ascendência é ligada às janeiras e reisadas portuguesas: grupos que jornadeavam ao som de violas, rabecas, cavaquinhos e percussões cantando o nascimento do menino Jesus e a chegada dos Reis Magos na época da natividade cristã – solstício de verão europeu. No Brasil, incorporaram tipos e figuras do cancioneiro e do romanceiro, personagens populares, mitos etc. Esses grupos itinerantes ganham o nome de reisados, cada um intitulado a partir de suas figuras mais representativas (João do Vale, Pinica-Pau, Jaraguá, Cavalo-Marinho). Da aglutinação de vários reisados num só vão surgindo trupes de brincante que se fixam em determinada região para apresentação de sua numerosa galeria de tipos e figuras. Paulatinamente, se firmam com os nomes de Bumba Meu Boi, Cavalo-Marinho, Boi Bumbá, Boi de Mamão, Boi de Reis, Cordão de Bichos, Auto dos Guerreiros etc.

A persistência do nome “boi” é devida provavelmente ao significado mágicoreligioso do animal e por ser a figura de maior sedução e encantamento graças às suas estripulias, investidas e galhofarias. Esses folguedos são, portanto, espetáculos hospedeiros totais, pois abrigam a dança, o canto, a música instrumental, a comédia, o drama, o recitativo, a pantomima etc.

Adaptação de excerto de texto do espetáculo Naturalmente – Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira [2009]

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Os Brincantes

Nóbrega fala sobre os brincantes, grande referência para o seu trabalho. Além disso, faz uma reflexão sobre o fazer artístico: o que consideramos arte?

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Linguagem Universal

Flaira Ferro é bailarina nascida no Recife e atualmente é uma das componentes da Cia Antonio Nóbrega de Dança. No vídeo, fala sobre as dificuldades de se elevar a dança a uma linguagem universal e sobre os movimento e trejeitos típicos dos brasileiros

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Curiosidade e Insatisfação

Helena Katz é crítica de dança e professora. Artigos sobre a dança nacional em geral podem ser lidos em seu site: www.helenakatz.pro.br.