#jardseeu

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Cuidado! Há um mistério na porta principal — e você pode ajudar a esclarecê-lo. Quem é e o que faz Jards Macalé? Construa com a gente uma resposta: conte uma história sua com o músico — uma conversa com ele, um show intenso, um álbum marcante — em texto, foto, vídeo, música, HQ, o que for. Envie sua colaboração pelo site itaucultural.org.br/participe ou publique nas redes sociais (Twitter, Facebook, Instagram, entre outras) com a hashtag #jardseeu.

O conteúdo recebido será reunido no Facebook do Itaú Cultural e algumas delas estarão também nesta seção. 

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#jardseeu

Jards Macalé é músico, artista homenageado desta Ocupação.

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O Filho de Dona Lygia

por Edson Natale

Conheci Macalé em 1997, um pouco depois de ter sido informado por Wilson Souto, o Gordo, diretor artístico da gravadora Atração Fonográfica, de que seria o responsável pela produção do álbum O Q Faço É Música, lançado em 1998. Na memória, além das gravações e das conversas, ficou a entrevista que organizamos com Jards e com Itamar Assumpção, que lançaria Pretobrás no mesmo período e pela mesma gravadora.

Para a entrevista, nos reunimos com os artistas − eu e o então jornalista da Folha de S.Paulo Pedro Alexandre Sanches − em uma das salas da empresa. Quando saí para atender a um telefonema, Macalé me seguiu e ficou ali na minha frente. Quando desliguei, foi logo dizendo algo como: “Itamar fala bastante. Concordo mais do que discordo e acho que ele pode falar por nós dois. Eu vou embora porque tenho uns gibis pra ler…”.

O processo todo de O Q Faço É Música nos aproximou e nunca mais deixamos de nos falar, fomos nos tornando amigos. Quatro anos depois, eu já trabalhava no Itaú Cultural e surgiu o projeto de um grande mergulho na produção cultural dos anos 1970 nas áreas de música, artes visuais, cinema, dança, literatura. Quanto à música, a decisão foi de que faríamos uma segunda versão do histórico show O Banquete dos Mendigos, que Macalé havia organizado no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, em 1973, com as participações de Chico Buarque de Holanda, Paulinho da Viola, Gonzaguinha, Johnny Alf, além dele próprio e outros. Entre as apresentações, os músicos faziam leituras de artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, com apoio da ONU.  

A construção do renovado Banquete em 2001 solidificou nossa amizade: o Itaú Cultural costurou junto a Macalé a parceria com a ONU, como havia acontecido em 1973, e a nova versão aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, em 10 de dezembro de 2001. Gravamos em vídeo as leituras de alguns artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem feitas por pessoas como dom Paulo Evaristo Arns, Clarice Herzog, Hélio Bicudo, Hermeto Pascoal e Itamar Assumpção, além do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Os vídeos foram projetados em meio às participações de Lenine, Macalé, Rappin Hood, Johnny Alf, Walter Franco, Lia de Itamaracá e Zélia Duncan, entre outros.

Durante as pesquisas e as conversas para a realização do Banquete, fui até Penedo, onde Macalé tem uma casa, fuçar nos seus arquivos. Naquele dia conheci sua linda e adorável mãe, dona Lygia, que nunca mais saiu da minha memória. Quando cheguei, ela estava cuidando do jardim e cantando, e de vez em quando conversava com um passarinho. Sua voz era linda e ela era toda especial: puro amor, alegria e simpatia. Ali, Macalé era Jardszinho. Hoje penso que é impossível desvendar Jards sem ter conhecido Lygia.

Em Penedo tive várias surpresas, como a de constatar que Jards tinha arquivado absolutamente tudo o que aconteceu em sua vida de maneira surpreendentemente organizada. Isso possibilitou a inesquecível experiência de passar o dia lá no alto da serra, ouvindo dona Lygia cantar, experimentar seu delicioso bolo com café, vendo, lendo e ouvindo a história de Macalé.

E pronto, dando um salto no tempo, chegamos a esta Ocupação Jards Macalé. Li e reli, com a companhia de Andreia Schinasi e Otávio Bontempo, muitos textos, muitos bilhetes, muitas cartas. Vi fotos, vídeos, slides, desenhos. Perguntei, cutuquei, tateei. Tivemos momento de intensa felicidade, pelas lembranças e pelas histórias que contou a partir daquilo tudo que reencontrava depois de tanto tempo.

Tivemos momentos muito tristes ao mexer com lembranças assentadas, da maneira que puderam assentar-se. Das caixas de papelão brotaram muitos textos, escritos há tanto tempo e que guardavam em si − além da poesia − a dor da caminhada, muitas vezes solitária, rústica e ríspida.

Jards nos fez poucos pedidos nesta Ocupação: um lugar para (parte) de sua coleção de HQs, um lugar para São Jorge, que houvesse a bandeira nacional com os dizeres Amor, Ordem e Progresso e que as cores fossem verde, amarelo, azul e branco. Em tudo o mais nos deu liberdade para pensar, fazer e expor.

A participação neste projeto foi, é e será transformadora para mim. Algumas vezes, confesso, voltei à minha caixa de e-mails para reler a mensagem que compartilho agora com todos.

Em 20/2/2014, à(s) 08:06,

Natale,

agora creio que posso participar mais ativamente da nossa Ocupação. na madrugada de hoje revi meus 56 anos de produção cultural das 4hs da manhã até este horário em que lhe escrevo.

a iniciativa em realizar esta Ocupação me é extremamente importante a nível afetivo, profissional como também à minha saúde mental e física.

fiz, na madrugada de hoje, como disse acima, um levantamento de minha produção dos 15 aos 71 anos e afirmei e reafirmei a minha humilde contribuição às artes brasileiras e o reconhecimento justo a todas as pessoas que fizeram parte da minha trajetória e, a esta altura da minha vida, a gratidão à vossa excelentíssima figura que agora me resgata de um possível ostracismo a que tentaram me submeter.

lembrei-me de quase todos os quais, em diferentes momentos, reconheceram o artista que estava por trás de posições às vezes contraditórias, mas sempre honestas (pelo menos comigo mesmo). reconheço erros e acertos, desentendimentos involuntários e voluntários no calor da batalha que sempre foi pela e através da Música Brasileira ou simplesmente pela Música, minha querida companheira.

quero colaborar a esta nossa Ocupação com a maior franqueza possível.

gostaria que conversássemos dando continuidade a este empreendimento cada vez mais importante tanto para mim quanto para o respeitável público que nos vai dar a honra de participar audiovisualmente da estória desse bendito artista ao qual deram a alcunha de “Jards Macalé”.

abaixo vai o link da homenagem que me fizeram no ano passado os novos artistas músicos através da iniciativa do site da Banda Desenhada. algumas coisas ficam claras na longa entrevista que fizemos.

esperando resposta breve de V. Exmo. amigo,


fraterno abraço,

Jards Anet da Silva

ou

Jards Macalé

ou

Elacam Tená

(Vulgo Macao)

De 1997 até aqui se passaram 17 anos − e eu estou feliz, porque gosto ainda mais de ser amigo do filho de dona Lygia.

[Edson Natale é gerente de Música do Itaú Cultural]

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Sobre um Amigo

Luiz Melodia é músico. Foi parceiro de Jards. Revelado por Torquato Neto e Waly Salomão na década de 1970, tem composições gravadas por Gal Costa e Maria Bethânia. Em 1973 lançou seu primeiro disco, Pérola Negra. De lá até aqui, foram outros 12, sendo o mais recente Estação Melodia (2009). Sua produção abarca bossa nova, rock, samba, pop, funk, baião e jazz.

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de luto e imenso

por Fernanda Castello Branco

Em julho de 2013, Jards Macalé fez dois shows em São Paulo. Entre um e outro, teve que ir às pressas ao Rio de Janeiro enterrar a mãe. Eu me senti um lixinho na plateia do segundo dia, pensando que o meu cansaço daquela semana quase me fez desistir de ir ao show. Cansaço besta, de trabalho e pouco sono. Jards contou, logo depois de entrar no palco, que tinha tido um dia de cão. Sem mais. Só depois explicou o porquê, quando dedicou uma  música à mãe. Eu me senti um cisquinho de nada diante daquele artista imenso, honrando o seu compromisso e o seu público, no dia em que havia enterrado a mãe. Juro que, diante de tanta grandeza e dor engolida por música, não entendi o pedido de bis. Jards merecia que o não pedido de bis fosse o abraço de pêsames de toda a plateia. Mas pediram e ele voltou. Ainda mais grandioso que antes. E ainda chamou Lanny Gordin, sentado no auditório. Jorge Mautner também voltou ao palco. Walter Franco entrou só para dar um abraço. Jards ali. De luto e IMENSO.

[Fernanda Castello Branco é coordenadora da equipe do site do Itaú Cultural. Uma primeira versão deste texto foi publicada em 2013 no Pra Doido Ler, blog da autora]

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Maldito entre os Malditos, no bom sentido

Geneton Moraes Neto é jornalista. Autor do documentário Canções do Exílio – A Labareda que Lambeu Tudo, no qual entrevista Jards Macalé, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Mautner, também escreveu Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes e Dossiê Drummond.

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Original e Provocador

Kiko Dinucci é músico. Faz parte das bandas Metá Metá e Passo Torto. Realizou também os projetos Bando Afromacarrônico e Duo Moviola.