Nascente

Os traços fundamentais de Mendes da Rocha: sua personalidade e suas influências. Nisto, alguns conceitos e nomes essenciais: de um lado, as águas e o convívio com seu pai, Paulo Menezes Mendes da Rocha; do outro, o professor Vilanova Artigas e o papel social da arquitetura.

Acervo Paulo Mendes da Rocha

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Um perfil da personalidade e do processo criativo de Paulo Mendes da Rocha, descrito pelos arquitetos Guilherme Wisnik – cocurador da Ocupação Paulo Mendes da Rocha – e Pedro Mendes da Rocha – filho do homenageado –, pela produtora cultural e consultora da Ocupação Ana Helena Curti e pela diretora de teatro Bia Lessa.

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"Serafin Derenzi e Paulo Menezes Mendes da Rocha (...) futuros meu pai e avô", escreve Mendes da Rocha no verso desta foto | Acervo Paulo Mendes da Rocha

O arquiteto registrou em Maquetes de Papel: “A questão fundamental que navega entre nós arquitetos é imaginar as coisas que ainda não existem”. Dessa frase queremos ressaltar a metáfora utilizada: navegar. Essa palavra remete a um imaginário central na trajetória do arquiteto: os mares, os rios, as estruturas que se adéquam às águas, os navios.

A influência desse ideário marca Mendes da Rocha desde o convívio com seu pai – Paulo Menezes Mendes da Rocha, engenheiro de portos e navegações – e passa, por exemplo, pelo fascínio por Veneza, na Itália – em como o urbanismo dessa cidade lidou com suas necessidades de transformação da natureza.

Na obra do urbanista, as águas vão se manifestar de várias formas. No Sesc 24 de Maio, um prédio administrativo ao lado do principal foi inspirado em navios de apoio que acompanham grandes embarcações. Em um projeto não realizado, o da piscina na Praça da Sé, a água é carregada pelo símbolo do espaço público, compartilhado.

A seguir, você conhece ainda outros projetos nesse sentido.

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“Qual virtude para você é aquela indispensável da arquitetura? Para mim é ser oportuna.”

Trecho de "Maquetes de Papel", Paulo Mendes da Rocha, p. 51

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Cais das Artes

Vitória-ES | 2006 | obra em construção

Formado por um museu e um teatro, o Cais das Artes valoriza a paisagem e a história do entorno – uma esplanada aterrada às margens do canal que separa a capital capixaba do município de Vila Velha. Os dois edifícios que compõem o conjunto são suspensos por pilares, e a circulação entre os espaços expositivos se dá por meio de rampas na área externa do prédio, permitindo a vista para o mar, as embarcações e as montanhas da cidade vizinha. Ao redor das construções se estende uma praça, onde podem ser apresentados espetáculos cênicos e exposições ao ar livre.

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Baía de Vitória

Vitória-ES | 1993 | projeto não realizado

O projeto define uma nova lógica para a ocupação da baía de Vitória. Um dos aspectos previstos diz respeito à área de manguezais situada no fundo do canal: preservado, o espaço pode abrigar fazendas marinhas que estudem e incentivem esse microclima tão fértil. Por onde se entra para a cidade velha foram feitos, ao longo do tempo, uma muralha de cais e um aterro, criando uma esplanada que vem sendo paulatinamente destinada a um uso institucional variado e desorganizado. Para contornar essa situação, foram imaginadas engenhosidades espaciais, como torres cristalinas construídas sobre o mar.

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Paulo Mendes da Rocha comenta o projeto para o porto de Vitória e suas relações com a cidade e com o meio ambiente local.

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Aquário de Santos

Santos-SP | 1991 | projeto não realizado

A diretriz básica do projeto é tirar o Aquário Municipal de Santos do confinamento em que está hoje – uma ilha entre as duas mãos de uma avenida à beira-mar –, desviando para trás a via que o separa da praia e permitindo, assim, que seu terreno se estenda em direção ao oceano. O pavilhão dos aquários propriamente ditos é projetado com uma estrutura em concreto armado e uma fachada de chapa metálica que não chega a encostar no solo. O que separa o exterior do interior do pavilhão, no nível do chão, é um espelho d’água, que atravessa os dois ambientes, comunicando-os e, ao mesmo tempo, isolando-os. É um pequeno “lago urbano” que permite que o ambiente não tenha muro nem grade.

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Vilanova Artigas

Em início de carreira, após ter seu projeto para o Club Athletico Paulistano selecionado em concurso (o edifício seria terminado em 1961), Mendes da Rocha tornou-se assistente do arquiteto e professor João Vilanova Artigas. Com esse que seria o mentor da sua geração, além de outros arquitetos, ele formaria a chamada Escola Paulista, vertente arquitetônica caracterizada, por exemplo, pelo uso do concreto armado e por projetos que enfatizam a técnica e têm a estrutura à mostra. Sobre essa escola, lemos na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras:

[…] a arquitetura feita em São Paulo cada vez mais se caracteriza pela introversão, pela continuidade espacial garantida pela adoção de rampas e de iluminação zenital, e pelo emprego de grandes vãos, gerando extensos planos horizontais de concreto aparente e exigindo o uso de técnicas construtivas elaboradas, como o concreto protendido. Mais do que uma busca puramente estética ou técnica, essas características revelam um projeto político para o país, que aposta na industrialização para a superação do subdesenvolvimento.

Para Artigas, cabe aos arquitetos contribuir para esse projeto de desenvolvimento nacional, algo que só poderia ser realizado pelo investimento na modernização técnica da construção civil, empregando a técnica do concreto armado, a racionalização do desenho tendente à pré-fabricação e à mecanização do canteiro de obras.

A convite de Artigas, Mendes da Rocha lecionaria na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) entre 1959 e 1998. Trabalharam juntos no projeto do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, criado por Artigas em 1967 e cuja construção foi encerrada no início dos anos 1980.

Artigas também foi homenageado pelo programa Ocupação, em 2015. Confira o site.

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“[...] a grande questão da arquitetura é saber o que se quer fazer. Esse saber não é individual, mas um saber da sociedade. O que desejamos?”

Trecho de "Maquetes de Papel", Paulo Mendes da Rocha, p. 45