Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Olhos nas Costas e um Riso Irônico no Canto da Boca

Criado e interpretado pela bailarina e antropóloga Luciane Ramos Silva, o solo de dança traz um p...

Publicado em 28/11/2017

Atualizado às 12:02 de 03/08/2018

Libras

No domingo 10 de dezembro, o Itaú Cultural apresenta o solo de dança criado e interpretado pela bailarina e antropóloga Luciane Ramos-Silva. Olhos nas Costas e um Riso Irônico no Canto da Boca traz um ponto de vista crítico sobre questões de identidade nas quais o corpo é o espaço da diferença. A partir disso, interroga as lógicas e as relações que definem os semelhantes e os outros.

Sobre o processo de criação do espetáculo, Luciane conta que ele veio como uma síntese criativa de alguns assuntos-chave abordados em sua tese de doutorado em artes da cena, na Unicamp: “Trata-se de abordar o corpo como espaço da diferença e de enunciação, de interrogar as ficções e os estigmas definidos pelo que chamo de ‘a ordem do outro’ e ‘a ordem do mesmo’ – inspirada pelo filósofo V. Y. Mudimbe – em que o pensamento hegemônico define quem são, como são, o que fazem e como se comportam os chamados ‘outros’. Falar de outro não é, portanto, apenas discutir ‘alteridade’, mas refletir sobre como padrões de estereótipos e perfis identitários são ‘criados’ como realidades ontológicas. As identidades estão constantemente em fluxo”.

O nome do espetáculo, que já é em si provocador, foi pensado logo no início da concepção do trabalho. Luciane comenta: “Orientada pela coreógrafa estadunidense Amara Tabor-Smith, que é codiretora da obra, trazíamos para o gesto dançado a ideia da ancestralidade e memória como recriação do vivido. E o nome também faz alusão à necessidade do jogo para a reexistência, com sutileza e sagacidade, dos ensinamentos profundos da presença negra na diáspora”.

A artista, que tem uma extensa biografia e formação, diz que a antropologia agrega à dança especialmente na reflexão sobre corpo e cultura “como nossa experiência como ‘corpos que sabem’ é atravessada pelas culturas que nos cercam; e digo isso não numa perspectiva de ode à diversidade e a tal ‘mistura’ de culturas que define o Brasil – esse elogio raso e irrefletido sobre a mestiçagem é um grande desserviço –, mas, sim, de como essas experiências são cheias de cortes e contradições, sobretudo porque o Brasil como sociedade não analisa com profundidade e honestidade as culturas que o fomentam e as hierarquias que impõem barreiras para nos reconhecermos desde dentro. O corpo-pensamento brasileiro é ainda colonizado. Essa transdisciplinaridade também me ajudou a pensar em como criamos coreografias sociais para reexistir”.

Já a abordagem de todas essas questões em Olhos nas Costas e um Riso Irônico no Canto da Boca se dá por meio de uma dramaturgia de dança que é entrecortada por palavra e texto, com a proposta de trazer uma memória histórica por meio da discussão no corpo. E como ela espera que essas mensagens sejam recebidas? “Como o espectador sente e entende não há como definir... é a própria experiência da arte. Ela não está dada. Ela é criada na ‘experiência em si’. Meu trabalho não é uma análise do meu próprio umbigo e, dessa maneira, acredito que são questões que revolvem brasileiros e brasileiras. Se vai tocar, incomodar, transbordar, veremos, ou melhor, sentiremos.”

Luciane Ramos-Silva é bailarina e antropóloga. Doutoranda em dança e mestra em antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com especialização em diáspora africana pelo David C. Driskell Center for the Study of the African Diáspora (Maryland/EUA). Atua como antropóloga no Acervo África e como professora na Sala Crisantempo e compõe o corpo editorial da Revista O Menelick 2º Ato. É cocriadora do Diaspóros Coletivo das Artes e membro do Fórum de Danças Contemporâneas e Corporalidade Plurais. Em sua trajetória de prática, pesquisa e ensino estudou em centros de referência como: Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Maryland (EUA), Ecole des Sables (Senegal), Edit (Burkina Faso), Centre Momboye (França) e Centre Bagatai (Guiné Conacry). Desde 2009 realiza pesquisa de campo na África do Oeste, mirando contextos pedagógicos e práticas artísticas de dança. Sua prática pedagógica está alicerçada em técnicas e poéticas afro-orientadas, organização do corpo e incentivo de formas descolonizadas de escritas de si.

Saiba mais sobre a artista na entrevista à série Diálogos Ausentes, aqui.

Olhos nas Costas e um Riso Irônico no Canto da Boca [com interpretação em Libras]
domingo 10 de dezembro de 2017
às 19h
[duração aproximada: 40 minutos]
Sala Itaú Cultural (piso térreo) 224 lugares

Entrada gratuita

distribuição de ingressos
público preferencial: duas horas antes do evento, com direito a um acompanhante – ingressos liberados apenas na presença do preferencial e do acompanhante | público não preferencial: uma hora antes do evento, um ingresso por pessoa.

[livre para todos os públicos]

Clique aqui para saber mais sobre a distribuição de ingressos.

ficha técnica

Idealização e interpretação Luciane Ramos-Silva
Codireção Amara Tabor-Smith
Trilha sonora NOISEstudio, Vinicius Chagas e Alysson Bruno
Figurino Marina Nascimento
Agradecimentos Siba, Metá Metá e Son of Baldwin
Desenho de luz Juliana de Jesus

Compartilhe