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Rumos 2015-2016: Pela música das mulheres

“A maioria dos grandes nomes da composição na música brasileira são homens”, afirma a cantora e compositora carioca Luiza Sales. Ela cita...

Publicado em 03/10/2016

Atualizado às 10:32 de 03/08/2018

por Victória Pimentel

“A maioria dos grandes nomes da composição na música brasileira são homens”, afirma a cantora e compositora carioca Luiza Sales. Ela cita músicos como Tom Jobim, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan e Edu Lobo. Quando pensa em mulheres no contexto musical brasileiro, lembra de Elis Regina, Gal Costa, Leny Andrade e Maria Bethânia – notáveis cantoras e intérpretes, mas não compositoras. Uma das selecionadas do edital Rumos Itaú Cultural 2015-2016, Luiza lança no dia 6 de outubro a segunda temporada de Meninas do Brasil, projeto que tem como objetivo dar às compositoras brasileiras da atualidade a divulgação que aquelas do passado não tiveram.

[caption id="attachment_94050" align="aligncenter" width="636"]A cantora e compositora Luiza Sales abre a 2ª temporada da websérie com duas composições próprias Luiza Sales abre a 2ª temporada da websérie[/caption]

No formato de websérie, o projeto nasceu quando Luiza realizava seu mestrado em performance contemporânea na Berklee College of Music, na Espanha, que despertou seu interesse na atuação da mulher como compositora. Em sua pesquisa descobriu, por exemplo, que teóricos como Jean-Jacques Rousseau “defendiam que a mulher não era dotada de espírito criativo e teria um cérebro ‘limitado’, semelhante ao de uma criança. Às mulheres era permitido aprender instrumentos musicais e teoria, mas não tinham espaço para compor músicas”. Pensando nas compositoras de sua geração, a cantora quis ir mais além. De volta ao território brasileiro, deu início ao Meninas do Brasil, utilizando a internet como ferramenta de divulgação do trabalho de mulheres compositoras da música independente.

A primeira temporada do projeto teve início em 2015 e recebeu dez musicistas, num total de 20 vídeos: Ana Clara Horta, Antonia Adnet, Luiza Brina, Marina Iris, Gabi Buarque, Ana Kucera, Dandara, entre outras. Com cada uma Luiza gravou dois vídeos: em um deles, a convidada da vez interpreta uma canção que compôs e, no outro, uma música de autoria da própria apresentadora. Em seu segundo ano, a série conta com novidades; o programa receberá 24 compositoras dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Entre elas estão Ana Costa, Iara Ferreira, Anna Paes, Milena Tibúrcio, Mariana Mello, Luisa Corrêa, Marcela Velon, Elisa Fernandes, Carol Panesi, Paloma Roriz, Rachel Moraes e Ilessi.

Na nova temporada, as convidadas gravam duas músicas de sua autoria – uma com Luiza, a outra solo – e uma entrevista. “Agora temos mais tempo e estrutura. Podemos conversar com as compositoras e ouvir um pouco mais sobre a história e os projetos que cada uma realizou”, explica a criadora da websérie. “Também falamos dos desafios de ser mulher na música e das inspirações de cada uma para compor.” Serão lançadas quatro gravações por mês, sempre às quintas-feiras ao meio-dia. Além disso, o projeto prevê a participação dos espectadores. “A ideia é que o público envie vídeos com perguntas para as convidadas e também nos mostre suas próprias versões das canções que serão lançadas”, diz Luiza. No dia 6 de outubro, a própria apresentadora abre a temporada, com duas composições inéditas.

Luta feminista

Luiza lembra que durante muito tempo as mulheres não podiam votar, trabalhar nem fazer as próprias escolhas. “Muitas foram privadas da oportunidade de desenvolver a criatividade, visto que o papel delas era apenas reproduzir música, e não criar.” Para ela, a luta feminista se fez mais forte, também, através de projetos como o Meninas do Brasil, entre eles o show-manifesto Primavera das Mulheres, o Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras e o coletivo de compositoras Amostra Nua de Autoras (ANA). “Vejo que, graças à luta das mulheres por mais espaço, a realidade está mudando e o público tem mais oportunidades de ouvir as nossas criações”, afirma a artista.

Ela ressalta que a representatividade é uma questão fundamental na busca pela igualdade de gêneros e utiliza seu projeto para destacar que as mulheres também merecem espaço para apresentar suas criações. “A importância, para mim, está na necessidade de mostrar que, ao contrário do que parece, as mulheres estão muito ativas na composição musical e que existem lindas canções sendo criadas por compositoras muito talentosas da música independente.”

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