PRESS KIT

Aula do papel –
Um movimento performático

 

A folha em branco escolhida por Angel Vianna para
sintetizar o uso do objeto em seus trabalhos é uma metáfora sublime da relação do corpo humano com o conhecimento
e sua inscrição no mundo

 

 

Por AnaVitória (*)

 

O acontecimento aula do papel, promovido, dirigido e atuado pela bailarina e mestra da dança contemporânea Angel Vianna é mais uma mostra de como o advento da arte contemporânea se revela inesgotável e surpreendente. Essa grande artista, que vem mobilizando o universo da dança brasileira desde a década de 1940 – investindo, sobretudo, na formação e na construção de uma consciência crítica e reflexiva sobre a área –, permanece nos dando prova de como os modos de expressividade artística são constituintes de uma investigação prática e contínua.

 

Ao fundir em seu trabalho pedagógico o acontecimento artístico com o gesto firme e talhado pelos anos de experiência, Angel nos apresenta um modo próprio de reclamar e declamar a vida. Em um profundo e autêntico entrelaçamento entre arte e vida – como o trabalho inaugural de Lygia Clark e Anna Halprin –, cruzou os limites preestabelecidos de sua linguagem e ousou se relacionar com outros campos do saber ao assumir seus modos singulares de criação e expô-los ao mundo. Contraria, assim, seus formatos e suportes convencionais e nos mostra que um dos papéis da arte contemporânea é justamente o de desestabilizar nossas crenças e certezas do que foi se engessando e enrijecendo em torno do que entendemos como arte.

 

 

 

 

 

O papel, o toque, a dobra e o ritual da vida

Muitos foram os objetos que, em sete décadas de pesquisa, Angel levou seus alunos a manipular: bolas de tênis, meias-calças, bambus, bancos de madeira e plástico, escovas, tecidos, ossos, balões de ar e inúmeros outros que eram trazidos para suas aulas. Suportes que saíam do seu uso cotidiano e passavam a ser interface de contato do corpo com o espaço e o tempo, servindo de ponto de apoio e aproximação com o corpo do outro. Pois todo trabalho de Angel parte do sujeito que, individualizado, desloca-se em direção ao coletivo.

 

O papel em branco que Angel nos coloca à frente a fim de manipularmos em seus jogos corporais ora se apresenta como espelho refletindo nossos traços e marcas, ora como folha retirada do nosso próprio livro da vida em que inscrições de afetos se instauram, ora como nossa própria pele solta no espaço, ora como a pele do outro que toco e me toca. Em suas três horas de atuação, Angel vai delicadamente nos conduzindo por caminhos exploratórios que fazem-nos recuperar e colocar em ação nossos sentidos, convocando-os a trabalharem juntos na busca de um estado de atenção e consciência de corpo.

 

A atenção se volta para dentro, para o gesto mínimo e preciso, para uma composição geométrica de linhas e formas que se entrecruzam num plissado assimétrico, impregnado de gestualidades e intenções entre sujeito e objeto. A partir dessas dobraduras, como um espelho-tátil1 em total sinestesia, corpo e objeto passam a ser mediados pela pele, “liberadora de tensões”, como repete Angel a todo instante e insiste: “o contato nos ajuda a encontrar conscientemente a forma do corpo dentro da pele”.

 

O trabalho de Angel Vianna é aberto, precisa a todo tempo entrar em crise para recriar-se e expandir-se. Assim “destrói” as dobraduras e suas linhas retas e, pelo “gesto firme, sem utilizar a força externa, mas sim a força vital”, converte o objeto, marcado por suas dobras, em uma pequena bola de papel, que vai ocupar os espaços vazios do corpo para recolocá-lo em seu eixo vertical. Maléolos, joelhos, assoalho pélvico, axilas e topo da cabeça são responsáveis por conduzir o corpo à sua verticalidade. Usando a bola de papel nos espaços “entre”, o corpo vai sutilmente negociando com o objeto e incorporando-o, a ponto de não mais precisar senti-lo e, ao retirá-lo, resta apenas o ar que assume o lugar da sustentação do corpo no espaço.

 

Angel lança um novo desafio, um salto em direção à relação construída com o objeto a partir do toque e da memória que se inscreveu durante a experiência. Propõe então que cada um desdobre todo o papel até sua forma primária para, a partir dessa nova perspectiva, reconhecer em seu próprio corpo marcas, cicatrizes, fissuras, arranhaduras, estrias, cortes, traços, sulcos e rugas. Agora, a qualidade do toque, ao desdobrar o papel, afinado pela experiência multissensorial orientada por Angel, compõe uma outra musicalidade como fundo para nosso encantamento com o objeto. Uma imagem caleidoscópica de nós mesmos.

 

O ato performativo atuado por Angel Vianna começa com uma espiral, numa menção clara de que se trata de uma experiência coletiva, ritualística, que, composta de ações para descobertas das singularidades, se relaciona com o outro e com a diversidade dos modos de experienciar e fazer arte. O dentro e o fora, o singular e o plural, o vazio, o entre e o cheio, o centro e a extremidade, o profundo e a superfície estão em jogo neste percurso que culmina em um chão de estrelas de todos os papéis picados pelos pés e misturados. Singularidades dissolvidas no comum e constituindo um todo coletivo.

 

 

 

1MASSUMI, Brian. A arte do corpo relacional: do espelho-tátil ao corpo virtual. Galáxia, São Paulo, n. 31, 2016.

 

(*) AnaVitória é coreógrafa e bailarina. Doutora em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), integra o conselho diretor e coordena o programa de pós-graduação em preparação corporal para as artes cênicas da Faculdade Angel Vianna (FAV).

 

[Este texto faz parte da publicação produzida pelo Itaú Cultural especialmente para a Ocupação Angel Vianna]

 

 

 

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SERVIÇO

 

Ocupação Angel Vianna

Abertura: 28 de fevereiro (quarta-feira), às 20h

De 28 de fevereiro (quarta-feira) a 29 de abril (domingo)

Visitação: De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h.

Sábados, domingos e feriados das 11h às 20h.

Classificação indicativa Livre

Piso Térreo

 

PROGRAMAÇÃO SINÉRGICA À OCUPAÇÃO ANGEL VIANNA

Ferida Sábia

1 e 2 de março, quinta-feira e sexta-feira, às 20h

Sala Multiuso

Duração: 35 minutos

Capacidade: 70 pessoas

Classificação Indicativa: Livre

Distribuição de ingressos:

Público preferencial:
duas horas antes do evento, com direito a um acompanhante

Público não-preferencial:
uma hora antes do evento, um ingresso por pessoa

Interpretação em Libras

 

Amanhã é outro dia

3 e 4 de março, sábado, às 20h; domingo, às 19h

Sala Itaú Cultural

Duração: 50 minutos

Capacidade: 224 lugares

Classificação Indicativa: 10 anos (apesar de não ter nenhuma cena ou tema inadequado, o tempo e a temática do espetáculo não são apropriados para crianças com menos de 10 anos)

Distribuição de ingressos:

Público preferencial:
duas horas antes do evento, com direito a um acompanhante

Público não-preferencial:
uma hora antes do evento, um ingresso por pessoa

Interpretação em Libras

 

Itaú Cultural

 

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: 11. 2168-1776/1777

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

 

 

     

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