Fotógrafos, pesquisadores e arquivos latino-americanos
A mostra apresenta trabalhos de artistas da Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, México, Peru e Portugal, todos com um olhar voltado para o passado, presente e futuro da América Latina. As imagens dos arquivos retratam, ainda, outros países do mundo como Estados Unidos, França, Jamaica. Confira os seus perfis e descrição de suas obras expostas.
ANDRÉ PENTEADO
Nascido em São Paulo, é fotógrafo e artista visual. Em 2013, venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger. Em 2014, teve seu projeto Tudo Está Relacionado selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2013-2014. Em 2015, publicou o livro Cabanagem, incluído na lista de melhores do ano dos sites Time LightBox e Photo-eye.
Trabalho: Cabanagem
Documento inventado
É possível criar documentos para interpretar o passado, ainda que sejam documentos contemporâneos. André Penteado reconstrói a passagem de um furacão histórico quase desconhecido e não retratado: a Revolta dos Cabanos, na selva ao norte do Brasil. O trabalho mostra que, em qualquer tempo – ontem, hoje e amanhã –, o abandono dos dirigentes e dos trópicos gera ódio e violência.
ANDRÉS FELIPE ORJUELA CASTAÑEDA
Artista colombiano radicado no México, é formado em artes visuais pela Universidade Nacional da Colômbia. Participou de exposições em diversos países, além do seu, – Estados Unidos, México, Panamá, Cuba, Peru, França, Espanha, Inglaterra e Brasil.
Trabalho: Arquivo Morto
Manipulação dos sais de prata
Se em alguns trabalhos expostos nesta mostra apresenta-se o documento in natura, puro, em outros, os artistas hiperbolizam suas linguagens para uma abordagem absolutamente política da repressão, do desrespeito às liberdades civis e às igualdades étnicas. Orjuela, pesquisando sobre as drogas, encontra no verde obsessivo a reafirmação da denúncia sobre a repressão.
BERNARDO OYARZÚN
Nascido no Chile, é artista visual. Formado em arte pela Universidade do Chile, participou de mais de 30 exposições internacionais, incluindo duas bienais. Seus trabalhos podem ser encontrados em importantes coleções de arte, como a Daros Latinamerica (Zurique, Suíça), e no Blanton Museum (Austin, EUA).
Trabalho: Bajo Sospecha / Aqui Todos Somos Suspeitos
O documento inventado
Bernardo Oyarzún, criminoso e suspeito, completa a visão de arquivo proposta por esta mostra. Ao misturar fotografia/documento, fotografia/arte e fotografia/performance, lembra a todos que estamos prontos para aceitar visões equivocadas, desde que elas apareçam documentadas em fotografias com estampas oficiais.
“COCO” LASO
Fotógrafo e curador, nasceu na Bélgica. Estudou artes na Escola Superior de Artes e Imagem Le 75, em Bruxelas, e comunicação na Universidade Central do Equador. Radicado no Equador, participou de diversas exposições mundiais. Premiado inúmeras vezes, é autor de diversos livros, entre os quais La Mirada y la Memoria, Otro Cielo no Esperes e Nunca un Río.
Trabalho: La Huella Invertida
José Domingo Laso (fotógrafo) e François “Coco” Laso (pesquisador do arquivo)
Uma nova forma de olhar velhos arquivos
Uma frase do fotógrafo José Domingo Laso (1870-1927) sobre a cidade de Quito é a antecipação explícita da gentrificação executada nas modernizações urbanas dos dias de hoje: “El elemento indígena, afeándolo todo y dando pobrísima idea de nuestra población y de nuestra cultura.” O material produzido por José Domingo entre 1911 e 1925 foi recuperado pelo bisneto François “Coco” Laso. Nas imagens, para eliminar os indígenas, o fotógrafo riscou as placas de vidro, os negativos do passado, e cobriu as marcas com vestidos brancos e sombreiros largos.
EUSTÁQUIO NEVES
Nascido em Minas Gerais, é fotógrafo e videoartista. Considerado um dos grandes nomes da fotografia contemporânea, seu trabalho tem sido amplamente divulgado em mostras no Brasil e no exterior. Em 1994, recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia com trabalhovoltado para fotografia de caráter étnico-cultural.
Trabalho: A boa aparência
A manipulação dos sais de prata
O fotógrafo Eustáquio Neves pesquisa a partir de textos periódicos e classificados de oferta de empregos o hábito cotidiano de se julgar os negros pela aparência – podia se chamar “boa esperança”, nome que se dava aos navios negreiros que buscavam uma saída no final da travessia dessa destruição de povos chamada escravidão.
JAVIER NUÑEZ DE ARCO
Nasceu em La Paz, Bolívia, no seio de uma família de antiquários. Formou-se ceramista e fotógrafo na Faculdade de Arquitetura Dade University, o que o levou a recuperar todo trabalho fotográfico que chega ás suas mãos. Durante 45 anos construiu uma arquivo fotográfico com mais de 10 mil itens entre daguerrotipos, negativos em placas de vidro, película fotográfica e positivos com datas desde 1870. A sua Paixão pela fotografía também o estimulou a colecionar
câmeras de todos os formatos, chegando a 10 delas e a criar o primeiro museu fotográfico da Bolívia
Trabalho: Arquivo Nuñez de Arco
Uma nova forma de olhar velhos arquivos
De uma perspectiva eurocêntrica, não há figura mais exótica possível da América Latina do que um indígena boliviano anão posando de rei, com o mundo aos seus pés. Essa figura – explorada pela literatura, pelo cinema, no mítico O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin, e parafraseada na série Game of Thrones (2011-) – serve aqui para reafirmar a esquizofrenia construída ao longo dos anos por aqueles que não se deram o trabalho de entender o diverso. As imagens, entre outras, formam parte do tesouro gráfico achado em uma velha caixa de sapatos há 15 anos em um antiquário boliviano: o arquivo perdido do fotógrafo, cinegrafista, escritor e correspondente de guerra alemão Hans Ertl, que posteriormente fixou residência na Bolívia.
JOÃO PINA
Nascido em Lisboa, é fotógrafo. Formado em fotojornalismo e fotografia documental pelo International Center of Photography (ICP), em Nova York (EUA), tem trabalhos publicados nos jornais The New York Times e El País e nas revistas The New Yorker, Time e Newsweek. Em 2011, recebeu o prêmio Leão de Ouro do Festival de Publicidade de Cannes.
Trabalho: Operação Condor
Documento inventado
João Pina, como um detetive particular a serviço da história, pesquisa aquele que foi um dos mais obscuros acordos feitos pela repressão em diversos países do continente americano. Seu trabalho se baseia em imagens históricas e absolutamente contemporâneas é o mais impactante relato que temos da Operação Condor.
JORGE VILLACORTA
Pesquisador, crítico e curador do Centro da Imagem, em Lima, no Peru. Foi curador-chefe da Bienal de Fotografia de Lima em 2014 e da exposição permanente do Lugar de la Memoria, la Tolerancia y la Inclusión Social (LUM), antigo Museu da Memória do Peru.
Centro de la Imagen Peru:
Instituto dedicado à formação de fotógrafos e à difusão da fotografia, foi criado em 1999, no Peru. Além da programação acadêmica, o centro conta com um departamento de restauração e conservação que abriga vários acervos, com um espaço de exposição – a galeria El Ojo Ajeno – e com a organização de eventos como a mostra fotográfica LimaPhoto e a Bienal de Fotografia de Lima.
Trabalho: Arquivo Rikio Sugano –Centro de la Imagen
Uma nova forma de olhar velhos arquivos
Rikio Sugano (1887-1963) foi um aventureiro japonês que viajou o mundo inteiro, retratandose
em planos inusitados, em busca do exótico, e que integra a mostra como o primeiro homem
obcecado com o selfie. O material aqui exposto foi achado e pesquisado primeiramente pelo
Centro de la Imagen de Lima, no Peru.
MAYRA MENDOZA
Pesquisadora e curadora mexicana, é subdiretora da Fototeca Nacional do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), no México. É coautora dos livros Hugo Brehme y la Revolución Mexicana e Imágenes de Cámara: Identificación y Preservación.
Sistema Nacional de Fototecas (Sinafo):
Instituição mexicana que reúne mais de 30 fototecas. Juntas, contêm mais de 3 milhões de imagens, de mais de 2 mil autores, em coleções públicas e privadas. Criado em 1993, o Sinafo tem como principal missão resguardar, conservar, catalogar, digitalizar e difundir o patrimônio fotográfico do México.
Trabalho: Arquivo Fototeca Nacional de México
Uma nova forma de olhar velhos arquivos
Se o mítico sombreiro mexicano é o ícone mundial do país, transitando entre a representação da alegria e da violência, na pesquisa de Mayra Mendoza fica evidente a construção desse discurso na encenação fotográfica fora dos riscos da guerra, instrumento comum na produção contemporânea. Ou seja: nada disso é acidental.
MARCELO BRODSKY
Fotógrafo, artista e ativista político argentino. Em 2008, recebeu o Prêmio de Derechos Humanos, concedido pela organização B’nai B’rith Argentina. Em 2014, fundou a Visual Action, plataforma digital dedicada a incorporar a cultura visual em campanhas de direitos humanos.
Trabalho: 1968, o Fogo das Ideias
Manipulação dos sais de prata
Marcelo Brodsky encontra na Argentina, na documentação dos movimentos libertários de 1968, a representação plástica daquele que foi um dos mais importantes movimentos em rede de uma época em que não se falava de redes. Alinha, com suas letras e cores, cada uma das diversas imagens com a força do historiador que o artista