TEXTO CURATORIAL

Cápsula do futuro

 

A América Latina, incluindo o luso-Brasil, construiu sua história sobre paradigmas que interessavam muito mais àqueles que falavam do outro do que aos que tentavam falar de si mesmos. A exposição investiga e revela as imagens de arquivos elaborados em processos cheios de vícios coloniais e aponta o dedo para outros formatos que podem ser inventados e nominados arquivo

 

 

Esta exposição não trata apenas de rever a ideia de América Latina proposta por arquivos elaborados em processos cheios de vícios coloniais. Arquivo Ex Machina revisita, de maneira contundente, os critérios que denominam aquilo que definimos como local de guarda de um conjunto de indícios documentais.

 

Quem define? Quem nomeia? Para quem define? Para quem nomeia?

 

A exposição aponta ainda o dedo para outros formatos que podem ser inventados e nominados arquivo.

 

A América Latina, incluindo o luso-Brasil, construiu sua história sobre paradigmas que interessavam muito mais àqueles que falavam do outro do que aos que tentavam falar de si mesmos.

 

Cabe no escopo do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo a tarefa de escolher outras cápsulas, para outros futuros. Ou de renomear velhas cápsulas, de futuros antigos.

 

Se, por um lado, nenhuma das cápsulas lançadas em décadas passadas sequer esbarrou no presente, por outro lado, no território desta mostra elas servem para dizer ao índio mapuche (população autóctone do sul do Chile e da Argentina) que – como definiu Cesare Lombroso (criador da antropologia criminal) – criminoso ou suspeito é aquele que o aparenta ser nos arquivos que solidificam o status quo, o estado das coisas, e não o status quase será também, uma liberdade criativa.

 

Como método de trabalho para a consolidação de Arquivo Ex Machina, fomos ao encontro de pesquisadores, curadores, colecionadores e artistas envolvidos com material de arquivo. De início, interessava-nos qualquer releitura dos paradigmas tradicionais. Posteriormente, estabelecemos três linhas de pesquisa: uma nova forma de olhar velhos arquivos, a manipulação dos sais de prata e o documento inventado.

 

 

 

Iatã Cannabrava e Claudi Carreras

 

 

[O título da exposição deriva da expressão latina deus ex machina. Criada no teatro antigo grego, definia a entrada em cena de um deus cuja missão era solucionar de forma arbitrária um impasse vivido pelos personagens. Por extensão, virou resolução inverossímil para um problema dramático. Em sentido figurado, algo que inesperadamente propicia uma solução para uma situação difícil]