Três passagens pelas quais o visitante pode entrar aleatoriamente conduzem ao universo de Laura Cardoso, em ambientes que entrelaçam e revelam registros de sua densa trajetória profissional, construída com intensidade e dedicação desde a sua infância.  De 22 de fevereiro a 30 de abril, a primeira Ocupação do ano, que leva o nome da artista, procura transmitir ao público o seu percurso pelos diferentes espaços cênicos – rádio, teatro, cinema, televisão – e afirmar sua presença como atriz e mulher, em cada um desses ambientes.

 

A curadoria da Ocupação Laura Cardoso, instalada no piso 1M, é da equipe do instituto formada pelo Núcleo de Artes Cênicas e da Enciclopédia Itaú Cultural, além do Núcleo de Produção. A expografia é do cenógrafo, figurinista e diretor de teatro Kleber Montanheiro.

 

O grupo vasculhou os arquivos dos espaços por onde ela atuou, também os acervos particulares e da família da atriz, entrevistou Laura e leu os escritos sobre ela, incluindo a autobiografia organizada por Julia Laks. "Comecei no rádio com um punhado de teimosia e outro de sorte, desenvolvi meu talento ao longo dos anos, em diferentes veículos, contei as mais variadas histórias”, diz ela. “Sempre avaliei a minha carreira como um caminho de oportunidades que trilhei com afinco. Nunca desleixei dela, nunca me envergonhei de nada. Ela está em mim desde pequena e vai embora comigo. ”

 

Pelo oitavo ano consecutivo, o Itaú Cultural segue com seu programa Ocupação com o qual destaca um artista ou grupo de referência na cultura brasileira, por meio de uma exposição, hotsite, publicação e programação em sinergia com o universo das personalidades homenageadas. A Ocupação Laura Cardoso é a 33ª e abre o calendário de exposições em 2017. Ao completar, neste ano, três décadas de atuação dedicada a levar aos brasileiros a arte e a cultura produzida no país, o Itaú Cultural prestigiará, nesta série, a vida e obra de mulheres que são referência no mundo das artes. Depois de Laura, virão a escritora Conceição Evaristo, a psiquiatra Nise da Silveira, a curadora de artes visuais Aracy Amaral e a cantora Inezita Barroso.

 

A EXPOSIÇÃO

Toda a pesquisa feita tem como resultado a construção de um espaço que leva o visitante às várias formas de construção do percurso de Laura. Revisita os seus personagens e como os construiu desde que, menina, encenava para a avó portuguesa, de cima de um caixote instalado na sua mercearia. Desde então, Laurinda, seu nome de batismo, já perscrutava o mundo que as fábulas lhe abriam. Ainda adolescente se atirou no universo das artes, contrariando as expectativas da família e desafiando os rígidos costumes da época.

 

Mais do que isso, também mostra uma face menos conhecida da atriz vista como uma operária, trabalhadora dedicada ao ofício da interpretação. Com a sua história artística iniciada na era do rádio, antes do surgimento da TV, o público pode conhecer, conjuntamente, a sua geração e os caminhos que, juntos, abriram e transformaram neste quase um século de encenações.

 

A cenografia da mostra propõe um cruzamento de fronteiras nas diversas etapas da vida de Laura. Não há linearidade. O visitante constrói seu percurso a partir das passagens que interligam os ambientes.

 

Uma delas leva o visitante a um espaço onde se concentram os registros fotográficos e audiovisuais que remetem às lembranças da atriz, suas origens, família e os primeiros tempos da carreira, com destaque para alguns dos trabalhos realizados então. É o canto da memória, com caixas que apresentam os seus guardados, manuscritos, textos antigos e audiovisuais. Vídeos gravados com atores que encenaram com ela, como Lima Duarte, Miguel Falabella, Odilon Wagner, Carla Camuratti e, na atualidade, Luís Melo com quem contracena em Sol Nascente, permeiam esses objetos.

 

Outra passagem conduz o público a um ambiente de criação, onde se pode ver fotografias, documentos originais e reproduções fac-similares de textos dramatúrgicos, publicações, críticas e reportagens. Aqui, uma vitrola e LPs com trilhas sonoras de novelas das quais ela participou estarão disponíveis ao público, que poderá manusear e escolher as músicas que quer ouvir. Todo este material ilustra o processo de trabalho da atriz e revela algumas das influências que contribuíram para a construção de suas personagens. Este é o ambiente batizado Chá de Laura, uma espécie de espaço da palavra, da leitura, da preparação dos personagens e da inspiração para entrar em cena.

 

Neste lugar de aconchego, todas as sextas-feiras e sábados até o final da Ocupação, são realizadas leituras dramáticas a partir de textos teatrais e roteiro de cinema (veja mais informação em “programa”, que inclui a programação de oficinas que rememoram a atuação de Laura na Rádio).

 

A terceira passagem leva ao espaço chamado À Flor da Pele e revela um espaço de experimentação sensorial e de subjetividades. O lugar coloca o público em contato com alguns dos papéis encenados pela atriz, especialmente na TV e no cinema, por meio de recursos audiovisuais e táteis, como tecidos com referências às características de suas personagens.

 

Todo a exposição conta com ferramentas de acessibilidade, com áudio-descrição e depoimentos em áudio, vídeos com interpretação em libras, e fac-símiles de matérias de jornais, roteiros de novelas e outros textos em braile. Tecidos que propõem uma construção imagética de personagens de Laura têm informações bordadas em braile. Uma foto ampliada da atriz ganhou versão tátil, assim como o mapa da exposição e o piso (saiba mais em Acessibilidade).