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Rumos 2013-2014: 6 Modelos para Jogar

Um dos fundadores, nos anos 1980, do Movimento de Grupos de Teatro de Rua de Porto Alegre, o diretor, dramaturgo e ator gaúcho Alex...

Publicado em 22/05/2015

Atualizado às 21:09 de 02/08/2018

Um dos fundadores, nos anos 1980, do Movimento de Grupos de Teatro de Rua de Porto Alegre, o diretor, dramaturgo e ator gaúcho Alex Cassal, e a bailarina e coreógrafa carioca Dani Lima, fundadora e ex-integrante da Intrépida Trupe, trabalham juntos e compartilham experiências desde meados dos anos 1990. Em 2012, os parceiros passaram a se dedicar a um projeto que pudesse reunir diretores e intérpretes em um espetáculo que fosse um jogo de encaixes de diferentes perspectivas.

Desde então, Alex e Dani reuniram artistas com quem já haviam trabalhado – como a bailarina mineira Denise Stutz, uma das fundadoras do Grupo Corpo – e outros com quem ainda não haviam tido a oportunidade de trabalhar – como o bailarino e coreógrafo paulista Cristian Duarte e o ator, diretor e dramaturgo curitibano Márcio Abreu – para dividir a empreitada.

“Logo nas primeiras conversas, chegamos ao nome do Julio Cortázar, um escritor que já lemos muito e pelo qual temos muita simpatia, pela forma lúdica e exploratória de lidar com a linguagem. Pela abertura ao diálogo com o leitor e por seu apetite voraz por referências e digressões, elementos que também aparecem em nossos trabalhos”, conta Alex.

O ator ainda completa: “Cortázar é desafiador sem ser hermético, apaixonado, desacomodado, instigante, curioso, aventureiro. Eu adoro a maneira como ele transforma os acontecimentos cotidianos e banais em paisagens fantásticas e iconoclastas. Eu compartilho de seu entusiasmo pelo jogo, pelo exercício, pela brincadeira e pelo improviso”.

À semelhança de Cortázar, que criou um novo livro – 62 Modelos para Armar – a partir de um único capítulo de O Jogo da Amarelinha, o grupo de cinco diretores propõe capturar elementos da obra do autor argentino, desdobrando-a em outro território.

“O que nos atraiu foi a ideia de jogo. De Cortázar fomos para outras referências – na literatura, nas artes visuais, no cinema e, claro, nas artes performáticas”, conta Dani Lima. “Transbordamos para outros autores”, diz.

Além de cinco diretores, o projeto conta com quatro criadores-intérpretes. Márcio Abreu convidou o ator e bailarino cearense Francisco Thiago Cavalcanti; Cristian Duarte convidou a dançarina paulista Júlia Rocha; Denise Stutz convidou o ator e dançarino baiano Fábio Osório Monteiro; Dani e Alex convidaram o ator, bailarino e coreógrafo gaúcho Renato Linhares (ex- Intrépida Trupe). Por acaso (essa palavra tão cara a Julio Cortázar), cada um dos integrantes do grupo vem de um estado diferente, assim como apresenta diferentes combinações de experiências entre o teatro, a dança e a performance.

O número 6 do nome do projeto é uma espécie de brincadeira e também uma declaração de princípios. “Pensamos inicialmente que cada diretor iria propor uma maneira de jogar, um modelo. No entanto, se somos cinco diretores, essa é uma conta que não fecha. Isso sugere que há um modelo oculto ou aberto – pode ser a presença dos intérpretes, dos espectadores ou a própria convivência com os outros diretores”, explica Alex. “Interessa-nos algo mais que um espetáculo episódico, em que cada diretor vai ser responsável por um momento autocontido; temos falado muito em como podemos nos deixar afetar uns pelos outros e pelo acaso. Como num jogo”, diz.

O espetáculo, no entanto, não é baseado em obras de Julio Cortázar nem faz citações delas. "Não teremos personagens como a Maga, o Horácio, o Traveler, a Talita e o Clube da Serpente em cena. Pelo menos não como personagens dentro de uma narrativa, no sentido literário ou dramatúrgico. Não queremos transpor o livro para outro formato, o da cena. Cortázar funciona aqui mais como uma peça de um jogo aberto a todas as referências que nos atravessam e influenciam (talvez seja o tabuleiro ou as cartas que dizem ‘Volte duas casas’, ‘Jogue outra vez’ ou apenas um peão colorido – um peão de um tamanho um pouco maior que os outros, porque tinha acromegalia). Quero crer que ele acharia isso divertido”, explica Alex.

No início de abril de 2015, o grupo realizou um primeiro mergulho no trabalho, reunindo os cinco diretores e os quatro intérpretes em uma sala de ensaios no Rio de Janeiro. “Foram oito dias intensos. Fizemos uma imersão para capturar procedimentos dos autores que estamos utilizando e transpô-los para o ambiente cênico”, conta Dani Lima. “Temos uma sucessão de capítulos em que vamos fazer a costura a partir de agosto. Ainda não sabemos se vamos estabelecer essa ordem ou se vamos deixar o público escolhê-la. Queremos uma narrativa não fechada, uma obra que possibilite a interferência ou a participação da audiência, assim como alguns jogos literários do Cortázar.”

Além de Cortázar, entraram no jogo nomes como Deleuze, Sophie Calle, Thomas Lehmen, Brian Eno, Alan Turing, Arthur Aron, Antonioni, Kiarostami, Bela Tárr, Tim Etchells, Hélio Oiticica e Xavier Le Roy.

“Experimentamos exercícios e propostas da prática de cada um, além de criarmos outros mecanismos em conjunto. Falamos muito de performatividade, relação com o outro, intimidade, deriva, presença, loopings, paisagens. Foram dias instigantes, todos experimentando juntos as mesmas coisas, diretores e intérpretes, encontrando juntos alguns fios (bem tênues ainda) que irão nos conduzir pelo trabalho à frente”, conta Alex.

A estreia de 6 Modelos para Jogar será no fim de agosto no Itaú Cultural, em São Paulo. Em outubro, o espetáculo chegará ao Rio de Janeiro, no Sesc Copacabana.

 

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