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Rumos 2013-2014: Derrubando preconceitos

selecionado: Maria João Filmes A história da Maria João Filmes é marcada pelo acaso e, quem diria, pela ajuda da burocracia. Alunos da...

Publicado em 11/12/2014

Atualizado às 21:03 de 02/08/2018

obra: Viagem Solitária
selecionado: Maria João Filmes

A história da Maria João Filmes é marcada pelo acaso e, quem diria, pela ajuda da burocracia. Alunos da Academia Internacional de Cinema, a paulista Patricia Galucci e o baiano Victor Nascimento tinham acabado de terminar de fazer o filme Irene e gostariam que a produção fosse vista por outras pessoas. “Não queríamos que ele morresse em nossas mãos”, lembra ela. Incentivados pelos professores, eles resolveram inscrever o longa em festivais.

Para tal, porém, era preciso ser uma produtora oficialmente, ter um CNPJ. Foi assim, empurrados por essa necessidade, que eles tomaram a decisão de fundar a empresa. “A partir daquele momento, sabíamos que teríamos que dar um passo importante e mirar o futuro de nossas carreiras”, conta a cineasta.

A investida deu resultado. Irene, que fala da redescoberta da sexualidade na terceira idade, ganhou prêmios como no Entretodos Festival de Direitos Humanos e no Barcelona International Gay & Lesbian Film Festival, entre outros.

Passados três anos desse início ocasional, a Maria João prossegue com a mesma motivação: contar histórias. Embora a produtora faça também outros trabalhos, temas ligados às questões que envolvem a sexualidade são um de seus principais focos.

O desafio atual é adaptar para o cinema o livro autobiográfico de João W. Nery, Viagem Solitária. O autor é reconhecido como o primeiro caso de cirurgia de mudança de sexo no Brasil.

A ideia do filme surgiu quando Patricia terminava seu trabalho de conclusão de curso da faculdade e se deparou com a obra. “Eu estava desenvolvendo uma pesquisa documental sobre gênero e papéis sociais. Naquela época de mergulhar em livros, uma amiga me indicou o do João. Eu me apaixonei e fiquei impressionada com como ele conseguia dizer com facilidade o que eu estava havia um ano desenvolvendo e pesquisando”, recorda.

Com aquela ideia fixa na cabeça, assim que teve oportunidade, ela pegou o carro e foi até Niterói (RJ) conversar com João pessoalmente. “Rolou uma empatia, uma química de bate-pronto, mas ele precisava pensar com calma, pois existiam propostas de outras grandes produtoras”, lembra.

Um mês depois, exatamente no dia de seu aniversário, Patricia recebeu como presente de João a cessão de direitos pelo período de um ano para fazer o filme ganhar editais e tentar criar vida. Victor também fez parte de todo esse processo de idealização do longa.

Ainda no ano passado, a Maria João foi contemplada com um edital da Secretaria Municipal de Cultura e pôde desenvolver uma primeira versão do roteiro do longa de ficção baseado no livro. Agora, com o apoio do Rumos, o texto receberá outros tratamentos e será finalizado. Além disso, haverá o desenvolvimento do projeto para a filmagem da obra. Com isso em mãos, será a hora de Patricia e Victor batalharem por novos investidores para fazer essa história ser apresentada ao público.

Para a cineasta, o filme deve ser realizado pela importância da história e pelo papel social que João exerce no Brasil. “Ainda hoje, 30 anos depois, essas pessoas sofrem preconceito.”

Aos 63 anos e com a saúde debilitada, João Nery vem acompanhando o desenvolvimento do roteiro. “Ele está superfeliz, empolgado, não acreditava que as coisas fossem acontecer assim tão rápido”, comenta Patricia.

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