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Rumos 2013-2014: Filha cultiva trajetória literária e humanista do pai

selecionado: Laura Faerman Quando tinha 13 anos, Laura Faerman viveu uma experiência pouco comum para uma menina de sua idade. Fã de...

Publicado em 22/01/2015

Atualizado às 21:04 de 02/08/2018

obra: Marcos Faerman – Reportagens Literárias
selecionado: Laura Faerman

Quando tinha 13 anos, Laura Faerman viveu uma experiência pouco comum para uma menina de sua idade. Fã de quadrinhos, ela fez uma entrevista de duas horas com o cartunista Will Eisner. Ao seu lado estava aquele que franqueou a oportunidade, Marcos Faerman, um dos introdutores do jornalismo literário no Brasil e também seu pai. É a ele que a hoje documentarista de 38 anos dedica um de seus mais importantes projetos: a criação de um site para a disponibilização das reportagens produzidas por ele.

Questões indígenas, atuação da polícia, disputas por terra e produção científica foram alguns dos temas abordados por Marcos Faerman ao longo de sua carreira. A maior parte dela foi exercida no Jornal da Tarde, veículo em que atuou de 1968 a 1992. Foram ao todo 806 reportagens.

Diferentemente do que era produzido tradicionalmente nos jornais, as reportagens de Marcos Faerman se destacavam pelo tratamento literário dado ao texto. Um cuidado maior com as palavras que permitem à leitura um sabor de ficção, mesmo sendo sempre pautado pela realidade. Esse tipo de jornalismo mais próximo da literatura surgiu nos Estados Unidos e tem entre seus principais expoentes autores como Gay Talese, Truman Capote e Tom Wolfe.

Laura Faerman cresceu ouvindo o pai relatar as mais diversas histórias que colecionava como repórter. “Ele envolvia todo mundo nas coisas”, destaca ela. Prova disso foi levar a filha nas duas entrevistas que fez com o cartunista Will Weisner. “Na terceira, ele me deixou entrevistar”, recorda. A documentarista não lembra onde esse material foi publicado, mas acredita que deve ter sido em um dos veículos alternativos em que o pai trabalhou. Isso porque, além do Jornal da Tarde, Marcos Faerman atuou em outros meios, especialmente na ditadura militar. De 1975 a 1978, ele criou e editou o jornal cultural Versus, e depois a revista Singular e Plural. No primeiro deles, Marcos Faerman propôs a discussão política e cultural do Brasil com o restante da América Latina e, com esse objetivo, contou com a colaboração de nomes como Julio Cortazar, Eduardo Galeano, Juan Gelman, Mario Benedetti e Mario Vargas Llosa.

O projeto do site prevê a publicação das 806 reportagens escritas por Faerman para o JT, além de artigos inéditos sobre a importância de sua obra escritos por jornalistas como Percival de Souza, Moises Rabinovici e Miguel Jorge, pelo poeta Claudio Willer, entre outros nomes. Também serão apresentadas entrevistas em vídeo.

Humanista

Laura chegou a cursar os primeiros semestres de jornalismo, mas acabou enveredando em um “parente” da profissão: a produção de documentários. A influência do pai está muito presente em seu trabalho, especialmente no interesse em abordar questões humanas e políticas. Exemplo é o curta Vlado e Birri – Encontros, que assina ao lado de Marina Weis. Narrado pelo cineasta Fernando Birri, o filme é uma homenagem ao jornalista Wladimir Herzog, morto pelo regime militar. Veja aqui.

No momento, também em parceria com Marina, ela desenvolve o projeto de documentário O Direito Indígena e a Ditadura Militar – o Relatório Figueiredo, que foi contemplado pelo fundo de desenvolvimento da prefeitura de São Paulo. “Ele [Marcos Faerman ] conseguiu deixar uma marca humanista, de luta por direitos, que era o modo como ele agia no mundo, muito generoso, muito humano. Sempre com essa coisa de judeus de esquerda, de olhar para quem está pior do que você, de se identificar com o oprimido”, conclui Laura.

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