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Rumos 2013-2014: O cinema que rompe as fronteiras do medo e do preconceito

Ecom – Escola de Cinema Olhares da Maré selecionado: Redes da Maré Sara Alves mora na Vila do João e, em muitos momentos, o contato...

Publicado em 10/11/2014

Atualizado às 21:02 de 02/08/2018

obra: Ecom – Escola de Cinema Olhares da Maré
selecionado: Redes da Maré

 

Sara Alves mora na Vila do João e, em muitos momentos, o contato com amigos e parentes que vivem na Nova Holanda, onde ela nasceu e foi criada, se mantém de forma difícil e distante. Apesar de todas as complexas questões sociais que ainda dividem as muitas comunidades do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Sara resolveu ousar e romper a fronteira invisível do medo por um motivo especial: frequentar as aulas da Escola de Cinema Olhares da Maré (Ecom). “Há muitos filmes na Maré e muita Maré para se ver como filme”, destaca Diego Jesus, coordenador da iniciativa.

O cineasta baiano de 25 anos ingressou no projeto em setembro do ano passado, depois de finalizar a sua graduação na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos. O convite partiu de Eliana Sousa Silva, uma das diretoras da Redes de Desenvolvimento da Maré, instituição sem fins lucrativos criada por um grupo de moradores e ex-moradores com o objetivo de concentrar esforços para melhorar a qualidade de vida no bairro, onde vivem cerca de 140 mil pessoas. Um total de 17 projetos são realizados pela entidade no complexo.

Diego foi chamado justamente para implementar o núcleo audiovisual. Logo que iniciou as atividades, o seu primeiro passo foi pesquisar a história do lugar e da instituição. “Vi que aquilo podia ser transformado em filme e pensei: por que não dar aos moradores a oportunidade de eles mesmos produzirem esses registros?”

É desse questionamento que surge a Ecom. A ideia é dar as ferramentas para que jovens e adultos possam pensar sobre o espaço em que vivem, suas histórias e memórias e, a partir daí, transformarem essas reflexões em imagens, em documentários.

O cineasta fez trabalho semelhante na comunidade quilombola de Santiago do Iguape, em Cachoeira (BA). Como parte de sua graduação em cinema pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) – finalizada depois na Califórnia –, Diego trabalhou dois anos como pesquisador de documentários e deu aulas em escolas públicas da pequena vila. O projeto tinha o mesmo caráter de preservar a cultura e a memória a partir do registro cinematográfico.

Apoio

A Ecom se tornou Ponto de Cultura municipal em janeiro deste ano e, a partir de março, já iniciou as suas atividades com a realização da oficina de Introdução ao Documentário. Os alunos fizeram o curta-metragem Copa para Quem?, filmado na comunidade da Nova Holanda e nos bairros de Santa Teresa e Jacarepaguá.

Com o apoio do Rumos, a iniciativa prossegue agora de forma ampliada, com a realização de novas oficinas e documentários. Uma das novidades é o Edital Doc-se, um exercício para que os alunos possam aprender como inscrever seus próprios projetos em editais públicos. Desta forma, eles poderão, mesmo fora da escola, dar prosseguimento à atividade cinematográfica. Embora simbólico, esse edital interno irá selecionar três projetos que vão ser transformados em curtas. “É uma forma de dar espaço para que essas propostas surjam fora do que a Ecom sugere”, frisa.

Como uma espécie de estágio, os participantes do curso irão organizar também a Mostra Maré Brasil, um festival de cinema nacional.

“O cinema não está dentro da Maré, está muito distante. Esta é uma forma de democratizar o acesso, criar plateia e também divulgar os filmes produzidos pela Ecom, para que eles possam ser vistos e discutidos pela comunidade”, salienta.

Ao final do curso – em meados de 2016 –, todo o trabalho resultante das oficinas será lançado em um box de DVDs e no catálogo Olhares da Maré, composto de fotografias, descrições e reflexões dos participantes.

Mais do que apenas os documentários e materiais produzidos como produto final da Ecom, Diego Jesus destaca que o impacto maior é ver a diferença que a iniciativa provoca no dia a dia dos moradores, como o de “levar as pessoas a cruzarem as fronteiras invisíveis”.

Para a aluna Sara Alves, a escola tem proporcionado o direito à discussão de muitos assuntos que permeiam a realidade da Maré. Nessa reflexão, aponta ela, a liberdade de expressão e o respeito mútuo têm sido essenciais para romper não apenas as barreiras invisíveis do medo, mas também as “barreiras não imaginárias, estas encontradas em toda a cidade do Rio de Janeiro e que ainda insistem em excluir, em ‘separar’ as pessoas que moram nas favelas. Nossa escola de cinema é uma bela conquista, tornou-se mais um direito adquirido e um veículo que pode possibilitar mais igualdade social entre seres humanos”, sublinha.

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