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Rumos 2015-2016: Swinga, pai!

Há 20 anos, o grupo Harmonia do Samba, capitaneado pelo vocalista Xanddy, fundava um novo ritmo na música brasileira: o pagode baiano –...

Publicado em 05/12/2016

Atualizado às 10:42 de 03/08/2018

Por Camile Sproesser

Há 20 anos, o grupo Harmonia do Samba, capitaneado pelo vocalista Xanddy, fundava um novo ritmo na música brasileira: o pagode baiano – conhecido também por swingueira, quebradeira ou muvucão. Originário de Salvador, na Bahia, o movimento rapidamente se espalhou pelo Brasil, que na segunda metade da década de 1990 fervia sob o refrão: “Segura o tchan, amarra o tchan, segura o tchan tchan tchan tchan tchan!”.

Grupos como Companhia do Pagode, Terra Samba, Gera Samba e É o Tchan foram os precursores de um movimento cultural muito maior do que se pode imaginar. Advindo do samba de roda do Recôncavo Baiano e do samba-reggae, o ritmo foi erroneamente chamado de axé music pela mídia, por se tratar de um gênero de origem baiana. Ao longo dos anos, após a febre passar, surgiram grupos como Psirico e Parangolé, e o ritmo seguiu sob menos holofotes e se concentrou nas praias e nas boates nordestinas, onde foi lançada uma nova expressão: a coreografia coletiva.

“Swinga, pai, tu não é Bahia?”, questiona um dos personagens do longa-metragem Swingueira – Corpo e Inventividade nas Periferias do Nordeste, contemplado pelo projeto Rumos 2015-2016 e idealizado em uma parceria entre o artista Felipe de Paula, que pesquisa a swingueira em seu curso de ciências sociais na Universidade Federal do Ceará (UFC), e o Coletivo Nigéria, representado por Bruno Xavier, Iargo Gurjão e Roger Pires – juntos há cinco anos, os três já realizaram documentários como Com Vandalismo, sobre as manifestações de 2013, e Defensxres, que aborda os direitos humanos no Brasil.

“O objeto principal de Swingueira são os jovens de periferia e como eles se relacionam com a dança, o vínculo deles com a cidade, o cenário da periferia, tanto visualmente quanto empiricamente, e a interação com arte e cultura”, conta Roger Pires, um dos realizadores do documentário. “Iremos acompanhar o cotidiano desses jovens e dar voz a eles.”

Entre negros, gays e lésbicas, em sua maioria pobres, a juventude que colore as pistas e os ginásios onde apresenta coreografias extremamente inventivas é também um grupo altamente marginalizado pela sociedade. Assim, para compreender melhor esse movimento é necessário pensar um recorte social que tem a dança como potência criativa em um contexto de invisibilidade cultural: a luta por novas possibilidades de viver a cidade e reinventar o corpo no duro cotidiano nas periferias nordestinas.

Portanto, a swingueira é também um movimento de resistência, pois mesmo sem nenhum tipo de incentivo se prolifera entre centenas de grupos de dançarinos, que criam e confeccionam o figurino para as apresentações e se organizam com determinação e independência. Exemplo disso é o Campeonato Cearense de Swingueira, com cerca de 50 grupos inscritos e cujas competições tomam forma em ginásios e quadras poliesportivas de colégios públicos da periferia, sem apoio financeiro.

“O filme será feito de forma simples, com uma equipe pequena. Vamos tentar usar o orçamento da melhor forma possível para dar voz a essa juventude e à sua expressão cultural: uma dança que talvez nem seja considerada arte, mas que na periferia é uma dinâmica cultural muito grande”, explica Pires. “Em Fortaleza a maioria das pessoas com quem a gente tem contato nem sabe que existe esse movimento; imagina no Brasil.”

O documentário, atualmente em fase de produção, será concretizado como filme para a web com direitos autorais livres e irá circular gratuitamente. Seu lançamento está previsto para o fim de 2017.

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