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Letícia, da Letuce: a banda achou a idéia diferente, topou e se deu bem (Foto: divulgação)

Crowdque?” é a pergunta mais ouvida dos que ouvem falar de crowdfunding pela primeira vez. Apesar do termo complicado de língua inglesa, essa prática tem ajudado a viabilizar a realização de diversos projetos, inclusive culturais. A palavra vem da junção de crowd, que significa multidão, e funding, financiamento – ou seja, financiamento coletivo (ou colaborativo) que é uma arrecadação virtual assemelhada à velha vaquinha: pessoas se juntam para contribuir com quantias que viabilizam a realização de um projeto. Filmes, espetáculos, livros, shows e exposições podem receber a contribuição de quem estiver disposto a abraçar a ideia. Os projetos são cadastrados em sites que funcionam como plataformas para pedidos de financiamento. Depois disso, quem entra em ação é o público, que geralmente pode doar de 10 a 5 mil reais para a ideia se concretizar.

A contribuição de Juliana Moreira foi de 200 reais. A estudante de jornalismo sempre foi fã de Kings of Convenience, dupla norueguesa pouco conhecida no Brasil. Como nunca teve chance de assistir a um show da banda, ela viu com entusiasmo a oportunidade de apoiar sua vinda ao país por meio do financiamento coletivo. “Não me sinto responsável pelo projeto em si, mas gosto de pensar que ajudei um pouquinho a trazer a banda que amo para um show”. A apresentação de dezembro de 2010, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, foi um sucesso. Além de ver seus ídolos ao vivo, Juliana recebeu o dinheiro de volta e, assim como outras 339 pessoas que ajudaram na arrecadação, assistiu ao show gratuitamente.

Antigo conhecido dos livros de escola, o mecenas, uma figura da Renascença que patrocina atividades artísticas e culturais voltou à baila com a popularização do financiamento coletivo. A opulência renascentista ganhou novo corpo no século XXI. Casos como de Juliana provam que não é necessário ser empresário, milionário ou ter contatos importantes para fazer acontecer um projeto atualmente, mas só um público que apoie e uma plataforma de divulgação. Juliana acessou o Queremos e ganhou o título de “carioca empolgada”, nome dado a todos os que investem dinheiro nos projetos do site, ao comprar uma cota de 200 reais. Ela recebeu de volta o dinheiro investido depois das vendas de ingressos para o público em geral porque a cota é reembolsável em todas as iniciativas do site que conseguem bater a meta proposta. É um incentivo para os fãs ajudarem a financiar uma apresentação que podem assistir gratuitamente quando ela ocorrer.




As Plataformas

De todos os sites de crowdfunding, o Queremos é o que mais se diferencia, pois se utiliza do financiamento coletivo para realizar shows no Rio de Janeiro que não interessam aos empresários da cidade. Para isso, os donos do movimento orçam os custos da apresentação, dividem o montante em cotas de 200 reais e apresentam em seu site a quantidade de fãs necessários para que o show aconteça. No caso do Kings of Convenience foram 340, mas no primeiro show oferecido, em setembro de 2010, só foram necessários 60 “cariocas empolgados” para trazer Miike Snow para o Rio de Janeiro. O Queremos foi o primeiro site de crowdfunding no Brasil, e a iniciativa pioneira de financiamento de apresentações do mundo inteiro. Mas enquanto o Queremos só organiza shows, muitos outros sites ajudam artistas independentes a tirar seus projetos do papel.

Com a dificuldade de arranjar patrocínio e das complicações dos editais do Ministério da Cultura, muitos interessados recorreram a essa nova alternativa de financiamento. O Kickstarter foi a primeira página do gênero e surgiu nos Estados Unidos em 2008, mas a ideia só pegou no Brasil com o surgimento do Catarse, no início de 2011. A partir de então, muitos sites de crowdfundingcomeçaram a aparecer com diversas propostas diferentes. O Benfeitoria não cobra comissão porque faz uma triagem extremamente minuciosa e só escolhe projetos que julgam transformar a sociedade de alguma forma. O Vakinha é focado em arrecadação para projetos pessoais como viagens e festas de casamento. Já o Catarse só escolhe projetos que acha viável.


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Imagem do topo: o pessoal do site Catarse (Foto: divulgação)