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Acervos fotográficos históricos: organização, pesquisa e usos de documentos visuais

Aline Lopes de Lacerda Boa parte das imagens fotográficas produzidas no passado, após cumprir um processo de produção e consumo, é...

Publicado em 23/07/2015

Atualizado às 14:58 de 13/08/2017

Aline Lopes de Lacerda

Boa parte das imagens fotográficas produzidas no passado, após cumprir um processo de produção e consumo, é alçada à categoria de documentos históricos pela sua inserção no circuito público, do qual fazem parte as instituições de guarda de acervos de valor permanente.

Este curso tem por objetivo apresentar um panorama sobre as etapas de trabalho que constituem a organização de acervos fotográficos nas instituições de memória, discutindo questões sobre o valor documentário das fotografias nesses ambientes, o impacto das metodologias de organização sobre os conjuntos documentais, a pesquisa dessas fontes nos ambientes de guarda de acervos históricos, entre outros aspectos.

Da entrada das imagens nos depósitos à sua disponibilização ao público de forma presencial ou remota, serão apresentados os diversos aspectos do trabalho de organização, visando a novos usos e novos significados por parte dos pesquisadores no presente.

O ponto de partida será a apresentação da trajetória do dispositivo fotográfico – representação visual forjada por meio de recursos óticos, físicos e químicos – na sua transformação, pelos usos sociais, em suporte de registro com caráter documental. Fruto das transformações técnicas possibilitadas pelo desenvolvimento industrial, a fotografia tem os seus valores e o seu estatuto de representação visual construídos e consolidados já no século XIX.

É nessa época que arquivos – no sentido ainda de conjuntos mais ou menos orgânicos de documentos fotográficos, produzidos ou acumulados em razão de atividades e funções das mais diversas – vão sendo guardados em diferentes espaços da vida social. Só um pouco mais tarde, a partir do último quarto daquele século, é que se começa a ter notícia de arquivos fotográficos já formalmente constituídos.

No século XX, os conjuntos documentais fotográficos começam a ser uma realidade nos arquivos de todos os tipos – primeiro nos institucionais e mais tarde nos arquivos pessoais. A sua produção e o seu acúmulo por indivíduos, famílias, empresas privadas e instituições públicas são refletidos na quantidade e no volume desses acervos e denotam o caráter instrumental consolidado em torno da fotografia como registro documental, tanto no mundo dos negócios quanto nos ambientes mais privados da vida doméstica.

O impacto da presença das fotografias no mundo dos arquivos e das instituições arquivísticas – marcado, desde a origem, pela consagração dos documentos ditos como “típicos” desses espaços, o documento textual, de caráter administrativo e público – pode ser notado de maneira negativa: pouco compreendidas, as fotografias acabaram sendo relegadas à condição de conjuntos isolados, autorreferentes, valorizados apenas pelo seu conteúdo factual, cujo tratamento os mantinha apartados e sem conexões de sentido com o restante da documentação na qual porventura poderiam estar inclusos.

Essa situação perdurou por boa parte do século XX. Podemos notar algumas mudanças mais significativas a partir dos anos 1970, quando a fotografia tem os seus valores renovados do ponto de vista das pesquisas em geral e da pesquisa histórica em particular. Esse cenário, formado também por outros aspectos, ajuda a impulsionar os trabalhos técnicos nas instituições de guarda de acervos, agora voltados para a abordagem desses documentos.

Assim, os usos de documentos fotográficos para públicos amplos vêm consolidando estudos, de abordagens diversas, cujo objeto são fotografias, ao mesmo tempo que alavancaram reflexões nas próprias instituições detentoras dos acervos no sentido de entender as peculiaridades dos documentos fotográficos em arquivos e coleções, as necessidades informacionais exigidas para o seu tratamento, os melhores métodos de tratamento técnico e, por último, mas não menos importante, a produção de sentidos em torno da sua capacidade de documentar uma realidade, em torno da sua transformação em fonte de pesquisa, em torno dos seus usos potenciais.

O curso pretende oferecer uma visão, ainda que introdutória, sobre essa dimensão de produção e consumo das imagens fotográficas no âmbito das instituições históricas, no qual estão disponíveis os acervos considerados de valor para a memória do país, para a história nacional. Podemos eleger algumas perguntas de partida: como se dá a entrada desses acervos no circuito público das instituições de guarda? Quais abordagens metodológicas estão envolvidas? Quais as principais etapas de tratamento desses materiais? Nesse processo, quais sentidos vão sendo gerados? Como são representados os acervos, e as informações sobre eles, para o público ter acesso? Quais as chaves de entendimento desses documentos já processados pelas metodologias de tratamento? Quais os critérios de seleção e preservação desses documentos?

Do ponto de vista dos usuários, outras perguntas podem ser colocadas: como pesquisar fotografias nos arquivos? Quais aspectos devem ser considerados? O que o usuário deve saber de antemão para que a sua pesquisa se realize em terrenos mais sólidos?

São essas as principais questões que servirão de fio condutor para o desenvolvimento do curso.


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