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Uma antologia aberta de Tribuzi

Muito já se disse da música e da poesia como alimentos para a alma. E o que dizer de Pão Geral – ...

Publicado em 15/01/2018

Atualizado às 18:59 de 09/02/2023

Por Zema Ribeiro

Muito já se disse da música e da poesia como alimentos para a alma. E o que dizer de Pão Geral – Tributo a Tribuzi, disco lançado em dezembro de 2017? Poeta sempre lembrado em São Luís e no Maranhão, pelos mesmos motivos: a autoria do hino da capital maranhense, o nome que sai impresso todos os dias em um jornal da cidade, que ele fundou, e a ponte que leva seu nome, a qual cotidianamente atravessamos indo da cidade velha à cidade nova e vice-versa.

É pouco. Se de muitos artistas falamos da necessidade de ser conhecidos por mais gente, de Bandeira Tribuzi podemos falar da necessidade de que mais gente conheça sua obra. Plural, que Bandeira foi vários: seminarista, poeta, jornalista, compositor, economista, marxista, preso político.

Com essa (nossa) vontade dialoga diretamente a primeira faixa de Pão Geral, “Declaração”, poema de Tribuzi musicado e interpretado por Zeca Baleiro: “Não quero ser guardado / numa antologia. / Ó que Deus me guarde / de ficar fechado / numa antologia”, diz a letra.

Neste caso, Bandeira Tribuzi está aberto nessa antologia, produzida pelo poeta Celso Borges, que já o havia homenageado em “Visão”, poema de seu livro Belle Epoque (2010). Borges, que em 2013 produziu, com Baleiro, A Palavra Acesa de José Chagas, mergulhou num processo parecido para, agora, homenagear o conterrâneo.

Tribuzi era compositor e deixou uma obra musical de cerca de 90 composições, mas o foco aqui é outro: poemas, publicados em livros, que ganham melodias de nomes contemporâneos. A única composição pensada como música pelo próprio Tribuzi é justamente “Louvação a São Luís”, o hino da cidade, aqui destituído de letra, na versão instrumental que fecha o disco e marca o encontro geracional entre os destacados violões de João Pedro Borges, o Sinhô, e Luiz Jr.

Interpretado por Susana Travassos, o fado “Soneto XVI” (musicado por Nosly) marca a ponte Brasil-Portugal, onde Tribuzi foi seminarista e quase se tornou padre. De volta à terra natal, o fã confesso de Manuel Bandeira – de quem José Tribuzi Pinheiro Gomes tomou emprestado o pseudônimo artístico – foi dos primeiros a bafejar os ares do modernismo pelo Maranhão. Entre os intérpretes convidados, apenas Travassos e Mônica Salmaso não são maranhenses. Esta comparece no disco num dueto sublime com Chico Maranhão, “Balada da Praia dos Lençóis”, musicada por ele.

Pão Geral atrairá novos olhares e ouvidos para a obra de Tribuzi. O disco é um interessante panorama por diversas fases de sua carreira, com uma diversidade de estilos e gerações, entre balada, modinha, reggae, bumba meu boi, samba, fado e canção, por artistas como Sérgio Habibe, Rita Benneditto, Fauzi Beydoun, Luciana Simões, Giordano Mochel, Josias Sobrinho, Flávia Bittencourt, Madian, Marcos Magah, Alê Muniz, Chico Nô, Preto Nando, Loopcínico, Bruno Batista e Claudio Lima (que assina o belo projeto gráfico, sobre ilustrações de Diego Dourado), além dos já citados.

Pão Geral atrairá novas atenções para a obra de Tribuzi pela qualidade no trato, de como seus poemas foram revestidos de música, num resultado que possivelmente satisfaria o próprio autor, apaixonado pela cidade de São Luís, falecido no aniversário dela em 1977. Mas, sobretudo, por sua atualidade: “Bem repartida a safra é vida multiplicada: / mal dividida, desumana / é a mão fechada contra a vazia. / É a noite e o dia / na melodia desafinada. / Haverá amanhã de Homem se do Homem não é irmão? / Haverá amanhã de Homem se é muito mais livre seu cão?”, pergunta-se/nos em “Samba Coral” (musicado por Alê Muniz, Celso Borges e Preto Nando).

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