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Viola Perfumosa

Ceumar, Lui Coimbra e Paulo Freire reúnem-se para homenagear Inezita Barroso

Publicado em 05/06/2018

Atualizado às 11:51 de 03/08/2018

Libras

Você já assistiu ao programa Viola, Minha Viola? E a faixa “Luar do Sertão”, conhece? “Tamba-Tajá” também? Tais obras, do título televisivo às canções, ganharam corpo com Inezita Barroso, a “dama da música caipira”. No decorrer de seus 90 anos, a intérprete de “Lampião de Gás” deu-se toda à cultura interiorana, à admiração e ao respeito enormes por aquilo que está distante do urbano, aquilo que se encontra no “de dentro”. Mesmo após sua morte, em 2015, inspirações e tributos não cessaram. Entre os intentos potentes dedicados a Inezita, destaca-se o Viola Perfumosa, reunião de Ceumar, Lui Coimbra e Paulo Freire.

O trio, cerne de um projeto idealizado pela produtora Renata Grecco, lança um disco-homenagem (patrocinado pela Natura Musical, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura – governo federal), marco celebrado em um show que resgata e recria a poética daquela que, no íntimo da alma, possuía um pouco de terra e mar.

O encontro certo

Viola enluarada, fora de moda, quebrada, “marvada”... Agora, repleta de aromas. Muitas são as facetas do instrumento-símbolo que, nas mãos da dona maior, se colocou como estandarte da raiz do dito raiz. Esse caleidoscópio rural chegou a Ceumar, Lui e Paulo de formas distintas. A moça da Serra da Mantiqueira ganhou, há tempos, uma caixa de CDs de Inezita. Escutou, escutou de novo e uma vez mais. Encanto firmado. O carioca conheceu grande parte do repertório da senhora Ignez por causa do pai, ouvinte assíduo. Herança paterna, portanto, a afinidade instalou-se no músico, hoje amante do folclore. Já o paulistano, desde cedo, foi incentivado no ciclo familiar a descobrir o universo das melodias: ainda menino, estudou em uma escola de música e, em 1977, influenciado pela leitura de Grande Sertão: Veredas (1956), embrenhou-se Brasil adentro, trilha pessoal que muito o liga à homenageada. Quatro décadas depois, assinou a curadoria da Ocupação Inezita Barroso, no Itaú Cultural.

Diferentes caminhos que, em 2016, se encontraram no palco: em Curitiba, a trinca formou-se primeiro. Espetáculo realizado, troca e êxito postos em pulsação, término de uma ideia, início de outra. Veio então o álbum. “Pegamos as canções que funcionaram mais no show e as mais afetivas. E não tivemos medo daquelas que são óbvias”, afirma Lui. Paulo completa: “Levantamos um repertório próximo ao de que Inezita gostava, ao que ela fazia. Procuramos manter o foco na cultura popular e expor a nossa visão disso tudo”.

Para a apresentação no Auditório Ibirapuera, tal essência ganhou reforço vindo da mescla do ao vivo, energia forte, com a bagagem do projeto amadurecido. “Foi rico construirmos algo em um repertório bastante vasto. Fizemos uma fusão do que, individualmente, poderíamos abraçar. O processo todo foi tranquilo e democrático”, conta Ceumar. Um exemplo desse espírito igualitário é a inclusão de “Bolinho de Fubá” na setlist, registro contemplativo da vida na roça que logo fisgou a cantora mineira, cuja memória se funde às imagens do alimento, do café quentinho e da chuva miúda a cair. A intérprete de Silencia (2014) sugeriu a composição aos colegas, que concordaram sem titubeio.

Profundo e além

O resgate de lembranças é elemento quase intrínseco ao sorver da obra em questão. O fio que amarra Ceumar ao bolinho é semelhante aos vários outros que, plateia afora, prendem, carinhosamente, os ouvintes da voz que entoa, entre inúmeras letras, o clássico samba “Ronda”, de Paulo Vanzolini. Trata-se de ir às entranhas do país e de si próprio, visitar lugares e emoções que, por vezes, são postos à margem. “São músicas que moram no coração e na saudade de muita gente”, comenta a mineira. Fora que atrelar sentimentos assim a expressões que vêm do povo é um jeito afiado de ser contra uma espécie de preconceito ainda em vigor – a insistência em virar o rosto para o que não nasce no rol do eruditismo. “Somos feitos da cultura popular – ela é uma riqueza nossa. Queremos que todos notem isto: a maravilha que é fazer parte dessa tradição”, diz Lui.

Viola Perfumosa | foto: Leo Aversa

Inezita Barroso, com propriedade, sentia e engrossava o fascínio desse pertencimento. Lado artístico alinhado à pesquisa, estudou, pisou o barro, pôs as botas para andar, proseou sem fim. Como Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos, esmiuçou o terreno das notas coletivas; mas nem por isso vestiu-se com um ar acadêmico pesado. Ao contrário. Com humor, apertava feridas, rasgava os problemas na vista de qualquer um. “Ela carregava a força de quem luta pelo que acredita – e é independente”, frisa Paulo. São essas amálgamas, tantas e tantas, que os integrantes do Viola Perfumosa recuperam. Um retornar aos olhos que enxergam a nobreza no chão, no cotidiano, no simples. No Brasil longe da costa. Um percurso cujo efeito é, no final, possuir você também um pouco de terra e mar.

Viola Perfumosa [com interpretação em Libras]
domingo 24 de junho de 2018
às 19h
[duração aproximada: 90 minutos]

ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)

[classificação indicativa: 12 anos]

abertura da casa: 90 minutos antes do espetáculo

Os ingressos podem ser adquiridos pelo site Ingresso Rápido, em seus pontos de venda e pelo telefone 11 4003 1212. Também estão à venda na bilheteria do Auditório Ibirapuera, nos seguintes horários:
sexta e sábado das 13h às 22h
domingo das 13h às 20h 

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