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1 de maio: Dia da Literatura Brasileira

Para celebrar a data, um pequeno complicado de ações do Itaú Cultural em favor da arte das palavras

Publicado em 30/04/2018

Atualizado às 11:17 de 30/12/2019

Por Heloisa Iaconis da Costa

A literatura é um direito de toda a gente. Necessidade universal de fabular, complemento da vida, enriquecimento dos olhos que se tem – eis algumas das veias que perpassam a arte da palavra. Quem a colocou assim, em termos do plano de justiça social, foi Antonio Candido, professor e crítico literário, autor de “O Direito à Literatura”, ensaio publicado no volume Vários Escritos (1970), texto que estampa a defesa das letras aprimoradas, em suas diversas modalidades, enquanto um direito inalienável. Desse modo, promover o acesso ao trabalho de ressignificação da linguagem é também almejar uma sociedade mais digna. Há de se comemorar, portanto, o 1 de maio, data de celebração da literatura brasileira, terreno do pensar e do sentir, casa de inquietudes particulares e coletivas, mar de escafandros mestres da língua portuguesa.

O dia escolhido para o relembrar anual é homenagem ao aniversário de José de Alencar, escritor cearense alinhado ao Romantismo. Nascido em 1829, o autor traçou um quadro do Brasil, projeto feito com alicerce em retratos de tipos e ambientes diversos. Iracema (1865), O Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875) são alguns dos títulos publicados pelo patrono da cadeira de Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Alencar, o Bruxo do Cosme Velho e tantos e tantas mais. Nomes e obras não faltam: são muitos, de anos antes aos de agora, prosa ou poesia. Como tributo singelo a quem cria narrativas, eis aqui um apanhado de oportunidades nas quais o Itaú Cultural, no decorrer de sua programação, ressaltou a importância das linhas que também pescam o não dito. Conheça, recorde e, acima de tudo, leia. Leia de novo. E de novo. E além.

Ocupação

Com 39 edições, Ocupação é ponte que liga novos ramos de artistas aos expoentes que os influenciam. Esforço para corroborar com a preservação da memória nacional, desde 2009, quando se deu a primeira mostra no formato, a iniciativa já esmiuçou as histórias de Paulo Leminski (2009), Haroldo de Campos (2011), Nelson Rodrigues (2012), Mário de Andrade (2013), Hilda Hilst (2015) e Conceição Evaristo (2017).

Paulo Leminski, poeta curitibano, cachorro louco que se pôs a serviço dos versos todos – haicais, ditados populares, canções e o que mais ativasse nele o estalo explosivo, a fagulha daqueles que inventam. Chegou ao mundo em 1944 e, no meio de 1989, partiu. Romance, biografia, ensaio e tradução são outros prismas seus, expostos em livros como Catatau (1975) e Distraídos Venceremos (1987).

Haroldo de Campos não era dado aos convencionalismos: experimentou e trocou o que pode no âmbito literário. Ao mesmo tempo, traduziu a Ilíada e transcriou Dante, Mallarmé e Goethe. Ao lado do irmão Augusto e de Décio Pignatari, deu corpo ao movimento concretista, poesia que ultrapassa o limite de estrofes comportadas e ganha o espaço. Galáxias, escrito-guia experimental, foi construído por ele de 1963 a 1976, e a edição integral saiu em 1984. Paulistano, faleceu em 2003, após quase 74 anos de puro engenho.  

Nelson Rodrigues é rei da palavra posta em movimento contundente: Vestido de Noiva, por exemplo, teve a primeira encenação em 1943 e, ainda hoje, ¾ de século depois, continua a impactar. Pernambucano de 1912, o dramaturgo atuou ainda no romance, no conto e na crônica. Dos dramas e defeitos humanos às jogadas de futebol, nada escapou ao seu olhar atento e sarcástico. Devido a problemas de saúde, morreu em 1980, mas legou ao público o exercício de reconhecer as camadas hipócritas e mesquinhas da sociedade.

Mário de Andrade foi 300, 350 em um: escritor, amigo de dúzias de artistas, professor de piano, fotógrafo, exímio realizador de cartas, gestor cultural, estudioso das profundezas do país. Nato de São Paulo, do ano de 1893, pai do herói sem nenhum caráter, colocou-se como pilar da Semana de Arte Moderna de 1922 e empreendeu andanças em prol do conhecimento do folclore tupiniquim. Espalhou-se pela Pauliceia desvairada (da Rua Lopes Chaves, morada do coração perdido, ao Pico do Jaraguá) e por canto onde pousou a curiosidade aguda, um sem fim de lugares que, de 1945 em diante, guardam, ao menos, alguns Mários.

Hilda Hilst tocou em fogo, naquilo que requer coragem e audácia. Nascida na cidade de Jaú, em 1930, tornou a não mais pertencer à esfera metropolitana central quando se estabeleceu na Casa do Sol, lar em Campinas, criado para lhe garantir disciplina criadora. Falou do lúcido, do obsceno, do lírico, do mundano. Interessou-se por teatro, entrou na seara cronística, deu-se inteira à poesia. Percorreu os meandros deste mundo – e também desejou demais universos. Com Meus Olhos de Cão e Outras Novelas (1986), Alcoólicas (1990), Estar Sendo / Ter Sido (1997), fora os casos da Senhora D. e de Lory Lamby, são títulos da autora falecida em 2003.

Conceição Evaristo apura, há 71 anos, escrevivências, fios esses que a constroem: mulher, negra, mineira, escritora e lados vários que compõem uma identidade questionadora. Com a caneta em punho, versa sobre maternidade, educação e memória. Empenha-se em difundir o valor da leitura e o quão preciosa é a questão da representatividade – na literatura, inclusive. Seja com olhos repletos d’água ou cheios de lágrimas insubmissas, a inventora de Ponciá Vicêncio (2003) continua a fazer do papel a sua extensão.

Ciclo Margens

Em uma série de vídeos, intitulada Ciclo Margens, gravados em 2017, escritores que não estão na linha de frente do mercado editorial têm espaço para contarem sobre suas ficções. Kika Sena, Jéssica Balbino, Allan Jonnes, Letícia Brito, Dona Jacira Roque de Oliveira e Janaína Moitinho revelaram as trilhas por eles percorridas para encontrarem o termo exato.

Escritora-Leitora

Carola Saavedra, Maria José Silveira, Índigo, Conceição Evaristo, Eliane Brum e Adriana Lunardi são profissionais que aceitaram participar de um duplo ir: pensar na própria produção e, concomitantemente, deter-se no posto de leitora. Afinal, verdade seja dita, para escrever há de ler. E não é pouco. Envolver a escrita com a voz é técnica de realce, engrandecimento daquilo que já germinou enorme.

Encontros de Interrogação

Dedicar-se à literatura é, no estofo do ofício, não fugir da tarefa de perguntar. Questionamentos acerca de mil e um temas, infinitos e, por vezes, sem respostas únicas. Demandas que aflingem e impulsionam. Dessas reuniões, participaram Marcelino Freire, Elisa Lucinda, Silviano Santiago, Andréa del Fuego, Lourenço Mutarelli, Milton Hatoum, Lygia Fagundes Telles, Marçal Aquino, Ivana Arruda Leite, entre outros artesões da narrativa.

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