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Cristina de Middel e Bruno Morais: o caráter mais primitivo da condição humana

Em série exibida na exposição "Ainda Há Noite", artistas refletem sobre o contexto sociocultural contemporâneo em imagens protagonizadas por animais noturnos

Publicado em 14/06/2019

Atualizado às 11:58 de 17/08/2022

por Cassiano Viana

O conceito da série Boa Noite, Povo, da dupla Cristina de Middel (Espanha) e Bruno Morais (Brasil) – trabalho que pode ser conferido na exposição Ainda Há Noite, exibida no Itaú Cultural, em São Paulo (SP) –, está baseado em dois eixos: um vertical e o outro horizontal.

Cristina de Middel e Bruno Morais participam da exposição Ainda Há Noite, em cartaz até o dia 11 de agosto (imagem: Bruno Morais e Cristina de Middel)

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"O eixo vertical trata da relação entre cultura e natureza e como essa relação, muitas vezes tensa, se reflete em nossos dias em um avanço de teorias negacionistas, terraplanistas e obscurantistas", explica Bruno. "O eixo horizontal responde por aspectos relacionados à produção iconográfica que vai desde as imagens de arquivo até a fotografia de natureza." O resultado são obras performáticas que mesclam imagens de arquivo, ação dirigida de animais silvestres, fotografia noturna e intervenções plásticas em imagens jornalísticas.

A obra Cruzeiro do Sul integra a série de Cristina de Middel e Bruno Morais na exposição Ainda Há Noite (imagem: Cristina de Middel e Bruno Morais)

A respeito do processo criativo, Bruno conta que, em um primeiro momento, a dupla definiu que tipo de imagens poderia funcionar para a série. "O segundo passo foi buscar em nosso arquivo imagens que pudessem servir de suporte para a atuação dos animais que iríamos buscar. Com essas imagens em mãos, o que fizemos foi ficar atentos à vida silvestre que habita nosso quintal. Principalmente morcegos e insetos, pois eram os que melhor respondiam às ideias que tentamos desenvolver", explica. A parte mais difícil, segundo o fotógrafo, foi "dirigir" esses pequenos atores com o mínimo de estresse. "Tanto para eles quanto para nós", brinca.

Sobre as imagens produzidas, a dupla pintou constelações de acordo com as histórias que ilustrava. "Com essa nova camada pretendemos reforçar o ideal humano de controle da natureza, pois as constelações representam um dos primeiros modelos de abstração humana relacionados à natureza", explica Bruno, para quem a fotografia produzida neste lado do Atlântico segue vibrante e crítica.

A obra Perseo também integra a série Boa Noite, Povo e está na exposição Ainda Há Noite (imagem: Bruno Morais e Cristina de Middel)

"Há uma infinitude de trabalhos interessantes, e iniciativas acerca da imagem pululam por todo o continente apesar do escasso investimento em cultura em todos os países", observa. "A produção latino-americana não deve nada à de outros continentes e se encaixa perfeitamente nos dois eixos principais que norteiam a fotografia mundial. Se levarmos em conta a carestia financeira por aqui, a falta de investimentos e de políticas públicas, e a dificuldade para a impressão e a distribuição de fotolivros, podemos considerar que se está produzindo uma fotografia que se destaca por sua criatividade e seu compromisso com os temas nacionais."

A exposição Ainda Há Noite – que tem curadoria de Claudi Carreras e Iatã Cannabrava – fica em cartaz até o dia 11 de agosto de 2019. A entrada é gratuita.

 

Cassiano Viana é jornalista e editor do blog About Light.

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