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85x3: cronistas celebram o aniversário de Luis Fernando Verissimo

Claudia Nina, Daniel Bovolento e Rafael Rodrigues falam sobre a importância do autor de "Comédias da vida privada" (1994)

Publicado em 26/09/2021

Atualizado às 17:36 de 30/09/2021

por Heloísa Iaconis

Era o Carnaval de 2014 quando a Imperadores do Samba, agremiação de Porto Alegre (RS), homenageou as personagens de um autor conterrâneo: Luis Fernando Verissimo. Ed Mort, Velhinha de Taubaté, Dorinha e Analista de Bagé, por exemplo, são criações do escritor que extrapolam as páginas de livros e jornais: como se ganhasse vida, essa gente feita de palavras, invencionice e humor já virou estátua, quadrinhos, teatro – além de samba e desfile. Criaturas assim, tiradas das contradições do Brasil, mostram que Verissimo é o mestre da literatura do comum sagaz. Do riso inteligente extraído do ordinário, das obsessões e dos “joelhaços” que se levam por aí.

Como o jazz, uma paixão sua, o artista elaborou uma obra que se trança ao afeto de muitos. Por isso, para comemorar os 85 anos de Luis Fernando Verissimo, o site do Itaú Cultural (IC) convidou Claudia Nina, Daniel Bovolento e Rafael Rodrigues, três desses muitos, para compartilharem memórias envolvendo a prosa de estilo conversa boa do aniversariante de hoje, 26 de setembro.

Claudia é escritora, jornalista e crítica literária, autora de Esquecer-te de mim (2012) e Paisagem de porcelana (2014), entre outras obras. Daniel lançou, por enquanto, cinco títulos, tendo sido finalista do Jabuti 2019 por O que eu tô fazendo da minha vida? (2018). E de Rafael, responsável pelo blog Paliativos, o mais recente livro é Todo esse amor (2021). Os três encontram-se, em especial, no exercício cronístico, ofício todo atravessado pelo que Verissimo tem construído há décadas. Veja: os 85 anos do criador de Ed Mort, Velhinha de Taubaté, Dorinha e Analista de Bagé, os 85 anos aqui se multiplicam por três, em cada um dos escritores que o celebram. Essa conta, contudo, poderia mesmo ser vezes dez, cem ou mil: afinal, quantos leitores, de todas as áreas e idades, não se colocaram inquietos diante das linhas de Verissimo?

As mentiras que os homens contam (2000) e As mentiras que as mulheres contam (2015), livros de Luis Fernando Verissimo | foto: Heloísa Iaconis

 

>>Claudia Nina: 

“Verissimo corre nas veias dos cronistas de agora sem que se perceba. É a referência mais imediata, óbvia e pulsante de quem escreve para jornais textos sobre o cotidiano, o país, histórias entreouvidas. Em grande parte, a minha coluna Histórias que a vida conta, da Seleções, aprendeu de Verissimo alguns diálogos curtos e verossímeis. A facilidade em destrinchar com inteligência, sem afetação, um texto inteiro a partir de temas banais é lição de toda hora. Falando nisso, lembro-me de um texto chamado ‘Banalidades, banalidades’, em que ele diz: ‘Acho que devemos todos nos dedicar seriamente à banalidade. O mundo não tem jeito mesmo, deixa o mundo para lá. Não se preocupe em se distrair e ficar desinformado: quando o mundo chegar ao fim, com um estrondo ou uma inalação, nós saberemos. Fique descansado, ele não acaba sem você. Às banalidades, portanto’.”

>>Daniel Bovolento: 

“Verissimo foi meu primeiro contato com o universo das crônicas: li Comédias para se ler na escola e As mentiras que os homens contam lá em 2006, quando ainda nem sabia que gostava de escrever. A irreverência dele sempre me causou admiração e um quê de inveja da capacidade de transformar as realidades em um humor específico (e até absurdo para a época em que comecei a ler). Se não fosse por Verissimo, eu teria demorado muito mais para descobrir o gosto por leituras fluidas e textos que extrapolam os limites do humor cotidiano.”

>>Rafael Rodrigues: 

Luis Fernando Verissimo foi um dos autores que mais me estimularam a escrever crônicas. E, de fato, quando escrevi meus primeiros textos, sob a influência de vários dos seus livros, tentei imitá-lo – sem sucesso, obviamente. Porque não há como imitar Verissimo. Ninguém escreve nem jamais escreverá como ele. Seu humor, sua escrita leve e sua facilidade para transitar entre os mais diversos temas, inclusive os delicados, são características difíceis de encontrar em outros cronistas. São poucos os que têm essa desenvoltura. Li muitos dos seus livros no início da minha atividade como escritor, continuei lendo ao longo dos anos e faço isso até hoje. Em busca não apenas de inspirações, mas também de risos, respiros, reflexões e emoções. Viva Luis Fernando Verissimo!”

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