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Entrevista com Mayra Mendoza: "Produzimos imagens, mas não somos todos fotógrafos"

Pesquisadora e curadora mexicana, Mayra Mendoza é subdiretora da Fototeca Nacional do Instituto Nacional de Antropologia e História...

Publicado em 17/05/2016

Atualizado às 17:03 de 07/08/2018

Por Cassiano Viana

Pesquisadora e curadora mexicana, Mayra Mendoza é subdiretora da Fototeca Nacional do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), no México. Coautora dos livros Hugo Brehme y la Revolución Mexicana e Imágenes de Cámara: Identificación y Preservación, ela lembra a importância dos arquivos de imagens. "Hoje, lidamos com o agora, com o momento, mas, se as pessoas que nos precederam não tivessem tomado para si o trabalho de guardar e colecionar álbuns, fotografias e outros documentos, não teríamos o conhecimento do desenvolvimento das sociedades, ou seja, não teríamos memória visual coletiva."

Mayra defende a impressão seletiva das imagens produzidas digitalmente. "É preciso garantir a permanência, e não armazenar essas imagens apenas em discos rígidos ou nas 'nuvens', assumindo que ali serão eternas", diz a artista, que participa no dia 17 de junho, às 18h30, da mesa de discussão A Revanche do Arquivo Fotográfico, com o artista e curador suíço Joerg Bader e com a artista brasileira Rosângela Rennó – o evento integra a programação do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, que será realizado no Itaú Cultural de 16 a 19 de junho. Para Mayra, é preciso fazer uma distinção entre imagem e fotografia. "Apesar do acesso a uma câmera via smartphone, isso não quer dizer que todos somos fotógrafos."

Fórum de Fotografia 2016

 

Qual é o papel da fotografia hoje?
Em primeiro lugar, eu faria uma distinção entre imagem e fotografia. Hoje em dia, todos somos fazedores de imagens, já que uma grande quantidade da população mundial tem acesso a uma câmera, em um dispositivo móvel, em smartphones. Mas isso não quer dizer que todos somos fotógrafos. A fotografia, para além da câmera, implica um ofício e, sobretudo, uma intenção. A função social da imagem se cumpre ao poder compartilhá-la com um público cada vez mais amplo e que produz milhões de imagens diariamente publicadas nas redes sociais. No entanto, em termos de fotografia, apenas algumas transcendem a proposta visual de quem gera essa imagem.

Um exemplo disso, independentemente da crueldade evidente neste caso, é a foto de Aylan Kurdi [menino sírio de 3 anos que apareceu afogado em uma praia na Turquia], que estremeceu a todos que a viram. Sem dúvida, essa foto não mudará a situação política e social da região, mas serve para fomentar o debate e a reflexão em torno da migração síria, e esse lamentável fato nos permite refletir sobre nossa postura como sociedade. É aí que a fotografia tem um papel importante, como registro e testemunho.

Desde sua invenção, a fotografia tem desempenhado um papel importante nas diferentes sociedades; não digo que ela represente a verdade ou a realidade – a eterna discussão sobre o passado –, mas ela nos fornece uma interpretação dos fatos, dos acontecimentos. Em termos históricos, a fotografia nos brinda com interpretações dos eventos que acontecem em nosso entorno.

O tema do fórum neste ano é a fotografia como arquivo de pensamento e de imagem. Qual é a importância dos arquivos de imagens para a área fotográfica?
É, sem dúvida, fundamental. Porque, se não temos arquivos, fototecas ou espaços que seletivamente resguardem as fotografias, não teríamos a memória no futuro, o que seria preocupante. Hoje, lidamos com o agora, com o momento, mas, se as pessoas que nos precederam não tivessem tomado para si o trabalho de guardar e colecionar álbuns, fotografias e outros documentos, não teríamos o conhecimento do desenvolvimento das sociedades, ou seja, não teríamos memória visual coletiva.

O trabalho daqueles que atuam em repositórios de fotografia patrimonial é justamente preservar e divulgar para as gerações seguintes os antecedentes sociais, culturais, políticos e econômicos da nossa sociedade. Por isso, considero importante que a produção feita com dispositivos digitais seja selecionada naquilo que consideramos importante e que possa transcender para garantir sua permanência, e não armazenada simplesmente em discos rígidos ou nas 'nuvens', assumindo que ali será eterna. O homem é por natureza fetichista, e a posse de um objeto o torna mais precioso. Esse é um valor intrínseco da impressão fotográfica.

Na sua opinião, qual é o papel do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo?
Eventos como o fórum de São Paulo têm um papel muito importante no contexto da cultura fotográfica internacional. Graças à tecnologia, podemos discutir ideias, compartilhar conhecimento e viabilizar projetos com pessoas que se encontram em outros lugares, em outras latitudes, mas dificilmente isso carrega o mesmo impacto, não substitui um encontro físico, em que a interação entre indivíduos facilita uma discussão mais crítica, personalizada e rica. Creio que o fórum tem sido bem-sucedido graças a essa troca de ideias e experiências e por viabilizar diversos projetos resultantes de interações entre os participantes do evento.

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