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Festival Arte como Respiro: assista à Mostra 3 de artes visuais

Sete obras selecionadas no edital de emergência ficam disponíveis até 16 de outubro

Publicado em 14/09/2020

Atualizado às 19:19 de 16/08/2022

De 2 a 28 de setembro, o Festival Arte como Respiro apresenta sua segunda edição. Desta vez, artistas selecionados pelos editais de emergência de música e de artes visuais se juntam aos de artes cênicas.

O evento, que segue totalmente on-line aqui no site do Itaú Cultural (IC), conta com espetáculos de teatro, dança e circo, apresentações musicais e obras de artes visuais.

Veja também:
>> Festival Arte como Respiro: assista à Mostra 1 de artes visuais
>> Festival Arte como Respiro: assista à Mostra 2 de artes visuais

Nesta terceira mostra, a ideia de identidade em meio à pandemia foi o ponto de partida dos sete trabalhos selecionados. Obras que atravessam essa busca por sentido, por conexão com lugares, com povos, com linguagens e ancestralidades. Através de memórias, imagens e histórias, os vídeos aqui apresentados percorrem o Brasil falando de mitos regionais e de reafirmação de identidades.

O tempo de isolar-se socialmente, de afastar ou separar-se do outro é, por vezes, ocasião para voltar-se para si, entrar em contato com questões que tocam as individualidades do sujeito. Nesta perspectiva, o artista, indivíduo cuja sensibilidade faz parte do labor, parece manifestar com perspicuidade essa necessidade de reconexão, de se reconhecer.

As obras ficam disponíveis aqui no site do Itaú Cultural de 16 de setembro (a partir das 18h) a 16 de outubro. Confira abaixo a programação – cada vídeo tem link próprio.

Tibagi
(Chico Santos, 2020, 6 minutos)

A partir de uma pesquisa sobre histórias da bacia do Rio Tibagi, no Paraná, Chico Santos reelabora lendas e mitos regionais. Produzindo falsos resquícios, costumes e fake news pela região, cria, por meio de metáfora, um ser guardião vingativo que protege as áreas naturais. Filmagens feitas no norte do estado.

Chico Santos é graduado em artes visuais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pós-graduado em mídias interativas. Trabalhou em TVs locais por mais de dez anos. Atualmente, discute o crescimento urbano nas áreas naturais com uma pesquisa sobre histórias e urbanismo.

[livre para todos os públicos]

O Sol Nascerá
(Denilson Baniwa, 2020, 10 minutos)

Em momentos como o que vivemos no presente, é importante não perder as esperanças de um caminho melhor a trilhar. Mesmo em dias cobertos por nuvens de tempestades, devemos imaginar o nascer do sol e o calor que vem dele. O sol nascerá, e trilharemos um novo caminho, sabendo que também precisamos mudar para o mundo novo que surgirá.

Denilson Baniwa é um artista-antropófago, pois apropria-se de linguagens ocidentais para descolonizá-las em sua obra. Sua trajetória contemporânea consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional.

[livre para todos os públicos]

Buscando um olhar experimental, Denilson Baniwa (O Sol Nascerá) nos faz flanar entre flores, cantos e pássaros que entrelaçam um corpo indígena em um movimento perene. Dentro da mesma perspectiva, Rafael Muniz (Ateliê Terreiro: Humaitá como Campo de Jogo, 03) apresenta um jogo de cena composto por escalas e objetos diversos que sobrepõem-se em um fluxo de cores e estética hipnotizante.*

Ateliê Terreiro: Humaitá como Campo de Jogo, 03
(Rafael Muniz, 2020, 13 minutos)

O acúmulo de elementos nesta pequena cena produz a expectativa de um gesto cuja medida desconhecemos, que faz com que o caráter competitivo do jogo se perca, enquanto se ganha com outro jogo, por meio da repetição dos objetos, das posições desses elementos e em suas aproximações e distanciamentos, numa brincadeira com suas escalas. Como um eterno devir, o trabalho pode ser entendido como metáfora do que vivenciamos com o isolamento social. A arte é um ponto de fuga, uma necessidade que se converte em liberdade pela potência de agir, mesmo que em condições mínimas.

Rafael Muniz é graduado em artes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vencedor do Prêmio Maria Conceição Menegassi (2013). Tem obras nos acervos da Universidade Feevale e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Estuda antropologia e etnografia de religiões de matriz africana no Brasil e o sincretismo como metodologia para poética em artes visuais.

[livre para todos os públicos]

Brasil Vermelho ou como Despir-se das Fantasias
(Natália Lobo, 2020, 5 minutos)

Com o confinamento, é comum que as pessoas se sintam sufocadas pela restrição dos espaços. No entanto, neste trabalho, a artista buscou apresentar uma narrativa em que o isolamento não é somente aprisionamento, mas uma possibilidade de expressar uma identidade indígena que lhe foi e ainda é negada pelo Estado e pelos olhares da rua. O estar em casa passa então a ser abrigo e acolhimento.

Natália Lobo é artista visual, filha de caboclos e da terra. Atua na área de arte contemporânea, com foco em performances e intervenção urbana, dedicando-se à investigação de corpos amazônicos, identidades na Amazônia, partindo de sua própria ancestralidade e violências que a atravessam.

[livre para todos os públicos]

O trabalho Guardiões de um Tesouro Linguístico, de Elvis Ferreira de Sá, registra o cotidiano na aldeia Fulni-ô e eterniza uma língua transmitida com sabedoria por seus anciões.*

Guardiões de um Tesouro Linguístico
(Elvis Ferreira de Sá, 2019, 16 minutos)

O Coletivo de Cinema Fulni-ô surgiu em 2010, numa iniciativa da ONG Vídeos nas Aldeias, do diretor e cineasta Vicent Carelli e de professores indígenas Fulni-ô residentes na aldeia. Agitado pela participação pioneira de Elvis Ferreira de Sá, o coletivo iniciou suas atividades com um projeto do Banco do Nordeste, com oficinas de cinema em suas diversas vertentes, o que culminou na produção de Yoonahle, primeiro filme totalmente desenvolvido na aldeia Fulni-ô. Hoje, com quatro filmes já produzidos, o coletivo segue com seus objetivos de registro através dos recursos audiovisuais das vivências históricas e da abordagem da conjectura atual do cotidiano Fulni-ô em sua essência.

Elvis Ferreira é índio Fulni-ô natural da cidade de Águas Belas, Agreste Meridional de Pernambuco. Formado em licenciatura intercultural indígena, é professor nas escolas Fulni-ô há mais de nove anos.

[livre para todos os públicos]

Em Procissão para os corpos que não morreram, Maria Macêdo faz um belo e sensível exercício de memorar processos históricos e transgredi-los em gesto. Em período de pandemia, quando nos encontramos coletivamente isolados e assustados pelo perigo do vírus, é preciso encontrar meios para resistir. 

Procissão para os Corpos que Não Morreram
(Maria Macêdo, 2020, 4 minutos)

Caminho reverso para a cura do avesso. Ação, oração e devoção silenciosas para os corpos que permanecem vivos, mas invisíveis. Uma procissão de desejos gestados no útero dos pés em contato com o trato da terra. Exercício de ruptura das verdades historicizadas, estilhaçando o sentido das permanências, dos processos de migração como desenraizamento histórico que precisa ser reflorestado na existência do agora. Rumo controverso da promessa de salvação das urbes. Cruzamento de terra com asfalto. Encontro com a memória, benzimento das quatro. O asfalto não vai salvar ninguém.

Maria Macêdo é artista visual e educadora. Evocando a força ancestral da vida no campo, encontra nas vivências na terra o caminho para seu fazer artístico, memórias de uma agricultora retirante.

[livre para todos os públicos]

Em Jerosy Puku - Encontrando o Jakairá, co-criação de Fabiana Fernandes, Raffaella Fryer-Moreira e Doriano Morales, acompanhamos um ritual sagrado que acontece uma vez ao ano nas comunidades indígenas Guarani e Kaiowá, do Mato Grosso do Sul.*

Jerosy Puku – Encontrando o Jakairá
(Fabiana Fernandes, Raffaella Fryer-Moreira e Doriano Morales, 2020, 5 minutos)

Este trabalho é um registro do Jerosy Puku, ritual sagrado das comunidades indígenas Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul. A chegada da pandemia da covid-19 e as consequentes restrições de entrada de não indígenas em territórios indígenas quase impediram a realização de registros desse ritual, que ocorre uma vez por ano nessa época. Para superar as limitações oriundas do confinamento, uma equipe audiovisual multicultural foi formada, com quatro cineastas indígenas em campo e duas cineastas não indígenas que acompanharam o projeto de forma remota.

Este vídeo foi produzido por um coletivo audiovisual multicultural criado durante a pandemia de covid-19, sendo formado por duas cineastas não indígenas, Fabiana Assis Fernandes e Raffaella Fryer-Moreira, e quatro cineastas indígenas, Doriano Morales, Jaqueline Gonçalves, Marisol Barbosa e Luan Iturve.

[livre para todos os públicos]

Como diria o filósofo francês Gilles Deleuze, a obra de arte é, em si, um ato de resistência, pois ela é a única coisa que resiste à morte. Os trabalhos desta terceira edição operam nesta ótica, convocando a nós e aos que ainda virão.*

Acesse a programação completa do Festival Arte como Respiro.

*Comentários feitos pela equipe curatorial de artes visuais do Itaú Cultural.

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