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Fórum de Fotografia de São Paulo: o maior evento latino-americano da imagem

Registros e entrevistas da última edição do evento, ocorrida em 2019, serão lançados no YouTube do IC até o final deste ano

Publicado em 17/11/2020

Atualizado às 19:11 de 16/08/2022

por Cassiano Viana

Realizado pelo Itaú Cultural (IC) a cada três anos, com coordenação conjunta com o curador Iatã Cannabrava desde 2007, o Fórum de Fotografia de São Paulo vem se consolidando como um dos principais – se não o principal – eventos da imagem na América Latina.

A partir desta semana, o site do Itaú Cultural (IC) passa a compartilhar os registros de mesas e vídeos com depoimentos dos participantes do V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, realizado em junho de 2019, em São Paulo. Será lançado um vídeo por semana, sempre às quartas-feiras, que poderá ser encontrado neste texto e no YouTube do IC.

O fórum carrega o sentimento dos colóquios que acontecem desde o final de 1970 no México, na Venezuela e em Cuba – reuniões dedicadas à construção da identidade latino-americana a partir da imagem fotográfica.

Com curadoria de Iatã Cannabrava desde sua criação, o encontro ajudou a reestabelecer a conexão do Brasil com a América Latina e possibilitou a construção de um espaço para a discussão da fotografia na região. Uma vez que em sua essência o fórum busca um meio para juntar pessoas e gerar possibilidades, projetos, publicações, fluxo de informação e amizade, ele se mostrou fundamental para a multiplicação das redes de trabalho e para a internacionalização da produção fotográfica da região.

Todas as suas edições contaram com a participação de artistas, curadores e editores referência em seu campo; diversos deles, inclusive, desenvolveram projetos a partir de parcerias estabelecidas no próprio fórum ou a partir dele.

Um espaço para encontro, discussão e reflexão e conexões

É ponto pacífico a importância do fórum para a fotografia brasileira contemporânea. Ao longo de 12 anos, o evento evoluiu e foi se transformando em um espaço de encontro, discussão e reflexão. Os temas propostos nas inúmeras mesas de debates traziam a possibilidade de tratar de questões de importância não só para a fotografia, mas para os diversos cenários culturais, dialogando diretamente com outras linguagens, como o cinema, as artes plásticas e a literatura.

Em sua última edição, por exemplo, participaram das mesas o escritor, psicanalista e dramaturgo italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris, a escritora, jornalista, professora e crítica de arte brasileira Veronica Stigger e a cineasta brasileira Anna Muylaert.

Os temas escolhidos naquele ano iam da realidade e suas narrativas ficcionais, do amor e da arte acima de qualquer algoritmo, ao processo de produção das imagens da exposição Ainda Há Noite, que esteve em cartaz entre junho e agosto no IC, e teve curadoria de Iatã Cannabrava e Claudi Carreras.

Enxergar na noite aquilo que não se está conseguindo enxergar de dia

Com obras produzidas por dez artistas e duplas de oito países latino-americanos, da Espanha e do Reino Unido, as imagens da exposição recorreram às horas noturnas – seja como conceito, seja como cenário – para pensar a América Latina e para pensar a noite como um instante de reflexão.  Uma provocação importantíssima se levarmos em consideração o cenário político e social que se instalava no mundo.

A ideia não foi simplesmente entrar na escuridão. Tinha mais a ver com a esperança, com a elaboração de proposições, construção de propostas e alternativas: se não estávamos conseguindo enxergar as saídas de dia, iríamos procurá-las durante a noite.

A exposição reuniu fotógrafos que já contavam com uma trajetória consolidada e fotógrafos que pela primeira vez participavam de uma mostra internacional fora de seu país. Entre eles, Alejandro Chaskielberg (Argentina), Alejandro e Cristóbal Olivares (Chile), Cristina de Middel (Espanha) e Bruno Morais (Brasil), Gihan Tubbeh (Peru), Ignacio Iturrioz (Uruguai), Jorge Panchoaga (Colômbia), Juan Brenner (Guatemala), Kalev Erickson (Reino Unido), e Luisa Dörr (Brasil) e Yael Martínez (México).

A cada semana um novo vídeo

Contardo Calligaris e o medo do escuro

Na mesa de abertura do V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, o escritor, psicanalista e dramaturgo italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris falou sobre o medo do escuro.

“O medo do escuro tem uma relação maior do que a gente pode imaginar com o medo da morte”, diz. “O enigma do escuro é onde está o que realmente ignoramos e também o nosso próprio desejo.”  O tema da palestra é uma referência à exposição Ainda Há Noite, realizada durante o fórum e que esteve em cartaz de junho a agosto de 2019 no Itaú Cultural.

Assista abaixo à palestra de Contardo Calligaris na abertura do V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.

Realidade e ficção na construção do imaginário latino-americano

A fotógrafa espanhola Cristina de Middel, o colombiano Jaime Abello (diretor geral e co-fundador da fundação Gabriel Garcia Marques para o novo jornalismo ibero-americano) e a escritora e crítica de arte brasileira Verônica Stigger debateram "A realidade e suas narrativas ficcionais ". A conversa contou com mediação do gerente do núcleo de literatura e áudio visual do Itau Cultural, Claudiney Ferreira, que provocou os convidados: "Realidade e ficção estão cada vez mais próximas na construção dos nossos imaginários?".

Assista abaixo ao debate, que aconteceu no dia 13 de junho de 2019:

“Existe algo que nos une no continente latino-americano?”

A mesa “Un abrazo Latinoamericano” reuniu o peruano Octavio Santa Cruz (doutor em história da arte) e a brasileira Rosana Paulino (artista visual, educadora e pesquisadora) para refletir sobre a diversidade de raça, gênero, música e imagem que constitui o continente latino-americano.

“As condições étnicas, políticas e sociais podem ser extremamente difíceis para muitos na sociedade, mas existem alternativas possíveis que passam pela cultura e pela arte”, afirmou Santa Cruz, contando histórias de sua própria família.

Rosana Paulino questionou o que é ser sul-americano: “Existe algo que nos une?”, perguntou. “Tenho me visto em busca de uma identidade, de um mosaico racial, de ascendências que nos foram apagadas, não só a negra, mas também indígena”.

Assista ao debate, que aconteceu em 14 de junho de 2019:

Uma reflexão sobre a sociedade latino-americana contemporânea

Na mesa de debate “Do pop latino ao universo simbólico andino”, o arquiteto boliviano Freddy Mamani e o fotógrafo argentino Marcos López refletiram sobre os elementos de criação na sociedade latino-americana contemporânea.

“Nasci em um lugar que nem mesmo era um povoado. Caminhávamos uma hora para chegar à escola. Fiz até o quinto básico. Mas tinha sempre para mim que um dia seria alguém, pois não cabia bem, para mim, esperar por um futuro diferente”, contou Mamani. “Nunca deixe que alguém defina o que você quer ser, ainda que diante das dificuldades”, afirmou.

Assista ao debate, que aconteceu em 14 de junho de 2019:

Amor e arte acima de qualquer algoritmo

Três mulheres se juntaram em torno do tema “Amor e arte acima de qualquer algoritmo”: a fotógrafa portuguesa Ângela Berlinde, a cineasta brasileira Anna Muylaert e a fotógrafa e cineasta mexicana Maya Goded. As três falaram de seus percursos como pesquisadoras e realizadoras marcadas pelo afeto.

Ângela falou da relação de proximidade com o Brasil e agradeceu ao Fórum pelos momentos muito potentes, de troca e de afeto. “No Brasil, aprendi a malandrar, no sentido de entrelaçar as imagens, para que elas possam ganhar potência com força e luz e sobretudo abrir alguns distintos prismas do que é um tempo merecedor de ser tratado sem pressa”, disse.

“Acima de qualquer algoritmo, existe o amor”, afirmou Anna Muylaert, que falou da experiência com o filme Que Horas Ela Volta?.

Assista ao debate, que aconteceu em 15 de junho de 2019:

O processo criativo da exposição Ainda Há Noite

Encerrando o V Fórum Latino-americano de Fotografia, a última mesa de debates reuniu os artistas que participaram da exposição Ainda Há Noite. Alejandro Chaskielberg (Argentina), Alejandro e Cristóbal Olivares (Chile), Cristina de Middel (Espanha) e Bruno Morais (Brasil), Gihan Tubbeh (Peru), Ignacio Iturrioz (Uruguai), Jorge Panchoaga (Colômbia), Juan Brenner (Guatemala), Kalev Erickson (Estados Unidos/Reino Unido), Luisa Dörr (Brasil) e Yael Martínez (México) falaram sobre o processo de criação das imagens que fizeram parte da mostra. A conversa foi mediada pelo curador Claudi Carreras (Espanha).

Assista à mesa de encerramento, que aconteceu em 15 de junho de 2019:

Ainda, alguns desses artistas comentam a experiência de produzir imagens com o tema.

Em busca da identidade latino-americana

O Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo é, tradicionalmente, um espaço de reflexão para que profissionais da imagem pensem a identidade latino-americana.

“Existe uma cultura visual que nos assimila e nos assemelha, pois temos problemas e soluções semelhantes, diante de questões econômicas, sociais, políticas e de relacionamento com o mundo, com o contexto social”, observa a fotógrafa e curadora chilena Andrea Jösch.

Para o colombiano Jaime Abello, diretor da Fundação Gabriel García Márquez, a América Latina tem problemas e alegrias comuns. “Somos a convergência de duas grandes matrizes culturais linguísticas e históricas, a espanhola e a portuguesa”, afirma.

Veja esses e outros depoimentos no vídeo que reúne reflexões de participantes da quinta edição do evento:

O que faz um fotógrafo? Qual é o papel da fotografia?

“O que faz um fotógrafo? Todo mundo imagina o fotógrafo subindo montanhas, enfrentando exércitos. Mas o que faz o fotógrafo, além disso?”

Iatã Cannabrava, curador do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, reflete sobre o papel do fotógrafo na sociedade, sobre a importância do evento para a produção fotográfica na América Latina e sobre a construção do conceito da exposição Ainda Há Noite.

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