Por Victória Pimentel Atenção: A exibição do curta-metragem Homenagem a Matta-Clark que aconteceria no dia 18 de março foi adiada para o...
Publicado em 08/03/2016
Atualizado às 21:05 de 02/08/2018
Por Victória Pimentel
Atenção: A exibição do curta-metragem Homenagem a Matta-Clark que aconteceria no dia 18 de março foi adiada para o dia 29 de abril.
O curta-metragem Homenagem a Matta-Clark, selecionado no programa Rumos 2013-2014, tem como objeto central a destruição de uma seção do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Inspirado nas intervenções arquitetônicas do artista nova-iorquino Gordon Matta-Clark (1943-1978), o filme produzido por Joana Traub Csekö e Pedro Urano será exibido pela primeira vez no Rio de Janeiro – na exposição Depois do Futuro, na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage – no dia 29 de abril.
Sob curadoria de Daniela Labra, doutora em história e crítica de arte pela UFRJ, a exposição conta com trabalhos de 37 artistas e se propõe a discutir o presente e o futuro e suas relações com as ruínas da modernidade a partir das artes contemporâneas. “Nós enxergamos o futuro como uma utopia moderna que segue uma linha evolutiva positiva, uma revolução”, explica Daniela. “Mas o futuro chegou e não é como imaginávamos.” Para refletir sobre esse contexto, a curadora lança a ideia da “construção da ruína” pelo próprio indivíduo.
O curta de Joana e Pedro, que documenta a separação em um corte preciso e a implosão de uma área do Hospital Universitário da UFRJ comprometida estruturalmente, com cerca de 110 mil metros quadrados – o equivalente à metade do edifício –, referencia a concepção de “ruína moderna”. Localizado na Ilha do Fundão, o hospital começou a ser construído na virada da década de 1940 para a de 1950 e, ainda que tenha sido finalizado apenas em 1978, foi um grande representante da arquitetura moderna no Brasil. Metade dessa gigantesca estrutura, aquela que foi separada e demolida, esteve abandonada desde sua inauguração. “É um projeto moderno que mal se instaurou e começou a ruir”, explica Daniela.
Joana pontua que o conceito de ruína normalmente é associado ao passado, mas no cenário atual ganha novos contornos: “A ruína moderna reflete o que o futuro não veio a ser, o futuro moderno”. Ela destaca ainda que Homenagem a Matta-Clark e a exposição detêm maior significado no contexto atual carioca, que se prepara para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. Sobre as grandes construções projetadas especialmente para o evento Joana diz: “São ruínas antecipadas”.
Homenagem a Matta-Clark trata do futuro à sua maneira. Como explica a artista, o curta transcende e explora o acontecimento estético que foi a destruição gradual de metade do Hospital Universitário, como fez Matta-Clark em Splitting e Conical Intersect, filmes-registros de suas próprias intervenções. Na temática do futuro, porém, o trabalho multifacetado de Matta-Clark – ele projeta sua arte no desenho, na fotografia, na dança, na performance e na culinária – flerta significativamente com a noção de comunidade, conceito que ganha força no século XXI. “Ele está à frente do seu tempo, conectado de outra forma com os futuros por vir”, conta Joana.
Nesse sentido, as obras do nova-iorquino apresentam mais uma conexão com a mostra Depois do Futuro. Apesar de a exposição colocar em pauta os limites da organização da sociedade ocidental, Daniela destaca que a mostra não é pessimista e se dedica a fazer uma análise dos diversos futuros possíveis a partir de trabalhos de variados eixos temáticos, como iniciativas autossustentáveis e questionamentos de normatividades relacionadas a gênero e sexualidade.