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Ilan Brenman inventa e reinventa histórias sem subestimar a inteligência das crianças

Dos mais de 70 livros do escritor, alguns foram destaque no Cantinho da Leitura em outubro

Publicado em 06/11/2019

Atualizado às 16:31 de 06/11/2019

por Heloísa Iaconis

Durante o mês de outubro, o Cantinho da Leitura esteve repleto de enredos que, com abordagens variadas, trabalham o tema da imigração. Por meio das contações de histórias, comandadas pela atriz Marina Bastos, o público foi levado a enxergar o Brasil a partir das contribuições dos muitos estrangeiros que para cá vieram e continuam a vir. Já no posto de autor-destaque, Ilan Brenman aparece como um representante daqueles que, sendo de fora, se tornam, porém, tão de dentro a ponto de conseguirem alargar a sensibilidade do país que os abraçou.

Ilan nasceu na cidade de Kfar Saba, em Israel, no ano de 1973, filho de argentinos, e por aqui chegou em 1979. Dessa transição, não guarda lembranças fotográficas: em razão de sua pouca idade na época, construiu memórias baseadas nos testemunhos maternos. Desde cedo, pois, acostumou-se a estar envolto em narrativas, das surgidas em bate-papos às que pulavam da biblioteca de sua casa. De tanto ouvir e ler tramas alheias, começou a elaborar, mais tarde, as próprias aventuras: virou, então, um agente da literatura infanto-juvenil, escritor atento a cada fase da produção livreira – do ritmo da prosa à capa.

O labor das palavras, contudo, não se pôs como o primeiro caminho profissional para Ilan. Aos 18 anos, ele estava na faculdade de psicologia, quando entrou no universo fabular. “Como estagiário de um projeto de educação não formal, rezava para que as crianças não se aproximassem de mim. Elas pediam para que eu contasse uma história. Respondia que não sabia fazer isso. Até que uma delas me disse: “Se você não sabe, inventa”. Essa frase mudou minha vida. Daquele momento em diante, passei a inventar”, recorda o artista (também psicólogo de formação). No início, Ilan desempenhava o papel de contador, atividade que necessita do corpo ali, presente. Tomou gosto tamanho pelo narrar que decidiu não mais se ater à presença física: queria que suas imaginações alcançassem quanta  gente fosse possível.

E deu certo. Para ampliar o alcance de suas elucubrações, o autor colocou-as em folhas: entre as primeiras produções escritas, está O Pó do Crescimento e Outros Contos, cuja publicação ocorreu tempos depois, em 2001. De lá para cá, Ilan lançou mais de 70 títulos, ganhou diversas vezes o selo “Altamente Recomendável”, dado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), e figurou, com O Alvo (2012), no catálogo alemão White Ravens, seleção anual do que de melhor foi editado, no tocante à literatura para pequenos leitores, em todo o mundo. Suas obras conquistaram Portugal, França, Itália, México, Dinamarca, China e demais países. De fato, agora, suas ficções viajam como que por si próprias.

Encantado pelo fazer literário, Ilan é rigoroso e compreende seu ofício como uma forma de arte. “Não suporto esta conversa de “qual será o próximo livrinho?”. Não é livrinho. É uma coisa grande”, afirma. Grande o suficiente para abarcar, por exemplo, um velho professor polonês, uma menina furacão, um menino esponja, princesas que soltam pum, famílias de refugiados e Maria, a perguntadeira. Personagens inúmeros que se apresentam em três eixos: criação pura, recontos e prendas do cotidiano. Na categoria um, encontram-se as narrativas que nascem com a chamada inspiração, fagulha que se desenrola no de repente. Em relação aos recontos, o processo acontece assim: o escritor se apodera de lendas, mitos e passagens históricas e reinventa saberes antigos. É o caso de Cavalo de Troia (2019), o mais recente livro de Ilan (pelo qual, aliás, o autor confessa estar apaixonado). Por fim, há os enredos trazidos pelo dia a dia, a maioria deles fruto de situações com suas filhas e que recebem, nas páginas, toques de fantasia.

Mas, independentemente do núcleo em que tal história se encaixa, o que todas elas carregam é a capacidade de despertar o lado curioso da criança e do adolescente. “Não se pode subestimar a inteligência deles”, enfatiza Ilan. No mestrado e no doutorado, formulados na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), ele se empenhou em mostrar a importância do respeito às competências intelectuais e sensíveis do público infanto-juvenil. Não se deve, portanto, desmerecer o grupo-alvo, constituído por aqueles que, no futuro, serão sujeitos mais propensos à empatia e à criticidade – justamente porque, ainda na infância, foram introduzidos ao território do inventivo. Eis a maneira efetiva de alargar sensibilidades, maneira essa que Ilan Brenman domina muito bem.

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