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“Laboratório do intérprete-criador”: projeto fomenta a pesquisa e a dança autoral

Selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, projeto do Espírito Santo apresenta mostra virtual nos dias 17 e 18 de dezembro

Publicado em 14/12/2021

Atualizado às 12:17 de 31/03/2022

por Cristiane Batista

O Laboratório do intérprete-criador: núcleo de pesquisa em dança, ou Lab.IC, chega à sua segunda edição e segue no fomento à cena autoral da dança no Espírito Santo. Idealizado pela arte-pesquisadora Ivna Messina, o projeto, contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2019-2020, selecionou seis artistas-criadores do estado, que ganharam uma bolsa-auxílio para desenvolver suas pesquisas em solos de videodança, videoperformance e outros formatos que complementam a exposição de seus processos criativos. O resultado da experiência (parte do percurso) será aberto ao público em uma mostra virtual nos dias 17 e 18 de dezembro.

“O Lab.IC nasceu do desejo de amplificar a produção em dança e inspirar autonomia nos artistas da minha região, compartilhando minhas experiências e possibilitando, também, que novos projetos possam surgir”, conta Ivna, que mantém desde 2015 um site chamado Dança no ES, o qual, além de divulgar a produção em dança no estado, é um portal de mapeamento e promoção de atividades formativas.

A ideia é dar espaço para a experimentação e a liberdade do movimento solo, sem direção ou coreografias predeterminadas. “Lá não somos tratados como atores ou bailarinos que recebem as ordens da direção para execução. Nós levamos muito material em todo o processo para contribuir nas montagens em um lugar de criação colaborativa”, explica Ivna.

Um homem branco, sem camiseta e com barba, é visto atrás de uma tela transparente com uma luz azul, como se fosse uma projeção. Nessa projeção é estão escritas palavras de formas aleatórios e espalhadas pela tela,
Mover híbrido, de Juliander Agrizzi (imagem: divulgação)

A proposta é encorajar a todos para falar sobre o trabalho do outro, escutar sobre o próprio trabalho e discutir sobre ele. “No nosso meio, o mais comum são intérpretes que não são estimulados a desenvolver essa reflexão sobre o próprio fazer e sobre o fazer do outro, focando mais na parte motora e mecânica. Aqui a gente aprofunda a questão da criação, da dramaturgia e dos conceitos”, complementa. “Acho que a gente ganha uma possibilidade de um olhar muito mais cuidadoso com o trabalho do outro e com o próprio trabalho, desenvolvendo vínculos e mais capacidades em temas de interesse em projetos solo ou em grupo para alavancar a carreira de todos em rede, com desdobramentos para outras linguagens também.”

Com curadoria da artista da dança Mariana Pimentel, os seis artistas selecionados entre 45 inscritos partiram de suas vivências para aprofundar pesquisas e trazer ao debate acerca da dança apontamentos sobre temas como diversidade, religião, ancestralidade, pertencimento, ecoperformance, exploração do meio ambiente, descolonização do corpo e objetificação do corpo da mulher – caso de Ísinqé, da coreógrafa, diretora e dançarina Lalau Martins, que discute o preconceito, o racismo e a sexualização do corpo da mulher negra a partir do estereótipo da nádega avantajada. 

As atividades acontecem desde setembro, com encontros virtuais semanais que promovem leituras de textos, rodas de conversa e aprimoramento de ferramentas para a pesquisa autoral. Os participantes são provocados a criar um “diário de bordo”, no qual registram suas reflexões, experiências e sensações em anotações gravadas, faladas, desenhadas ou em esboços para apreciação e comentário coletivo. Mais do que um registro do percurso criativo, o processo ajuda na criação de métodos próprios de pesquisa e, ao final, cada um é convidado a confeccionar seu relato, cujo material compilado comporá um dossiê digital, que será disponibilizado gratuitamente por tempo indeterminado, “para podermos”, conforme aposta Ivna, “colaborar também com outros artistas que se interessam pela pesquisa em dança ou pela temática que cada artista trouxe, utilizando essas ferramentas para outros trabalhos em outras linguagens e como inspiração”.

Um homem branco, com a cabeça raspada, faz movimentos de dana em um parque. Ele está vestido uma camisa quadriculada de manga comprida e gola alta.
O amanhã talvez não exista, de Marcelo Oliveira (imagem: divulgação)

Nesta segunda temporada, transposta para o ambiente virtual, os participantes ainda enfrentaram o desafio de se relacionarem com a câmera e suas funcionalidades, e a tecnologia tornou-se uma aliada, permitindo também novas possibilidades artísticas para os trabalhos – como a sobreposição de imagens, a intersecção de corpos e diversos outros recursos.

É o caso de Mover híbrido, trabalho de Juliander Agrizzi que utiliza projeções de palavras e frases sobrepostas em seu corpo com as perguntas: “O que a sua pele carrega? Que etiquetas foram coladas em você ao longo do trajeto?”. Trata-se, segundo o artista, de “uma dança que se move buscando formas de se relacionar com o mundo num corpo autofágico, em que a dança seguinte come a dança anterior. E dança o processo como uma peneira balançada pela estética do não terminado. Um ato que cria hoje o passado pelas escolhas feitas no agora, inaugura ancestralidades futuras a cada segundo e (re)inaugura começos sem silenciar os rastros”.

A Mostra Lab.IC 2021 acontecerá no dia 17 de dezembro, às 19 horas, através do canal do Dança no ES, que é parceiro do projeto no YouTube. No dia seguinte, 18, às 14 horas, haverá um bate-papo ao vivo pelo Zoom com os artistas, ouvintes que também integram o núcleo e a equipe do projeto. O público poderá participar com perguntas e comentários pelo chat da plataforma.

Participantes da mostra

- Terra Santa, por Farley José

- Casa urbana – instalação casa-corpo: Muxima de N’ganga meu corpo canta e dança, por Yuriê Perazzini

- O amanhã talvez não exista, por Marcelo Oliveira

- Lavra, por Weber Cooper

- Ísinqé, por Lalau Martins

- Mover híbrido, por Juliander Agrizzi

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