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Memória, acervos e gestão | Acervo Angelo Aquino

Em outubro de 2016, o Itaú Cultural promoveu o encontro Memória e Gestão de Acervos: Arte, Arquitetura e Design. O Observatório e o...

Publicado em 30/11/2016

Atualizado às 15:07 de 21/09/2017

Nos dias 25,26 e 27 de outubro de 2016, o Itaú Cultural  promoveu o encontro Encontro Memória e Gestão de Acervos: Arte, Arquitetura e Design. O Itaú Cultural tem se dedicado à pesquisa, coleta, tratamento e informatização de dados sobre as artes e a cultura no Brasil. Nos últimos 12 anos, desenvolveu, entre suas iniciativas, ações relacionadas aos processos de recuperação, organização e digitalização de acervos. Tendo em vista este panorama, o Observatório e o Centro de Memória do Itaú conversaram com algumas das instituições que participaram do encontro. Eduarda de Aquino, filha do pintor e desenhista Angelo de Aquino, conta sobre as complexidades de gerir o acervo deixado por seu pai. Confira!

Como se deu a iniciativa de reunir o acervo?

No acervo que está comigo consta todo o material que estava com meu pai em seu ateliê, que também era sua casa, no dia de sua morte. Portanto, esse conteúdo já estava reunido, mas a iniciativa para começar a trabalhá-lo se deu de forma natural, já que não havia outra opção. Pois, além das obras ocuparem espaço e precisarem de cuidado constante, senti uma necessidade de entender o que o meu pai havia produzido ao longo de sua carreira. Trabalhar o acervo significa me conectar com essas obras e com o que permaneceu de presença física dele.

Quais os critérios utilizados para o recolhimento do acervo?

Como falei, nunca houve o recolhimento do acervo, pois ele já estava todo reunido. Então, os meus critérios foram apenas relacionados à catalogação e organização. Duas museólogas foram contratadas e uma pesquisa inicial foi feita para entender quais seriam as alternativas e ver modelos já utilizados em casos similares. Com base nas conversas e na realidade do acervo, fizemos uma análise geral do que havia ali para, em seguida, separar em categorias. Obras de arte, objetos pessoais, correspondências, cadernos de anotações, clipping, obras de outros artistas, biblioteca e fotografias. Foi criado um banco de dados no qual cada objeto recebeu um número de registro. No momento inicial, demos prioridade para as obras de arte, que já passaram por esse processo de identificação. Os outros objetos ainda estão em análise e compreensão.

Como se dá o tratamento técnico do acervo?

Esta é uma questão muito delicada. O tratamento técnico de um acervo é algo caro, que precisa de espaço adequado, climatização e segurança. As obras estão guardadas no apartamento da família e pontualmente fazemos restauros. A cidade do Rio de Janeiro carece de reservas técnicas especializadas para alugar, então é preciso pensar em alternativas. Essa é uma realidade de muitos herdeiros no Brasil.

Qual a política de difusão do acervo?

Até o momento, a difusão das obras acontece por meio de exposições sobre o artista e empréstimos para mostras em galerias e instituições. Os catálogos das exposições são, muitas vezes, distribuídos para bibliotecas públicas, universidades e museus. Também trabalhamos com uma produtora parceira (que trabalhava com Angelo ainda em vida), para inscrições em editais culturais. Para apresentar as obras, foi feita uma publicação, que será atualizada de acordo com o processo de levantamento do acervo.

Existe política estratégica do acervo? Como se dá?

Ainda não, pois essa é uma etapa mais avançada e penso que só será possível ter estratégias uma vez que todo o acervo esteja identificado e catalogado.

O acervo conta com algum apoio financeiro, alguma política de incentivo?

Não. Até o momento, o acervo é autossustentável. Mas claro que isso é muito limitador, já que dependemos de vendas em leilões e exposições.

Qual a situação dos acervos no Brasil hoje?

Só posso falar da perspectiva dos herdeiros, e cada família lida de um jeito, cada caso é particular. Mas o que une todos é o legado, o corpo de obras que um artista criou ao longo de sua trajetória. Isso é o mais importante, visto que o artista tem um papel cultural que une pessoas e fala sobre a cultura de um país. Mas também há o lado técnico, de manutenção e logística. Já começa difícil, pois o acesso a materiais básicos de preservação é difícil, pois muita coisa não é vendida aqui. Ainda sobre a memória, é lamentável ver como o interesse público é exclusivamente orientado pelo mercado da arte, fazendo com que o trabalho de muitos artistas fique esquecido.

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