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Novo Mundo: projeto traça um paralelo entre a violência social e o meio ambiente

Apoiada pelo Rumos Itaú Cultural, iniciativa reúne entrevistas documentais para abordar a exploração da terra e o processo de marginalização na sociedade

Publicado em 20/08/2019

Atualizado às 14:55 de 20/08/2019

por Marina Lahr

Um pedaço de terra desnuda. Mudas sendo plantadas. Árvores brotando. Máquinas trabalhando. Troncos ganhando forma. Caixões em produção. O processo se repete à exaustão no Brasil. A natureza frequentemente é desmontada para moldar objetos que, à primeira vista, não remetem a uma tradição de exploração ambiental no país.

O ciclo descrito, fragmento de um cenário conhecido pelas porções mais pobres e marginalizadas da sociedade, possibilita uma associação incomum – e pouco discutida – entre meio ambiente e violência social. A realidade da fabricação de caixões a partir de madeiras de reflorestamento, que são concedidos posteriormente pelo governo para as famílias carentes sepultarem seus entes – vítimas recorrentes de crimes – não é tão conhecida, mas comporta toda uma ramificação de problemáticas.

Foi a partir dessa premissa que Gilvan Barreto, artista visual nascido em Pernambuco, deu início ao desenvolvimento do projeto Novo Mundo, que busca refletir sobre a violência no Brasil, principalmente a violência de Estado, e sua relação com o meio ambiente. Selecionada no edital 2017-2018 do programa Rumos Itaú Cultural, a proposta tenciona  explorar e revelar a imagem de um território de belezas naturais exuberantes que, no entanto, esconde maldades e injustiças históricas.  

O projeto, como explica seu idealizador, se divide em duas partes. A primeira é formada por entrevistas, que serão no futuro veiculadas através da internet. Estas entrevistas colhem depoimentos de religiosos, artistas, políticos e ativistas que tentam explicar a escalada da violência contra minorias e populações marginalizadas no Brasil, aliando uma  reflexão sobre o circuito secular de exploração da terra, de riquezas naturais, do ser humano e sobre a manutenção de desigualdades. 

“Faz-se urgente a criação de espaços de diálogo, investigação e reflexão sobre a violência sistêmica que estrutura nosso país. Novo Mundo traz o foco para uma natureza e uma sociedade em distopia e tenta alinhar, de forma inédita e original, a violência institucional e a natureza brasileira”, explica Gilvan Barreto. 

Fragmentos destas entrevistas são utilizados também na segunda parte do projeto, que compreende o desenvolvimento de um curta metragem que mistura ficção com elementos documentais. O filme, com previsão de lançamento para outubro de 2019,  acompanha a trajetória de um personagem que chega a um território de lindas paisagens e que aos poucos vai descobrindo que toda aquela beleza do lugar esconde marcas temporais de injustiças, violência e exploração do seu próprio povo.  

“O que acontece neste país desde a invasão dos europeus em nosso território, em 1500, é uma refinada engrenagem de poder, que é cuidadosamente mantida para sustentar o privilégio de poucos sobre a miséria da maioria. O projeto busca transferir o foco para as narrativas marginalizadas – de resistência – e seu poder transformador, nos trazendo um outro olhar para o mesmo mundo. Um mundo que não é assim porque deve ser”, finaliza Gilvan.

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