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O Seu Gol, a Sua História

Em julho, o Itaú Cultural lançou a ação O Seu Gol, a Sua História, convidando o público para enviar crônicas ligadas ao Mundial de...

Publicado em 01/09/2014

Atualizado às 14:59 de 13/08/2017


Em julho, o Itaú Cultural lançou a ação O Seu Gol, a Sua História, convidando o público para enviar crônicas ligadas ao Mundial de futebol.

Compartilhamos aqui o texto de José Lucas dos Santos Costa, de Pernambuco, eleito o melhor da ação.

MEU AVÔ: MEU GOL

Naquele começo de fim de tarde, meu avô ainda estava vivo, deitado na cama, enquanto eu chorava sozinho, na sala, em frente à TV. Já no primeiro tempo, o placar era demais pro Brasil. A Alemanha praticamente comemorava a vitória. Durante o intervalo, meu avô teve uma crise de tosse. Fui lá no seu quarto levar um copo d’água e uma colher de mel pra aliviar a garganta. Meu avô não podia ver o jogo. Seu coração já estava muito velho pra isso.

Mas ele me perguntou o placar.

Aquele não era um simples jogo pra ele. Meu avô sabia que seria o último que teria a chance de presenciar. Já não se levantava da cama, seus braços e pernas inchavam. Não, eu não poderia ter falado pro meu avô que a seleção dele estava levando a maior goleada da história. Eu não poderia ter dito que ele nunca iria ver seu maior time levantar a taça de novo. Eu não poderia. Eu não conseguiria.

Então narrei um jogo de mentira. Brasil contra Alemanha. E inverti o placar. Falei pra ele dos cinco gols que o Brasil já tinha marcado só no primeiro tempo. Da velocidade imbatível do time em campo. Das jogadas ensaiadas que mais pareciam dança. Dos dribles que só a seleção brasileira sabia dar. Falei tudo isso pra ele. E menti, menti cada vez mais e mais, até que ouvi o apito do segundo tempo e senti a mão de meu avô pousar pesada sobre meu ombro.

Ele tossiu e deu um sorriso fraco, mas sincero, fraternal, o sorriso que eu conhecia do avô que me mostrava ora as camisas de times que colecionava, ora os autógrafos de jogadores que tinha conseguido. Apertando meu ombro, sacudiu a cabeça com o sorriso ainda em sua boca, enrugada e pálida. E, antes que seu pulso se enfraquecesse ou que sua mão pesada se afrouxasse sobre mim, ele disse algo que eu juro por Deus, eu juro, que nunca vou esquecer: “Não são os gols do meu time que me fazem feliz, meu filho, são os pés que chutam e as mãos que agarram”.

José Lucas dos Santos Costa nasceu em 1996, no município de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco. Atualmente cursa engenharia civil na Universidade de Pernambuco (UPE). Além de se dar bem com os números, gosta de contar histórias, tendo Moacyr Scliar como uma de suas referências literárias. 

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