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Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 8: Áustria

Há nove anos em Viena, na Áustria, o fotógrafo Caio Kauffmann fala sobre certa apreensão com a volta ao normal

Publicado em 12/06/2020

Atualizado às 11:31 de 17/08/2022

Editor do blog About Light, Cassiano Viana tem conversado com fotógrafos residentes em diversos países sobre os impactos, as transformações e o cotidiano durante a crise mundial da covid-19. “Não é sobre técnica ou sobre o ato de fotografar em si. É muito mais uma correspondência com pessoas de diferentes realidades e que têm o olhar, a observação e o registro através de imagens como meio de expressão e forma de materializar os sentimentos nestes tempos de isolamento”, explica Viana.

Olhares sobre a Covid-19, Marco Zero | relato 8
Caio Kauffmann – Viena, Áustria
Um novo estilo de vida e uma discreta apreensão com a volta ao normal

por Cassiano Viana

No dia 25 de fevereiro de 2020, a Áustria confirmou os dois primeiros casos de covid-19. Um homem e uma mulher, ambos de 24 anos, da região de Lombardia – epicentro da crise de coronavírus na Itália e que faz divisa com a Áustria –, testados positivos e que estavam sendo tratados em um hospital na cidade de Insbruque, em Tirol, no oeste da Áustria. O governo rapidamente colocou o país em quarentena, com isolamento total.

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No dia 25 de fevereiro de 2020, a Áustria confirmou os dois primeiros casos de covid-19. O governo rapidamente colocou o país em quarentena, com isolamento total (imagem: Caio Kauffmann)

Caio Kauffmann vive em Viena há nove anos. Dois dias após a divulgação dos primeiros casos no país, foram confirmados os primeiros casos de covid-19 na capital. O paciente era um homem de 72 anos que estava internado havia dez dias com os sintomas, mas que não tinha sido testado para o vírus.

Em Viena, além das praças e dos parques, a maior parte do comércio permanece fechada. As pessoas só devem sair de casa para ir ao mercado, ao médico, ao trabalho, passeios esporádicos, ajuda ao próximo e, segundo o site oficial do governo, visitas a cavalos.

"Por aqui não está tão restrito o isolamento. Diferentemente de outros países europeus, como Espanha e Itália, a gente pode passear em companhia daqueles com quem vivemos. Aglomerações, claro, estão proibidas. O fluxo de gente nas ruas diminuiu bastante", conta Caio. "Sigo minha rotina, mas, infelizmente, o trabalho na minha área de atuação [fotografia] parou."

"Por aqui não está tão restrito o isolamento. Aglomerações, claro, estão proibidas. O fluxo de gente nas ruas diminuiu bastante", conta Caio (imagem: Caio Kauffmann)

Segundo a AMS, Serviço Público de Emprego da Áustria, o país vive hoje a maior onda de desemprego desde a Segunda Guerra Mundial. "Não se veem tantas pessoas desempregadas desde antes de 1946", disse um porta-voz da AMS à CNN. O número de desempregados aumentou em dois terços desde que o país introduziu restrições para tentar conter a propagação da covid-19.

"Agora, com tudo parado, ainda não apertou para mim, mas há ajuda governamental disponível para profissionais liberais também", explica o fotógrafo. "Por enquanto, ninguém está aflito. O seguro-desemprego permite uma vida bem confortável, e recentemente o governo impediu que uma companhia aérea daqui realizasse uma demissão em massa."

De uma forma ou de outra, o verdadeiro baque econômico ainda virá. Resta saber quão violento será o impacto.

Primavera

É primavera, e os últimos dias têm sido de céu aberto e temperaturas amenas. Meio milhão de tulipas plantadas durante o outono florescem agora nos canteiros da cidade, Caio conta. As pessoas saem de casa: "É difícil um governo competir com a natureza, e experimentar a primavera é também uma necessidade".

Ele diz que Viena, órgão vital do mundo civilizado ocidental, é um tributo ao domínio do homem sobre a natureza. "Aqui, pouco é acidental", atesta. "E tudo funciona mais ou menos bem, até que rupturas apresentem novos cenários e inspirem possibilidades de melhora." Para Caio, em tempos de buscas pela verdade, a pandemia se apresenta exemplar:

"Algo fora de controle e inesperado não pode ser artificial ou institucionalizado", diz. "Há verdade aqui. E uma verdade talvez tenha o poder de desencadear outras mais."

É primavera, e os últimos dias têm sido de céu aberto e temperaturas amenas. As pessoas saem de casa, Caio conta: "É difícil um governo competir com a natureza, e experimentar a primavera é também uma necessidade". (imagem: Caio Kauffmann)

Na capital austríaca, o lockdown fez as pessoas usar roupas mais confortáveis, permitiu pausas generosas no trabalho, aproximou as famílias. "Há gente assando seu próprio pão, aventurando-se em trabalhos manuais, mergulhando em infernos particulares para retornar reestruturada de lá."

"Em Viena passam-se os dias e vejo crescer no espaço urbano certa satisfação, e, à medida que se achata a famigerada curva de contágio, sinto no ar uma discreta apreensão", observa o fotógrafo. "Há gente nervosa com a volta ao normal. Muita gente está se acostumando a este novo estilo de vida imposto pela covid-19."

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

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