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Para especialistas, leitura de portfólios é espaço de reflexão, diálogo e construção de uma obra (e um excelente canal de descoberta, divulgação e circulação de trabalhos)

Entrevista com Ângela Berlinde e Eugênio Sávio sobre a atividade Compartilhe seu Portifólio

Publicado em 13/05/2019

Atualizado às 15:32 de 17/08/2022

por Cassiano Viana

"São inúmeros os formatos de leitura crítica de portfólios – desde os mais livres até os mais clássicos –, mas todos eles têm em comum a criação de um espaço de diálogo e construção, de um lugar muito nobre de conexão e encontro que permite impulsionar o processo de elaboração de uma obra", afirma a artista e curadora portuguesa Ângela Berlinde, uma das revisoras convidadas para a atividade Compartilhe seu Portifólio, que será realizado durante o V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, em junho.

Para Ângela, a leitura de portfólio é, para além de um espaço de reflexão, um excelente canal de descoberta, divulgação e circulação de trabalhos, pois desses encontros quase sempre surgem oportunidades para projetos editoriais e de exposições.

A artista e curadora portuguesa Ângela Berlinde é uma das revisoras convidadas para a atividade Compartilhe seu Portifólio (imagem: Antonio Effe)

"A leitura de portfólios deve ser um lugar de discussão, no qual o artista repensa a sua produção e olha de forma distanciada para o seu processo criativo", diz. "Defendo a criação de uma relação próxima e criativa com o fazer artístico e encaro essa plataforma como um passo construtivo no processo autoral. Mais do que um lugar de legitimação, a leitura deve ser encarada como um lugar de construção e ponto de ignição para futuras reflexões. Desta forma, não importa em que fase do trabalho o autor se encontra, desde que exista abertura e autenticidade no processo, a conversa durante uma leitura de portfólios é sempre um lugar privilegiado para lançar pistas sobre o discurso e processo criativo daquele que usa a fotografia como meio de expressão", defende.

Ângela explica que o portfólio é um meio a que o artista recorre para mostrar uma retrospectiva ou um recorte da sua produção. E, justamente por isso, se por um lado a leitura de portfólios é uma excelente forma de dar visibilidade a projetos autorais, por outro é certo que gera nos autores alguma ansiedade na defesa dos seus trabalhos.

"Participar de uma leitura de portfólio é um momento ímpar para um criador, porque ele tem de organizar o seu projeto, preparar o que será apresentado, organizar um discurso e estar ali disposto a ouvir o que pode aparecer, que é de tudo. É uma atividade que mexe demais com a cabeça das pessoas e que pode ser uma bomba na cabeça dos artistas, que, espera-se, saiam revigorados, transformados e estimulados a continuar produzindo, com uma nova visão, mais amadurecida sobre seu próprio trabalho", explica Eugênio Sávio, fotógrafo e organizador do Festival de Tiradentes.

Eugênio Sávio, fotógrafo e organizador do Festival de Tiradentes (imagem: Marcio Rodrigues)

Para Eugênio, a participação em uma leitura é boa para fotógrafos em todos os estágios. "É claro que o iniciante pode estar mais inseguro, pode sofrer um pouco mais, tanto na concepção quanto na hora de enfrentar os especialistas. Mas essa é uma oportunidade que ele deve encarar e levar à frente", observa.

Um bom portfólio

E o que faz um bom portfólio? É ponto pacífico para Ângela e Eugênio que não existe uma fórmula estática e miraculosa para a apresentação de um bom portfólio.

"Montar um portfólio é um quebra-cabeça, é fazer ajustes, alterações, partir para campo para produzir novas imagens, repensar o quebra-cabeças, fazer ajustes e assim por diante", ensina Eugênio. "Mas, grosso modo, um bom portfólio fala muito da maturidade e do nível de profundidade de um autor ou autora. De modo geral, ele precisa ser sucinto, sem imagens repetidas, e apresentar um sequenciamento que facilite sua compreensão", explica.

Ângela vai ainda mais fundo na questão: "Vivemos um momento de grande euforia na fabricação de imagens, em que a todo momento se questionam as representações da atualidade. A linguagem fotográfica tem sido colocada perante inúmeros desafios, e, consequentemente, os autores são desafiados a pensar e revelar os seus discursos e processos criativos", avalia. "Um portfólio deve espelhar a autenticidade de um processo criativo e, ao mesmo tempo, permitir a geração de um espaço aberto de discussão e diálogo", conclui.

 

*Cassiano Viana é editor do site About Light.

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