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“O poder da palavra de Thiago de Mello foi gestado na Amazônia”, diz Eduardo Saron

Poeta e escritor amazonense, reconhecido nacional e internacionalmente, faleceu neste 14 de janeiro, aos 95 anos

Publicado em 14/01/2022

Atualizado às 14:04 de 17/02/2022

“Faz escuro mas eu canto” – que voltou aos holofotes como o título da mais recente Bienal de São Paulo – é um dos mais conhecidos versos de Thiago de Mello, poeta e escritor amazonense que faleceu neste 14 de janeiro, aos 95 anos, em Manaus. Nascido em 30 de março de 1926, em Barreirinha, no interior do estado, o artista escreveu sobre o que via e vivia: resistência e luta a favor da vida e da preservação da Amazônia.  

“Faz escuro mas eu canto” abre o poema “Madrugada camponesa”, escrito entre 1962 e 1963, mas que só veio a ser publicado em 1965, num livro com o mesmo título do verso. Em 1966, o poema foi musicado em parceria com Monsueto Menezes e interpretado por Nara Leão no álbum Manhã de liberdade. Quando vieram ao mundo, um ano após a instauração de uma ditadura civil-militar, os versos ganharam contextos políticos: de resistência, mas também de esperança, “porque a manhã vai chegar / vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar”. O livro ainda traz o poema “Os estatutos do homem”, com versos como “fica decretado que agora vale a verdade / agora vale a vida / e de mãos dadas, / marcharemos todos pela vida verdadeira”, este, sim, escrito em direto confronto com a situação da época.

Mello foi preso e exilado. Viveu em muitos países e conviveu com Pablo Neruda no Chile. Voltou para o Brasil e para seu estado de origem após a restauração da democracia. De lá, foi grande defensor da Floresta Amazônica, tendo escrito os livros Amazonas, pátria da água e Amazônia – a menina dos olhos do mundo, ambos na década de 1990, e Notícias da visitação que fiz no verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos, sua última obra, publicada no ano passado.

“O poder da palavra de Thiago de Mello foi gestado na Amazônia, alcançou todo o Brasil e cruzou fronteiras. Assim, a sua obra e todo o humanismo contido nela comprovam que a força de nossa diversidade se constrói no conjunto de todas as regiões brasileiras. A nossa cultura perdeu um grande poeta, mas a falta que ele nos fará será suprida pelo legado que nos deixou”, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

>> Saiba mais sobre o poeta na Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileira.

Mello é um dos poetas mais conhecidos da Região Norte brasileira, tendo sido traduzido em mais de 30 idiomas. Em 2021, ganhou uma homenagem da prefeitura de Manaus por meio da exposição virtual Thiago de Mello 95 anos de vida, poesia e amor por Manausacesse aqui.

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