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Quinta edição da Retratos da Leitura conclui fase de entrevistas

Em três pequenos perfis de leitores entrevistados para a pesquisa, encontramos dados para discutir as tendências e os problemas da leitura no Brasil

Publicado em 26/12/2019

Atualizado às 17:46 de 26/12/2019

por Duanne Ribeiro

A quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura – um mapeamento dos interesses e das práticas do leitor brasileiro – concluiu em meados de dezembro a fase de entrevistas. Foram 8.540, realizadas por 257 entrevistadores em todo o país. O Itaú Cultural acompanhou a etapa final, que contou com questionários aplicados no bairro da Vila Guilhermina, em São Paulo. Nesta matéria, contamos a experiência: na conversa com três moradores, podemos identificar uma série de elementos para pensar a leitura no Brasil.

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Como construir um Brasil mais leitor?

Evangelista Carvalho, 78 anos, tem uma relação mais informacional com os materiais de leitura: seu contato é com jornais e revistas, não se relaciona com a literatura por “falta de costume”, diz ele. Não exibiu intimidade com esse universo, apesar de poder ter tido contato com algo dele na imprensa (por exemplo, com crônicas ou contos).

Já Ivone Affonso, 57 anos, é mais próxima dessa área de expressão, inclusive diz que “vai se dedicar a isso”, agora que está aposentada. Destaca entre os livros de que gosta Como Eu Era Antes de Você, de Jojo Moyes, e A Cabana, de William P. Young. Cita também o escritor Paulo Coelho e livros espíritas em geral como os de sua predileção.

Um momento interessante no depoimento de Ivone foi a resposta que deu ao entrevistador quando ele lhe perguntou o nome da última obra de literatura lida por ela: “Literatura? Nem lembro a época em que lia”. Apesar de leitora, ela não identifica sua prática com essa palavra. “Harry Potter conta como literatura? Li todos, tenho a coleção completa”, disse. Ivone parece relacionar “literatura” apenas com as obras implicadas nas obrigações escolares.

Outro ponto trazido por ela é o preço dos livros, que acha caro. “Antes, tinha quiosques no metrô”, nota ela, lembrando de uma ação que lhe facilitava o acesso às obras literárias. É uma pequena fala que pode nos fazer pensar sobre a necessidade de políticas públicas.

Shirley Costa, 42 anos, por sua vez, para ler livros que não consegue comprar acessa uma biblioteca – no caso, a biblioteca comunitária do centro religioso que frequenta. O espaço é mantido pelos fiéis, assim como um clube de leitura. No bairro, conta, não há biblioteca municipal – equipamentos próximos estão no Tatuapé e na Penha (veja todos).

Quando lhe perguntaram qual o último livro lido, Shirley teve de parar para pensar: "Moço, você me pegou, porque eu leio pra dedéu, viu!". Ela lê principalmente livros religiosos, entre eles Tudo Tem Seu Preço e O Matuto, de Zibia Gasparetto, além de Chico Xavier e a Bíblia. Seus pais, conta ela, não liam, mas a mãe a encorajava: “Leia livros, que você vai aprender!”. Shirley lia sozinha ou com professores. Hoje, lê “no ônibus, no metrô, no trem”, porque lhe “traz conhecimento” e a “ensina a viver melhor”.

A partir de agora, informa Guilherme Militao, analista de pesquisa do Ibope Inteligência, empresa aplicadora da pesquisa, os depoimentos coletados seguem para processamento. Com isso, será confeccionado um relatório para interpretação dos dados e discussão. A Retratos da Leitura, quinta edição, deve ser divulgada no primeiro semestre de 2020.

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