Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Recortes sobre Alceu Valença

A obra do cantor e compositor, homenageado da 48ª Ocupação Itaú Cultural, é comentada por um educador do IC

Publicado em 01/09/2020

Atualizado às 17:36 de 16/08/2022

[Este texto integra uma série de relatos produzidos por integrantes da equipe de atendimento educativo do Itaú Cultural. Nesses relatos, cada educador comenta sua experiência relacionada a uma exposição apresentada no IC, destacando três das obras presentes na mostra.]

por Joelson Oliveira

Criador de grandes clássicos da música brasileira, Alceu Valença marca pessoas de várias gerações com hits e refrãos que volta e meia retornam à mente, a exemplo de “Anunciação”, “Morena tropicana” e “La belle de jour”. Há outras tantas canções que parecem tocar, sem esforço, em um looping quase que infinito em nossa cabeça. Qual das músicas citadas já está tocando na sua? A criatividade e a harmonização das letras de Alceu são uma marca de seu trabalho, de modo que ele não se enquadra, simplesmente, em um gênero musical específico. Segundo o próprio artista, quem mais conseguiu traduzir o seu estilo foi Luiz Gonzaga ao dizer que as criações de Valença eram como “uma banda de pife elétrico”.

>>Veja também:
Recortes sobre Nise da Silveira
Recortes sobre Rino Levi
Recortes sobre Sandra Cinto
Recortes sobre Franz Weissmann


E é essa genialidade única que a série Recortes aborda neste texto. Nos parágrafos seguintes, comento algumas curiosidades e faces da obra do homenageado da 48ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural.

Adelma Valença e o filho Alceu em São Bento do Una, no agreste de Pernambuco, no ano de 1947 | foto: acervo pessoal

Alceu Paiva Valença nasceu no dia 1º de julho de 1947, em São Bento do Una, no estado de Pernambuco (PE). Seu pai, Décio Valença, foi uma pessoa muito importante na cidade: formado em direito, exerceu até cargo político na região durante um período. Exigente, almejava que o filho seguisse seus passos, tornando-se um grande advogado. Para isso, de acordo com relatos de Alceu, Décio não permitia que o menino escutasse rádio, para não vê-lo “envolvido com esse negócio de música”. Em 1965, quando Alceu ingressou na Faculdade de Direito do Recife (pertencente à Universidade Federal de Pernambuco, UFPE), seu pai flexibilizou a postura: comprou uma vitrola para o filho, mas sem nenhum disco para nela ouvir. Mesmo com as restrições paternas, o jovem não ficou sem apoio para embarcar no universo musical: sua mãe, dona Adelma, foi quem, às escondidas do marido, deu o primeiro violão ao artista – que, sem o auxílio de professor, desenvolveu o seu próprio jeito de tocar.

Espaço expositivo da Ocupação Alceu Valença, mostra que esteve em cartaz de 14 de dezembro de 2019 a 2 de fevereiro de 2020 no Itaú Cultural (IC) | foto: Anna Carolina Bueno

Que Alceu Valença é cantor e compositor sensacional o público em geral sabe. Mas você sabia que ele também já foi ator? A primeira participação de Alceu no universo da arte dramática acontece em 1974, convidado pelo diretor Sérgio Ricardo para interpretar o papel que dá título ao filme musical A Noite do Espantalho. Alceu interpreta a criatura alegórica que abre o longa, narrando, com seu repente, o prólogo da história. Inspirado na poesia de cordel, o enredo traz a relação conflituosa de um grupo de colonos com o dono da propriedade, o temido coronel Fragoso. O cenário é o sertão nordestino, marcado por um clima semiárido, castigado pelo sol, lugar onde gotas de chuva são raridade. Neste contexto, os colonos, que residem e plantam nessa terra, lutam pelos seus direitos em uma lógica em que o poder se dá pela bala.

Espaço expositivo da Ocupação Alceu Valença | foto: Anna Carolina Bueno

A Noite do Espantalho representa o início do Alceu ator. Engana-se, porém, quem acha que o artista se contentou em ficar só diante das câmeras. Valença foi além: tendo o que ele mesmo chamou de “surto cinematográfico”, escreveu, roteirizou e dirigiu o longa-metragem A Luneta do Tempo. Lançado em 2014, o filme levou 14 anos para ser realizado. A ideia surgiu quando Alceu estava em sua terra natal, São Bento do Una, na fazenda Riachão. Imerso em suas memórias de infância e em suas primeiras influências (como o circo, o cordel e o cangaço), ele concebeu uma narrativa cíclica a respeito do conflito entre o bando de Lampião e a polícia. Na obra audiovisual, a ação do tempo é relativizada: passado e presente se misturam e se confundem, principalmente nos destinos das personagens Antero Tenente e Severo Brilhante (o que ocorre também com seus descendentes).

Compositor, cantor, ator, roteirista e diretor, Alceu Valença já foi tudo isso, mas você acha que acabou? Pois saiba que, desde 2014, o artista pernambucano vive o que ele chama de “surto literário”: em 2015, publicou o seu primeiro livro, O Poeta da Madrugada. Artista multimídia, Alceu usa diferentes formas e estilos de arte para expressar sua essência. Não é à toa que seus familiares o enxergam como uma árvore, fiel às suas raízes e sempre com frutos novos a cada estação.

Sobre mim

Joelson Oliveira é ator e arte-educador formado em licenciatura das artes cênicas pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2014, trabalha no campo da mediação cultural e no ensino de arte teatral na capital paulista, tendo já atuado em diversas instituições como ONGs, CCAs e SESCs. No ano de 2019, entrou para a equipe de colaboradores do Itaú Cultural (IC), integrando o time de educadores da instituição.

Compartilhe