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Rumos 2013-2014 – As muitas movimentações de uma arquiteta que trabalha com exposições

Práticas Contemporâneas da Teoria do Mover-se (ou 10 Diálogos sobre Situações de Errância) selecionado: Michelle Sommer O que faz um...

Publicado em 23/10/2014

Atualizado às 21:01 de 02/08/2018

obra: Práticas Contemporâneas da Teoria do Mover-se (ou 10 Diálogos sobre Situações de Errância)
selecionado: Michelle Sommer

O que faz um arquiteto? A resposta que logo vem à cabeça é: projeta e coordena a construção de prédios. Há, porém, outras funções que podem ser exercidas por um profissional dessa área. Já ouviu falar em arquitetura expositiva? Ainda pouco conhecida, essa atividade é o foco do trabalho de Michelle Sommer.


 

De forma resumida, em uma exposição, ela pensa nas questões técnicas de implementação das obras, em como amarrar a narrativa dentro daquele espaço, entre outras situações que envolvem a elaboração e a materialização de um projeto curatorial. Atua, portanto, em um setor que envolve também artes visuais e curadoria.

Para chegar aí, a gaúcha nascida em Getúlio Vargas, pequeno município no norte do Rio Grande do Sul, teve de se movimentar. Primeiro, aos 16 anos, ela deixou a cidade natal para cursar a faculdade de arquitetura na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Porto Alegre. Depois de concluídos a graduação e o mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Michelle morou em Londres por dois anos. Foi lá, visitando espaços expositivos, que teve o seu interesse pelas artes visuais despertado. No retorno, em 2007, ingressou na produção executiva da Fundação Bienal do Mercosul e começou a atuar no que chama de arquitetura expositiva. De lá para cá, já soma mais de 20 exposições.

Em 2012, movida por uma vontade de complementar o trabalho prático com a teoria, Michelle ingressou no doutorado no Instituto de Artes do Rio Grande do Sul com um projeto que basicamente explora a sua prática profissional. A ideia é investigar as relações que acontecem entre as práticas curatoriais e espaciais e como o público recebe isso.

No desenvolvimento desse estudo, ela foi convidada a atuar em uma proposta curatorial no Rio de Janeiro. Também conseguiu uma bolsa para fazer doutorado-sanduíche em Londres. E é exatamente nesse momento em que estava delineando a sua saída de Porto Alegre para a cidade carioca e para a londrina que caiu em suas mãos um texto de Balzac de 1833, “Teoria do Mover-se”. “É bastante curioso. Ele fica parado em um café francês e escreve sobre tudo o que vê [...] vai fazendo uma descrição sobre toda a sociedade francesa do fim do século 19. Fiquei muito intrigada”, conta.

Em paralelo, Michelle também estava lendo sobre movimento na arte, especialmente sobre o que diz Nicolas Bourriaud. O teórico francês aborda essa prática de artistas contemporâneos e curadores de estarem sempre em trânsito, como globetrotters. Isso já tinha chamado a atenção de Michelle. Nas legendas das obras em exposições, aponta ela, é comum ver na referência ao artista inscrições do tipo: “Nascido em..., vive entre... e cita cinco lugares diferentes”, comenta.

“Fiquei pensando um pouco na ideia do papel da crítica nesse panorama. Se artistas se movem, se curadores se movem, como a crítica de arte acompanha esse movimento? Ela acompanha esse movimento? Isso se reflete também em uma produção crítica sobre esse movimento todo que está acontecendo na arte hoje?”, questiona.

Foi com base nessas indagações que ela idealizou o projeto Práticas Contemporâneas da Teoria do Mover-se (ou 10 Diálogos sobre Situações de Errância), selecionado no Rumos. “E o que foi muito curioso ao longo dessa escrita é que eu estava vendo muitas produções artísticas de brasileiros que incorporam essa ideia de deslocamentos para as suas proposições”, destaca.

A proposta é possibilitar o diálogo entre dez artistas e dez curadores/críticos de arte que também se identificam com essa prática de estar sempre em movimento. Caberá a Michelle selecionar os nomes que participarão do projeto.

Como ponto de partida, haverá a escolha de uma obra do artista, mas o debate não precisa ficar restrito a apenas esse trabalho. Michelle Sommer também os deixará livres para decidir de que forma o projeto ocorrerá. “Há uma liberdade para que cada curador/crítico faça essa imersão no projeto do artista e juntos possam decidir como esse trabalho vai ser retornado ao público. Essa dinâmica, essa diversidade pode ser muito interessante para o projeto”, aponta.

O resultado final será publicado em um livro, no fim de 2015, e pode “transbordar” para outras ações, segundo já adianta. Na mesma época, Michelle termina o seu doutorado, que também está ligado, de certa forma, ao projeto do Rumos. Isso porque, na metodologia, ela usa uma prática contemporânea da Teoria do Mover-se. “Como eu estou fazendo uma investigação sobre exposições de arte contemporânea, a ideia é ficar em trânsito mapeando exposições. De Berlim a Marrocos, passando por Buenos Aires, Londres, Paris. Em todos esses lugares, o foco é pesquisar e verificar que tipo de prática curatorial e de espacialização está sendo feito hoje”, conclui.

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