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Rumos 2013-2014: Do visível ao imaginado, a história da Usina de Arte João Donato

Inservíveis ou da Inutilidade das Coisas Deste Mundo e de Outros selecionado: Cia. do Ouriço Quem circula pelas salas da Usina de Arte...

Publicado em 17/11/2014

Atualizado às 21:02 de 02/08/2018

obra: Inservíveis ou da Inutilidade das Coisas Deste Mundo e de Outros
selecionado: Cia. do Ouriço

Quem circula pelas salas da Usina de Arte João Donato, em Rio Branco (AC), pode apreciar grande parte de sua estrutura original, que no passado abrigou uma usina de beneficiamento de castanhas. O que talvez boa parte dos visitantes não imagine é que há muitas histórias por trás dos caldeirões, silos e maquinários que ainda permanecem no antigo galpão.

Histórias das quebradeiras de castanhas e seus filhos, moradores dos seringais em declínio que migraram para os centros urbanos em busca da sobrevivência; de administradores e catalogadoras que trabalharam no galpão quando ele passou a ser usado como “depósito de bens inservíveis”; e de pessoas que por fim participaram da transformação do local, auxiliando na adaptação do espaço para uma escola de arte.

No entanto, em 2012, as memórias até então escondidas na usina puderam ser revividas, e finalmente vistas, na peça Inservíveis ou da Inutilidade das Coisas Deste Mundo e de Outros, da Cia. do Ouriço. O grupo, formado por alunos da segunda turma de teatro, artes visuais e música da escola, resolveu contar a história da Usina de Arte em seu projeto de finalização de curso.

A peça começou a tomar forma a partir das entrevistas com quem participou dos três momentos históricos do espaço: como usina de beneficiamento de castanhas, como depósito de bens “inservíveis” e como escola de arte.

“O prédio ultrapassou os limites do que era possível ser visto e passou a ser visível tudo o que era imaginado: o sertão nordestino, a colocação dos seringueiros e suas festas, as vozes das quebradeiras que cantavam enquanto trabalhavam, as caldeiras queimando e explodindo, a corrente que fechava em definitivo o portão, o longo e silencioso abandono dos objetos e o retorno das vozes daqueles capazes de contar e recriar as histórias de suas próprias raízes se utilizando da arte”, relata o grupo.

No processo de criação, a companhia contou com a parceria do Grupo XIX de Teatro, de São Paulo, que, durante o curso na usina, propôs aos alunos um trabalho de “ator criador”, divisor de águas na formação do grupo acreano. “A proposta era aprofundar a linha apresentada por eles em sua primeira vinda ao Acre, aliada a métodos de pesquisa de histórias de vida para que o espetáculo pudesse ser construído.”
Como resultado, mais do que simplesmente contar a trajetória da usina, o espetáculo contextualizou, econômica e politicamente, um momento importante da história do Acre e que definiu a vida de milhares de brasileiros. “São depoimentos que não constam nos livros acadêmicos e nos documentos oficiais e que revelaram aspectos e perspectivas da história até então desvalorizados.”

Do Acre a São Paulo

Após a conclusão e a apresentação de Inservíveis no Acre, os alunos reuniram-se sob o nome Cia. do Ouriço – o coco duro onde crescem e ficam guardadas as castanhas – com o desejo de levar adiante a peça e amadurecer sua atuação profissional.

Agora, com o apoio do Rumos, a companhia fará nove apresentações em São Paulo, em julho de 2015, inicialmente na sede do Grupo XIX de Teatro, na Vila Maria Zélia. Porém, a ideia é pesquisar outros locais públicos e históricos que tenham passado por um processo de transformação de uso, mas cuja estrutura original tenha sido preservada de alguma forma, assim como a usina. Entre as possibilidades estão o Sesc Pompeia e a Casa das Caldeiras.

O projeto prevê ainda, após a temporada paulista, um intercâmbio formativo com os coletivos Grupo XIX de Teatro, para o aprofundamento do método do ator-dramaturgo, e Os Fofos Encenam, que possui profunda pesquisa sobre o circo-teatro. Por fim, a Cia. do Ouriço voltará ao Acre para realizar oficinas e um bate-papo com artistas de Rio Branco, com o objetivo de multiplicar o aprendizado adquirido em São Paulo.

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