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Rumos 2013/2014: Koellreutter, detonador de processos criativos

Flauta de Kollreutter, exposta na fundação que leva o seu nome “A grande transformação de Hans-Joachim Koellreutter [1915-2005] foi...

Publicado em 18/05/2015

Atualizado às 21:08 de 02/08/2018


Flauta de Kollreutter, exposta na fundação que leva o seu nome

 

“A grande transformação de Hans-Joachim Koellreutter [1915-2005] foi ter sido um detonador de práticas pedagógicas e estéticas muito diversificadas”, afirma Marcos Filho, professor adjunto da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), presidente da Fundação Koellreutter – ligada à UFSJ – e um dos propositores de Koellreutter 100 Anos: Música, Ensino e Memória, selecionado da edição 2013-2014 do Rumos. Com os pesquisadores Regina Helena Alves da Silva e Carlos Kater ele pretende ampliar o acesso físico e digital à obra do compositor e professor brasileiro de origem alemã, um dos personagens mais influentes da arte do país.

>> Ouça uma playlist com músicas de alunos de Koellreutter

>> Leia o texto de Carlos Kater “Por uma Música Sempre Viva”, que aborda o movimento musical fundado por Koellreutter.

“As pedras que lançou ao lago – uma das belas metáforas que gostava de utilizar – movimentaram certamente muito mais a nossa cultura do que imaginamos”, corrobora Carlos, educador, musicólogo e compositor, autor de Música Viva e H. J. Koellreutter: Movimentos em Direção à Modernidade. Ele dá um panorama da produção do músico: “Koellreutter produziu obras num largo espectro de formas, abordagens e estilos. Da fase inicial, que antecede sua chegada ao Brasil em 1937, até Phanta Rei (Tudo flui), de 1994-5, podemos escutar músicas simples, de sabor regional e tonal (praticamente desconhecidas) até ousadas experimentações atonais-seriais, que com o passar dos anos vieram a constituir um modo original de composição, que resultou nos Ensaios Seriais e Planimétricos. Como grande inventor que foi, ele criou tanto um sistema de conceber obras, quanto compôs obras novas neste seu sistema. Muitas delas não são de escuta fácil, fluente, imediata ou direta. Não: tanta novidade demanda novos ouvidos, outras formas de entendimento, posturas inusitadas diante de expressões fora do cotidiano e ainda não familiares”.

Estudaram com o homenageado os músicos César Guerra-Peixe (por sua vez, professor de Jards Macalé), Tom Zé, Rogério Duprat, Caetano Veloso, Tom Jobim e Gilberto Mendes, entre outros. “O conceito maior do nosso projeto, que norteia o trabalho com o acervo, é: Koellreutter como raio de influência”, continua Marcos, “ele conseguiu ser um educador sem impor sua concepção aos alunos de forma doutrinária. Seu legado é presente no acervo em uma quantidade tamanha de CDs, livros e partituras dedicadas a ele, com diversidade notável: de música contemporânea de concerto até música para cinema, TV e música dançante”.

Ainda segundo o professor, o acervo da Fundação Koellreutter sobre o compositor – manuscritos, obras, discos, livros etc. – está sendo higienizado; após essa fase, será catalogado e transferido para uma sala da Biblioteca Central do campus Tancredo Neves da UFSJ, maior do que o espaço de que dispunha no Centro Cultural da universidade e mais propícia a receber pesquisadores. Os materiais também serão digitalizados e disponibilizados em um site.

“Embora Koellreutter nunca tenha sido um objeto de pesquisa oficial para mim, sua trajetória e prática pedagógica sempre foram inspiradoras na minha prática como professor. Assim como ele, tive de conciliar as atividades de educador, compositor e pesquisador musical”, explica Marcos. O contato vai além disso: “Estudei com ex-alunos dele na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), então seus trabalhos estiveram presentes no meu percurso recente”.

Regina Helena Alves da Silva, que compõe o trio de coordenadores do projeto, é historiadora e foi a orientadora de Marcos em seu doutorado. Segundo ele, “seu papel é fundamental para trazer o respaldo historiográfico no tratamento dos documentos, e principalmente para ser uma consultora no campo da memória e do patrimônio cultural, tendo em vista que ela possui vasta trajetória na área. A presença de uma historiadora da cultura ajuda a ampliar o diálogo com a musicologia no campo do tratamento de um acervo tão diversificado”.

Por sua vez, Carlos conta: “Não cheguei a ser propriamente um aluno de Koellreutter, mas aprendi muito com ele. Nossa relação foi inicialmente a de um musicólogo e pesquisador diante de seu rico tema de estudo. Porém, enquanto eu elaborava o seu catálogo de obras, pesquisava, reunia e organizava as suas correspondências, programas de concerto, entre outras coisas, conheci a pessoa que esteve atrás das muitas funções e papéis que Koellreutter desempenhou em sua vida. Compartilhamos chocolates, músicas, ideais, cachaças. Fomos colegas e amigos. E ao longo dos 12 anos em que mantivemos contato frequente, nada no tempo compartilhado pareceu ser grande nem pequeno. Apenas foi e era, o que era e foi”.

Além de renovar o acervo, Marcos pretende produzir conteúdo sobre a memória do autor. “Gostaria de coletar depoimentos de vários ex-alunos ou pessoas influenciadas pelo Koellreutter. Já comecei a fazer isso com José Miguel Wisnik e estou marcando um encontro com vários ex-alunos de Belo Horizonte. Vou tentar um depoimento do Tom Zé, que no âmbito da música popular foi o mais influenciado e reconhecido pelo compositor como discípulo de fato.”

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