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Rumos 2015-2016: Jeguatá

De acordo com o primeiro dicionário guarani, Tesoro de la Lengua Guaraní (1639), do padre jesuíta Antônio Ruiz de Montoya, jeguatá...

Publicado em 07/07/2017

Atualizado às 10:40 de 03/08/2018

Por Camile Busato

De acordo com o primeiro dicionário guarani, Tesoro de la Lengua Guaraní (1639), do padre jesuíta Antônio Ruiz de Montoya, jeguatá significa caminhar, andar, viajar ou passear. Uma das tradições desse povo indígena, o ato de caminhar por longas distâncias remete à busca da “terra sem mal”, a terra da liberdade de todos os homens – conceito que, segundo o historiador e linguista Bartolomeu Melià, atribuiu um caráter de modernidade notável aos Guarani, pois “uma experiência indígena se tornou paradigmática para pensar e trabalhar uma realidade mais ampla e geral, como é o projeto – a utopia – de uma sociedade mais solidária e humana”.

Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, o projeto Jeguatá: Caderno de Viagem busca compreender essa caminhada ancestral. Os artistas Ana Carvalho e Fernando Ancil, na companhia das lideranças Mbya-Guarani Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Ariel Kuaray Ortega – cineastas formados pelo projeto Vídeo nas Aldeias, com quem trabalham desde 2008 –, partiram em janeiro de 2017 da aldeia de Koenju, no Rio Grande do Sul, para Pindó Poty, na Argentina, passando por ruínas jesuíticas e outras aldeias Guarani no caminho.

[caption id="attachment_98759" align="aligncenter" width="567"]Aldeia Koenju e ruínas jesuíticas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, ponto de partida da travessia realizada pelos artistas do projeto Jeguatá Aldeia Koenju e ruínas jesuíticas de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, ponto de partida da travessia realizada pelos artistas do projeto Jeguatá | fotos: divulgação[/caption]

 

“Para nós, o que estava em jogo era, de alguma forma, relacionar espaços e tempos cultural, religiosa e historicamente diversos, numa tentativa de construir, junto com Ariel e Patrícia, outra cartografia possível, outras rotas, em que pudéssemos fazer vislumbrar outro território – poético, mítico, atual – através do confronto de olhares, línguas e culturas”, explica Ana.

Ao longo do percurso, os viajantes iam coletando tudo aquilo que pudesse indicar sua trajetória: recortes de jornal, fotografias, postais, mapas; objetos, imagens e narrativas. Em paralelo, trabalhos de fotografia e vídeo foram sendo produzidos, por meio de câmeras de celular, polaroides e rolos de filme de médio formato.

“As polaroides foram nossa porta de entrada nas comunidades. Fazíamos as fotografias e as entregávamos imediatamente às pessoas fotografadas”, diz Ana. “As pessoas posavam para a foto, que, uma vez revelada sob o olhar curioso de todos, iria ou para dentro de um livro ou para junto de objetos de valor da casa. Essas polaroides passaram também a funcionar como cartas. Tirávamos fotografias numa aldeia e as levávamos para outra para ser entregues a parentes distantes ou há muito não vistos. Elas foram se tornando parte importante do trabalho. Através delas compreendíamos as relações nas aldeias, os trânsitos, as histórias e os territórios.”

A feitura de um caderno de viagem em tal contexto foi o que melhor abarcou a experiência da travessia. Atualmente, os idealizadores do projeto se dedicam a traduzir o material audiovisual – com a colaboração de Leandro Kuaray, tio de Ariel – e a organizar e editar as fotografias e os demais materiais coletados para o caderno.

O resultado será apresentado em um blog, que abrigará o caderno de viagem e as narrativas audiovisuais. A ideia também é criar uma versão impressa do caderno, bem como uma instalação com fotografias, vídeos e objetos coletados ao longo da travessia.

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