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Rumos 2015-2016: O Mal Entendido

A escritora Sheyla Smanioto dá continuidade à tetralogia iniciada com o livro Desesterro, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2015

Publicado em 29/08/2017

Atualizado às 10:41 de 03/08/2018

Por Patrícia Colombo

“Sempre estiveram unidos, para mim, o corpo e a página. Desde a adolescência, escrever é um dos poucos momentos em que minha alma e meu corpo concordam, uma espécie de meditação fundamental”, diz Sheyla Smanioto, autora do romance Desesterro, que levou o Prêmio Sesc de Literatura em 2015 e deu início a uma tetralogia. Agora, com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural, a autora prepara o livro O Mal Entendido, segunda parte da série.

Se Desesterro tratava da migração nordestina nas periferias de São Paulo entre as décadas de 1960 e 1970, a nova obra aborda, de forma indireta, a ditadura militar no Brasil durante os anos 1970 e 1980 e seus reflexos na cidade de Diadema, também no estado de São Paulo. “Quando terminei Desesterro, senti que ele continuava. Os personagens ainda me olhavam como se eu lhes devesse algo”, comenta Sheyla. “A intuição se confirmou quando, no projeto do segundo livro, alguns paralelos foram sendo estabelecidos.”

“A ideia inicial era trazer uma versão arquetípica da história da ditadura militar no Brasil, assumindo o ponto de vista de uma cidade de desova. O assombro com o corpo morto a céu aberto se conectou, dentro de mim, com o assombro de viver em um corpo morto nas situações de abuso”, explica. “Foi onde encontrei o livro: a história de uma cidade em que as mulheres não têm o próprio corpo.”

A narrativa acompanha uma adolescente que, após uma situação de abuso, vai morar em um canto de sua própria composição física. Na metáfora, considerando o corpo de cada mulher uma paisagem, o dessa adolescente invadida representa a cidade de desova de um regime autoritário, tomada pela morte.

“Meu chamado é pela história, pela palavra poética, pela narrativa. Na minha percepção, não há textão [em redes sociais] que substitua uma boa cena, inclusive no quesito informação”, diz a escritora.

Quando terminar o livro, Sheyla planeja oferecer oficinas de criação literária por correspondência. “Os encontros que tive com escritores, mesmo iniciantes como eu, fizeram diferença na minha trajetória como contadora de histórias. Espero poder fazer o mesmo por quem sente que precisa de um empurrãozinho.”

O objetivo é oferecer dez vagas por semestre a pessoas em condições mais “vulneráveis”, como a autora classifica. A ideia surgiu de uma experiência pessoal, quando, durante meses, ela trocou cartas com um conhecido seu que está preso e que queria contar sua história. Sheyla lia os textos recebidos e os devolvia por correio com suas observações. Ela ainda pretende documentar a troca em vídeos para a web, de maneira a ilustrar a experiência emocional do processo.

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