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Editora em Heliópolis publicará 50 livros de autores da região

PC é o idealizador da Editora & Gráfica Heliópolis, projeto que tem como principal objetivo a publicação de obras e títulos de escritores da região

Publicado em 07/08/2018

Atualizado às 14:25 de 18/11/2019

Por Milena Buarque Lopes Bandeira

“Aqui é um ninho de talentos. Eles precisam apenas de incentivo para alçar voos maiores”, diz o escritor Paulo Cesar Marciano sobre Heliópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo, na Zona Sul da cidade. PC, como é conhecido, é o idealizador da Editora & Gráfica Heliópolis, projeto que tem como principal objetivo a publicação de obras e títulos de escritores da região. “A filosofia que seguimos é a de empoderar e facilitar a publicação do autor.”

Selecionada pelo Rumos 2017-2018, a ideia de PC, que também é agente comunitário, foi tomando forma diante de sua própria tentativa de publicar seu primeiro romance, em 2009. “Fiz como todos fazem no começo: imprimi uma variedade do texto original e saí em busca de uma editora para publicar o livro. Essa busca durou anos, desanimei algumas vezes, mas logo voltava a correr atrás e buscar oportunidades. Embora tenha conseguido avançar na negociação com uma editora em 2016, eu já estava desenvolvendo o projeto com a ideia de poder ajudar outras pessoas que enfrentavam o mesmo problema pelo qual passei”, conta o escritor. Segundo ele, a lógica atual do ramo editorial acaba deixando de fora do mercado muitas obras de qualidade.

Ao assumir como responsabilidade a publicação de futuros autores, PC começou a mapear os escritores e as escritoras de sua região e a traçar uma rede de possíveis apoiadores. A Editora & Gráfica Heliópolis tem como meta inicial a publicação, em um ano, de 50 títulos que já estejam prontos, sem restrição de idade, gênero e etnia e sem estabelecer um nicho específico. “O único critério é a avaliação para averiguar se o autor ou a autora realmente têm a necessidade do apoio de um projeto social para conseguir lançar a sua obra. Também estamos preocupados com o conteúdo e a qualidade textual dos exemplares. A nossa equipe é um coletivo, portanto todos nós vamos atuar além de nossas funções, um ajudando o outro de forma cooperativa”, explica.

O escritor PC é o idealizador de uma editora e gráfica que publicará 50 obras de autores de Heliópolis
O escritor PC é o idealizador de uma editora que publicará 50 obras de autores de Heliópolis

Além da produção e da publicação dos livros, o projeto propõe o trabalho de capacitação de escritores, para que eles tenham conhecimento inicial em arte gráfica e editoração. Eventos com o intuito de difusão e fomento à leitura também estão previstos. “Heliópolis é um local que vem se desenvolvendo muito nos últimos anos por meio da educação e da cultura. Temos três bibliotecas na comunidade e uma nas mediações. Entre as localizadas aqui, duas são municipais e uma é comunitária. A maioria das escolas da região tem suas bibliotecas. Os locais estão aí, agora a ideia é interligá-los e fazer com que as pessoas participem cada vez mais. Vamos trabalhar para fomentar também a escrita”, diz PC.

Em um país em que 44% da população não lê, segundo dados da última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, a iniciativa de uma editora e gráfica em Heliópolis se reveste de uma função social ainda mais simbólica. “Estamos sendo bastante procurados. Muitos desses escritores estavam com suas obras paradas e agora voltaram a trabalhar nelas após tomar ciência do nosso surgimento”, conta. “O projeto vem para suprir um pouco essa necessidade, para transformar os sonhos desses escritores na realidade de ter seus livros publicados. Para tornar o dom da escrita não apenas um hobby, mas também uma fonte de renda. Que eles possam inspirar milhares de outras pessoas a adotar o gosto pela leitura.”

Segundo o escritor, o bairro tem se fortalecido culturalmente no teatro, na música, principalmente por meio do hip-hop, no rádio e no audiovisual. A carência, aponta, está justamente no registro literário. A Editora & Gráfica Heliópolis pretende dar nome e visibilidade a alguns dos mais de 40 mil habitantes da região por meio de um dos objetos mais representativos da cultura e do reconhecimento da identidade: o livro.

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